quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Já tenho os amigos que quero em meu velório ...

Natal, 15/10/2008.

Na realidade, as palavras líquidas solidificaram-se com a brisa fria que falaram os narizes ... os retrovisores avistaram a alegria do eu-coração deixadas para trás ... à frente, a vida viva friando em mim ... friei... agora é arrancar a última folha do mata-borrão e vislumbrá-lo límpido, vazio de eus parte ilhados ... a ilha solidão volta-se para seu oceano de eus eu-mesmo e em mim solidifico o coração que estava amolecendo pela brisa quente.
Ainda tem brisa, é certo, mas sobrou apenas o sal mar .... o sol mar e o lua mar esvaeceram-se com as pretas palavras sólidas na tela branca na proposta de amizade ...
Sim ... amizade ... mas a brisa quente soprada pela pele das amizades não amolecem o coração, não deste jeito. Decido, então, não morrer coração aos poucos com a esperança de ois de bares e abraços fraternos ... fujo.
E fugir é um respeito a mim ... respeito-me acima de tudo e aos outros, contudo.
Ainda estou no momento de perceber quais coisas serão recolocadas em seus lugares devidos porque as baguncei sob o calor da brisa quente e das palavras líquidas ... enxugo do chão as palavras líquidas, ligo o aquecedor para aquecer a brisa fria que sopra a casa e a alma, a carne e as entranhas de mim ...
Desenlacemos as mãos ... vou, novamente, como Lídia, ter ao rio ... Iemanjá não merece ver-me como estou agora, não! Por certo ela me afagará amanhã, salgarei minha carne em suas águas ... vou ter com Janaina ... vou ter com minha inseparável solidão uma prosa sobre nós dois ... estamos numa relação de interstícios, eu e a solidão ... talvez Odoiá tenha algumas respostas para esta mente perturbada pela brisa fria, pelas palavras sólidas, pela realidade que insiste em bater à porta e deixar o sentimento passar com o coração que bate no mundo.
Bato-me.
E olho pela janela a vida apagada ... o jardim apagado ... levanto-me ... caminho pela casa ... encontro a tomada que dá luz ao jardim ... observo-o pela janela ...
Lá fora, o pequeno coqueiro balança preto no muro branco e desenha a esperança de uma solidão alegre .... As folhas desenham uma boca de dor ... que grita palavras ininteligíveis .... um cisne branco de barro assiste a tudo impassível ...
... eu assisto a tudo impassível ... estou, ainda, inerte ... hirto, por certo, mas inerte ...
Chamo para acompanhar a mim e a solidão uma taça de vinho .... converso com ela palavras secas, vermelhas, quase negras ... na boca, a sensação de solidão é amortecida pelo álcool vermelho das uvas amassadas ...
Olho para o corredor .... quem está lá? A solidão amortecida pelo álcool ... saiu de minhas narinas que não conversam mais brisa quente e apenas murmuram secas vermelhas palavras ...
Penso: solidão .... estou de volta ... venha ter comigo, como temos tido um ao outro nesses últimos tempos ... venha ... estou, de novo, pronto para ti.
E ela vem ... somos simbióticos ... nos entendemos ...
Começamos a conversar, relembramos nossos momentos de separação .... partilhamos nossas palavras secas com a taça e com o cigarro que assistem a tudo sobre a mesa. Ela, bêbada de uvas vermelhas amassadas, ele cochilando no cinzeiro cheio ... e me lembro que os ombos suportam o mundo ... enquanto assistimos, os quatro, a verdade de Drummond bater à porta e gritar que ...
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
... mas me lembro, também, que aqui, em Natal, chove à bessa!
E espero ... espero ... espero ... espero ... espero .....
Consciente de que palavras líquidas inundarão o coração árido para que nele brotem novos coqueiros que balançarão com a força de nova brisa quente ....
... e não estou com pressa, porque já tenho os amigos que quero em meu velório.

Saudade do futuro

Natal, 14/10/2008.

