Natal, 15/10/2008.
Na realidade, as palavras líquidas solidificaram-se com a brisa fria que falaram os narizes ... os retrovisores avistaram a alegria do eu-coração deixadas para trás ... à frente, a vida viva friando em mim ... friei... agora é arrancar a última folha do mata-borrão e vislumbrá-lo límpido, vazio de eus parte ilhados ... a ilha solidão volta-se para seu oceano de eus eu-mesmo e em mim solidifico o coração que estava amolecendo pela brisa quente.
Ainda tem brisa, é certo, mas sobrou apenas o sal mar .... o sol mar e o lua mar esvaeceram-se com as pretas palavras sólidas na tela branca na proposta de amizade ...
Sim ... amizade ... mas a brisa quente soprada pela pele das amizades não amolecem o coração, não deste jeito. Decido, então, não morrer coração aos poucos com a esperança de ois de bares e abraços fraternos ... fujo.
E fugir é um respeito a mim ... respeito-me acima de tudo e aos outros, contudo.
Ainda estou no momento de perceber quais coisas serão recolocadas em seus lugares devidos porque as baguncei sob o calor da brisa quente e das palavras líquidas ... enxugo do chão as palavras líquidas, ligo o aquecedor para aquecer a brisa fria que sopra a casa e a alma, a carne e as entranhas de mim ...
Desenlacemos as mãos ... vou, novamente, como Lídia, ter ao rio ... Iemanjá não merece ver-me como estou agora, não! Por certo ela me afagará amanhã, salgarei minha carne em suas águas ... vou ter com Janaina ... vou ter com minha inseparável solidão uma prosa sobre nós dois ... estamos numa relação de interstícios, eu e a solidão ... talvez Odoiá tenha algumas respostas para esta mente perturbada pela brisa fria, pelas palavras sólidas, pela realidade que insiste em bater à porta e deixar o sentimento passar com o coração que bate no mundo.
Bato-me.
E olho pela janela a vida apagada ... o jardim apagado ... levanto-me ... caminho pela casa ... encontro a tomada que dá luz ao jardim ... observo-o pela janela ...
Lá fora, o pequeno coqueiro balança preto no muro branco e desenha a esperança de uma solidão alegre .... As folhas desenham uma boca de dor ... que grita palavras ininteligíveis .... um cisne branco de barro assiste a tudo impassível ...
... eu assisto a tudo impassível ... estou, ainda, inerte ... hirto, por certo, mas inerte ...
Chamo para acompanhar a mim e a solidão uma taça de vinho .... converso com ela palavras secas, vermelhas, quase negras ... na boca, a sensação de solidão é amortecida pelo álcool vermelho das uvas amassadas ...
Olho para o corredor .... quem está lá? A solidão amortecida pelo álcool ... saiu de minhas narinas que não conversam mais brisa quente e apenas murmuram secas vermelhas palavras ...
Penso: solidão .... estou de volta ... venha ter comigo, como temos tido um ao outro nesses últimos tempos ... venha ... estou, de novo, pronto para ti.
E ela vem ... somos simbióticos ... nos entendemos ...
Começamos a conversar, relembramos nossos momentos de separação .... partilhamos nossas palavras secas com a taça e com o cigarro que assistem a tudo sobre a mesa. Ela, bêbada de uvas vermelhas amassadas, ele cochilando no cinzeiro cheio ... e me lembro que os ombos suportam o mundo ... enquanto assistimos, os quatro, a verdade de Drummond bater à porta e gritar que ...
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
... mas me lembro, também, que aqui, em Natal, chove à bessa!
E espero ... espero ... espero ... espero ... espero .....
Consciente de que palavras líquidas inundarão o coração árido para que nele brotem novos coqueiros que balançarão com a força de nova brisa quente ....
... e não estou com pressa, porque já tenho os amigos que quero em meu velório.
Defeitos, desfeitos ou (já) feitos?
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Nesse momento, eu mesma não tenho certeza de muitas coisas, mas tudo que
sei a meu respeito é muito doloroso, senão feio demais. Assim, aqui chego
para con...
Há 12 anos