Saudade é um sentimento estranho, esquisito, estapafúrdio, esdrúxulo, esqualquercoisa. É saudade e ponto. Definir o que se sente ao sentir saudade é pensar que se está longe aquilo que se quer perto ... é olhar para o passado e querê-lo de volta ... é é é ...
Mas estou sentindo uma saudade minha, uma saudade de um futuro pensado, desejado, almejado, alvejado ... é ... alvejado. É isso.
Não estou com saudade de ouvir os narizes conversando brisa quente, não tenho saudade das palavras líquidas, não tenho saudade dos toques. Não, não tenho. Quero-os, apenas. E me conforto com o meu querê-los. Tenho é saudade do que passei a sonhar quando percebi que os aries sopravam esperança ... quando percebi que a solidão estava sorrindo para mim um adeus de alegria ... quando notei que o coração não estava morto .. e quando percebi que quando vim a ter esperança, eu ainda sabia ter esperança ...
Percebi, também, que os aries sopravam mãos enlaçadas fugitivas do céu ... livres a brincar na água das nuvens antes de cair na terra e perceberem que tocavam a realidade ... realidade que foi real por 4 meses, 3 semanas e 2 dias que duraram a realidade de 113 minutos. Cada um dos quais em que se percebia que
Hoje,
Estar
Livre
Implica
Osmose ... e isso não é uma contradição ... é uma contração ... enlacemos as mãos na realidade então ... na realidade que pode ser raridade, sanidade ... e percorrer a idade.
Nesta cidade, não vamos fazer como Lídia à beira do rio, que vai ter ao mar, e nos deixar ouvir que
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos ...
... simplesmente porque não vamos ter-nos ao rio, teremo-nos ao mar, adiante ... onde tudo é sal e brisa, sol e brisa, lua e brisa e os aries sopram brisas quentes em meio a palavras líquidas.
Não vou, eu, de cá, tergiversar ... não, não vou.
Não tergiverso há tempos, porque aprendi a vida viva vivendo em mim ... e na solidão compartilhada que me acompanha ... apreendi ambas, ambas, vida e solidão, contenho-as em mim, assim, pleonasticamente expressas em um ser solidão-viva, que vive-solidão ... e espera, dormindo espera, com uma grinalda de hera.
E ... se antes era ignorado, hoje, sem saber que intuito tem, rompeu o caminho fadado e, pelo processo divino que faz existir a estrada, trouxe aries de saudade ... saudade de um futuro que bate à porta, com o vento que sabe passar ... e me deixa a sensação de que eu, não, não sei passar, porque, ao passar, passa comigo meu coração que bate no mundo. Passamos juntos, sempre. Carrego-o em mim. Somos um eu-coração. E enquanto existir a união eu-coração, existirá vidavivavivendoemmim, que é mais vida quando, por osmose, sinto aries a soprar brisa quente, devo confessar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Descompassos e lapsos relapsos

Natal, 13/10/2008

Mergulhado no coração batendo no mundo, mundei. E com todas as coisas mundanas esperei que o mundo enxergasse esse coração que nele batia. Ofereceu-me, o mundo, um mundo de coisas para bater. Braços coxas pernas pés mãos bocas. Ocas! Parei então para apreciar todas as coisas mundanas dadas pelo mundo imundo. Imundei. Pisei na areia fofa umedecida pela garoa que presenteou o sábado. Sabadei.
Senti as emoções que são sentidas na carne. E, entre braços coxas pernas pés mãos bocas, carnei. Não me preocupei de mim, ocupei de mim, ocuparam-se de mim.
E eu deixei.
Gostei.
Gozei ... e só.
Carnado, fui ver a vida por um outro prisma. Encontrei amigos que amigaram,
encontrei bêbados que bebaram,
encontrei gentes que gentaram
... gentei também.
Até perceber que havia gente que gentava só comigo. Todas as gentes não eram gentes exceto eu ... e a gente. Gentamos, então.
Antes de tudo, palavras, palavras que procuravam entender o porquê de se querer gentar junto, gentar a dois ... palavras que fizeram a gente se sentir gente. Foi isso.
Getamos, gentamos, gentamos ... as palavras mostraram as almas da gente ... a calma da gente. E sorrimos. As palavras tornaram-se líquidas, trocamos nossas líquidas palavras em embalagens de abraço, enquanto os narizes conversavam brisa quente ...
palavras líquidas se misturavam em nós ... estávamos em nós ... liquefeitos ...
Perdemo-nos no tempo e no tempo perdido nos encontramos almas perfumadas ...
Brisa quente, palavras líquidas e almas perfumadas recobraram a esperança de ver a solidão ser parte ilhada ...
Ilharemo-nos, conosco.
Isso.
Tudo é dito num plural de mim mesmo, sei. Não posso dizer que as ilhas de eus que estão arquipelagando-se em mim mesmo são, também, suas ilhotas se juntando num delta. Não posso ... ainda.
Mas como tudo que é dito aqui é dito em mim, digo-te. Digo-me. Poderei. E se não puder, poderei assim mesmo.
Voltei a sentir a vontade de ter as palavras líquidas na minha boca, voltei a sentir a vontade de sentir o perfume daquela alma perfumada juntando-se a minha, voltei a ter vontade de deixar os narizes conversarem brisa quente.
Estou vivo, em mim.
E vivo, conosco.

domingo, 5 de outubro de 2008

Clarices

Natal, 05/10/2008.

É ... você pode estar pensando que sou pedante. Acertou. Preciso escurecer minha alma límpida com as cores que o mundo quer: rudes. Nada de tons pastéis para sobreviver à escuridão que a vida me obriga a entrar. Simples assim. Sem dor, apenas reconhecimento.
que minha solidão me sirva de companhia
que eu tenha a coragem de me enfrentar
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo
Foi o que disse Clarice, certa, como sempre esteve. Estar pleno de tudo é o que sustenta o meu pleno viver e me enfrentar é a forma que encontrei de enfrentar os outros que me querem em frente. Sigo sem rumo no rumo da subsistência. E sofro pouco, mesmo que o pouco seja demais para mim.
Há tempos a solidão não dói, conforta. Estar só tornou-se uma forma de sentir-me completo, repleto de mim por todos os lados, ilhado em mim mesmo e respirando o ar puro da vida escura. Vivo, pleno. Saber disto é entender e compreender que o nada é tudo, e o tudo é o nada e que eu nado em tudo e em tudo, nada. Que nada!
Em tudo, tudo.
Acordo todas as manhãs para descobrir que estou feliz, que fiz o que quis de minha vida e tornei-me eu em mim, comigo, certo e incerto, mas eu mesmo.
Assim, enfrentei-me e reconheci em mim um porto. Um porto seguro que conforta a si e a outros na vida escura que assola todos os nós de nós mesmos. Somos escuros, obtusos.
Nada é preciso dizer para nós quando sabemos disto. Nada precisamos cobrar de nós mesmos quando descobrimos que nos cobrar é usurpar nossa própria capacidade de sermos o que queremos ser. Basta que os outros o façam. Deixe-os ocuparem-se de mim e ficarem a pensar quem sou eu. Não sou, estou. E isto me basta.
Saber ficar com o nada, como queria Clarice, é saber reconhecer em si o vazio de uma existência plena. É entender que a vida é isso, e é nem pouco nem demais para mim. É vida, apenas.
Voltar atrás e
Irritar-se com a
Dor sentida não
Adianta, atrasa, arrasa...
... não me esqueço mais de mim, não sinto saudade dos anos em que festejavam o dia dos meus anos, não sinto saudade de um eu morto a tapas e pontapés. Não, não sinto.
Não sinto vontade de voltar atrás, de consertar, quero é concertar ... e ouvir o barulho de minha sinfonia tendo o mar como companhia... e ele está logo ali. Perto de mim, em mim. E eu sei disso.
Quando me lembro da tristeza que trouxe-me a solidão, regozijo-me. Não, não estou louco! Regozijo-me por ter tido o prazer de sentir a dor e entender que dela precisava para estar aqui agora, estar assim agora, e não sentir a dor de outrora. Mesmo sabendo que e outrora eu era de aqui, não me sinto regresso ou estrangeiro, me sinto egresso. Egresso de mim.
Assim, como tudo, simples. Ponto.
Redescobri-me em mim, redescobri um eu que eu queria eu. E fico feliz. Recobro pedaços mortos de mim e não oro por eles, não os ignoro também. Apenas recobro. E não cobro. E assim vou seguindo o meu rumo, o rumo do qual extraio forças para a subsistência e no qual subsisto ... e insisto em arrancar os cistos, em extrair de mim os amálgamas e quelomas de um eu ilhado, cercado de outros eus. Aperto cada furúnculo até que jorre apenas o sangue vermelho, sem o pus amarelo. Espero, tranqüilamente, a cicatrização e sigo em frente, não mais inerte, mas hirto e em passos largos e, a cada passo, redescubro-me.
Sou, como Clarice, um coração batendo no mundo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Coaxou ... e foi-se.

Natal, 30/09/2008.

A gestação foi breve, seis dias. O girino em segundos transformou-se num enorme sapo a coaxar pela casa toda. Coaxava na sala, no quarto, na cozinha, no carro, na rua... saia da casa para invadir o coração, a alma e tornar tudo um brejo cheio de lama ... e de coaxos. O som barulhento e sem sentido acabou por arrefecer qualquer sinal de vida deste gestante em recuperação ... recuperação do susto, do sopro na vida ... era o próprio lobo mal a assoprar e assoprar a casa dos três sapinhos coaxantes ... derrubou as palhas, derrubou as madeiras e deixou os tijolos abalados ...
... era o momento de a vida fazer eco e, no eco da vida, a ida .... adeus.
Sinceridade na tela do celular: “Não sei ... mas não senti como pensei .... Não posso negar que estava mais empolgado. Me desculpe. Sejamos amigos”
- Por que isso? (a pergunta veio celularmente)
- Desencantei.
- Estou acostumando-me com decepções ...
- Pense que desta vez foi, pelo menos, com honestidade.
E foi assim ... os coaxos deram trégua ... a solidão sorriu e disse que não tinha me abandonado .. estava lá, à espreita, esperta como sempre.
À noite, justamenteumalindaintransitivaamiganuncaausente com sua solidão própria, se junta a mim, com minha solidão própria. Éramos quatro ... e fomos para a vida solteirar e ver que solteirando estamos inteiros, apesar de solteiros.
Terra, o caminho era de terra .... e o som, de cafuçu. Tudo bem, estávamos os quatro cafuçando a vida mesmo ... cafuçamos solteiros e inteiros .... ninguém conseguiu quietar ou apagar o facho ... cafuçar é ter quase a certeza de que o facho não se apaga .... e a cerveja era sol ... e queríamos lua ao luar, nuas ao luar ... na verdade cafuçar foi quase uma imposição ... fomos no impulso, mas apenas nós quatro tivemos pulso para cafuçar como proposto.
Ficamos ... o dia queria clarear ... e a gente queria que aquela noite fosse o nosso dia. Não foi... mas o dia foi de nós quatro ... de falar da gente ... de gentar ... gentamos os dois (ou melhor, os quatro) e ficamos com a impressão de que tudo estava bem. Separamo-nos. Foram dois pra lá, dois pra cá .... solteirar.
A solidão garlhalou, quase zombou de mim ... ms ela é companheira, brinca de brincar comigo, nos entendemos.
Enrolei-me em seus braços ... sorrimos .... ambos, solidão e eu. Queríamos um terceiro elemento, um facho de luz ... com o qual pudéssemos solteirar. Falei: solidão, vou só ... deixei-a ... e solteirei por um segundo .... ( e olha que estou falando de um segundo mesmo!)
Separei-me da pressa e voltei meus olhos para o certo que é incerto, que faz certo dentro da incerteza da vida ... fui ...
Marcamos no mesmo lugar. Fizemos as mesmas coisas, duplamente.
Saciados, os três: solidão, eu e a incerteza certa, voltamos cada qual para sua vida .... uma vida de cada e de qual ... todos os quais e cadas na vida solteira, vida de solteirices.
Sempre que penso no
Ontem, lembro-me da
Lamúria que é ficar a pensar
Tanto nas coisas
Eternas por um segundo, por um minuto, mas eternas
Internamente e sobre as quais
Raramente se pensa em
Acompanhar para todo o sempre,
Raramente se quer para todo o sempre como companhia.
... não importa. O eterno deve ser eterno, deve ser éter na mente para o sempre de um segundo. Deve ser tudo no nada da vida .. e tem-se de reconhecer que a ida é imprescindível para o movimento cíclico da vida ...
é ... a vida ecoa ... e seu eco retorna apenas a ida, porque o vê, sim a letra vê, se perde no vê do vento – seu irmão gêmeo, ambos fricativos sonoros univitelinos, que se irmanam na distância entre o som que emito e o retorno que tenho, no eco.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

E agora, o que sinto?

Natal, 23/09/2008.

Sinto a realidade, que é sempre mais ou menos do que queremos, mas ainda assim a queremos, real. É isso. Sinto o real, o palpável, o certo ... e o incerto e a incerteza, assim, femininamente indecifrável porque real, leal. Leal às observações da pele, às emoções que emanam de um nãoseioquê de coisas incognoscíveis por si mesmas. Coisas que passam pela cabeça, coisas que coisam as coisas das coisas da gente. Que coisa!
Na idade adulta, quando descobrimos que amamo-nos muito quando meninos e seguimos outras afeições e conservamos no escaninho da alma a recordação de nosso amor antigo e inútil, as coisas são apenas coisas. E as sentimos sem querer entender muito bem o que são, porque indeterminadas pelas sensações que causam, pelas sensações que arrefecem-nas com a brisa e nos deixam sentindo-nos como que invadidos de nós, de nossa realidade e de nossos sonhos infantis esgarçados pelos anos que passamos na vida útil de uma existência inútil.
Apenas estamos ... como se o estar fosse a consolidação de uma eternidade de um dia, o que já basta. Bastaria um minuto, apenas um minuto marcaria ardilosamente retilineamente cada estado loucamente ontológico de um ser adulto que experimentasse esse estar. E estou estando esse estar.
Um estar de definições indefinidas, de desejos escondidos em gestos de carinho e carinhos que gestam desejos ... é isso ... tenho desejos gestantes... fetos de um príncipe-rei ou girinos de um sapo, não sei. Mas gesto-os .... alimento-me dos momentos infinitamente finitos para alimentar não o eu, mas o feto-desejo. E espero, enquanto vejo a solidão acenar, que o feto-girino cresça ... e se transforme para mim. Simples assim.
Que sinto, então? Agora apenas sei.
Amanhã, talvez, sentirei no ventre os chutes do feto-girino crescido,
Depois de amanhã, talvez, ouvirei os gritos de um bebê-anuro,
Depois de depois de amanhã, talvez, seja tempo demais para se discutir agora.
E agora? Sei não ... mas sei que não sei. E isso basta.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Braços sonoros, imagens acústicas e restos de mim.

Natal, 22/09/2008.

O conforto veio em forma de palavras escritas na tela de um celular quebrado. Não importa, quebrado foi o ciclo que se instalara nos interstícios de um eu casado com a solidão. Bastou. Chegou aos olhos, estendeu-se aos lábios e soprou com brisa de mar calmo a alma do eu que parece dar início à separação consensual da solidão. A solidão, então, não fica triste. Recolhe-se ... voltará, por certo, depois ... depois de tudo o que está por vir. Ela, amiga de sempre, entende que seu tempo está acabando .. e não sofre. A solidão não sofre, apenas não deixa sofrer ... tem função utilitária.
Bastou para a manhã um bom dia com beijo, escritos, ambos, beijo e bom dia, em letras celulares. Para a tarde, um boa tarde com beijos, igualmente celulares. Para dar início à noite, letras celulares não seriam suficientes. Palavras, ditas, celularmente deram o tom de uma noite de sorrisos pela metade ... as imagens sonoras não foram, exatamente, imagens de conforto ... desconfortaram, mas deixaram para o amanhã o conforto de ontem, num encontro de pele marcado celularmente. Apagaram-se às 22h30 ... palavras celulares de saudade e lembranças de beijos e cheiros reais deram o tom do conforto ontem sentido na pele, hoje sentidos no celular que confirmam o amanhã de sentir na pele.
Instala-se, na libra, a dualidade geminiana ... no trabalho, brigas, nas brigas, trabalho ... no íntimo, eu singular, eu plural, eu de sis, eu de outros ... outros eus, mas são para amanhã ... eus e outros, amanhãévinteetrês ... são oito dias para o fim do mês ... (na verdade sete, setembro ... mas como o amanhã ainda não é hoje, conta-se-o, portanto, oito mesmo).
Hoje, então sou o eu, apenas. O eu que quer uma amiga justamente uma linda intransitiva amiga nunca ausente ... pelo celular, nos vemos acusticamente, no bar, pessoalmente.
Falamos de trabalho: caralho! Falamos de outras coisas ... caralhos? Também! Mas pouco, porque tínhamos eus para nos preocupar e os falos foram postos de lado ... mas não lado a lado .... de lado, mesmo.
Observo e vejo um olhar perdido. Uma vista que se perde na escuridão de uma indecisão sobre o que é este chega, um momento ... ela tenta tergiversar. Insisto. Quero saber de você ... to aqui, em mim ... ... ... tergiversando ... ... tergiversando ... Reinsisto. Sou incisivo (ou seria invasivo?)
Bem, não quero mais me preocupar com coisas banais, quero sentir a proteção que tenho por direito e ponto. Estou assim. Tiro o foco de meus objetivos para ter foco em mim.
Digoótimo.
Falamos sobre o divã ... isso e aquilo, o momento de se respeitar e deixar os eus em nós nos guiar pelos eusdenósmesmos, assim, juntinho para dar a impressão de que todo o arquipélago que somos é uma ilha ... sonífera ilha, que descansa os olhos, sossega a boca e enche de luz os eusdenósmesmos. Justamenteumalindaintransitivaamiganuncaausente tinha olheiras em torno dos olhos que passaram a ver um mundo antes sentido e agora admitido. Olheiras oriundas de mergulhos em si, mergulhos em outros sis e mergulhos em nada. Mergulhos que se valorizaram apenas por serem mergulhos em mim, no outro e trouxeram a descoberta de que se basta a si. Agora o seu complemento não é complemento, é adjunto adnominal, adverbial, adcorporal, adalmal, adpeleal, adqualquerporra, adporranenhuma, mas ad e junto. Virou intransitiva. Amei!
E amei porque ela está descobrindo que amar é também um verbo intransitivo. Ama-se porque se ama. Ponto. O amado não é complemento, é adjunto. Sorri. (a língua é uma coisa legal, quero ver você descobrir aqui quem é que sorri ... você num acha o sujeito porque tem dois sujeitos aqui na brincadeira, e eu não vou dizer qual dos dois sorri – talvez eu tenha querido dizer que sorriram ambos, e tenha unido no sorri a dúvida para você se matar para descobrir – fiz de propósito)
E o resto? O resto, como os outros, são os restos e só ... porque já conhecemos muitas gentes, gostamos de algumas gentes, mas depois de alguns vocês, os outros são os outros e só... e outros vocês chegarão para provar que os outros que estão no passado serão sempre os outros, o presente é presente, o passado, passado e, enquanto o presente não se torna passado, as gentes do presente relegam à sombra as outras gentes ... até que outras gentes apareçam ... e tornem as gentes de hoje, ontem. E todas as gentes podem, sim, ser amadas e tudo pode acontecer ...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Nos braços de mim mesmo ...

Natal, 22/09/2008.

Nadei, nadei ... e mergulhei em mim. Em mim personificado no outro, no outro que me dava geminianamente o prazer de estar comigo me sentir eu, como uma ilha cercada de mim por todos os lados.
Lados que sempre vi e sempre senti, mas estavam tão inseridos em mim que não os podia enxergar ou sentir ... senti ... e senti ... senti o prazer de me ver a mi mesmo no outro, e o outro em mim ... sem perguntar os porquês de estar em si, ambos em si ... um si plural, e único, e plural ... uns sis de reticências.
E para que servem as reticências nos sis? Para que o tempo possa invadir os meandros de cada si e tornar o si sis no tempo. No tempo que bate à porta e diz cheguei ... e entra sem pedir licença, porque não precisa.
Não precisa porque vai entrar e vai fazer da ilha um continente, um continente cheio de novidades, de progresso, de dor, de sofrimento e não vai se desculpar.
Mas será que o que
Antes se pensava não era apenas
Ranço do passado que,
Como dizem, está à
Espreita de uma
Loucura, de uma janela para quebrar,
Ou de uma porta entreaberta para invadir? E invadir sem pedir nada, sem falar nada, sem questionar nada... simplesmente uma porta ou uma janela para a alma de um ser que, ilhado, se sente irado e faz amizade com a solidão que também não pede nada ... e não dá nada ... e nada, nada com o tempo que entra e levanta as saias do pudor ... entra .. vento, brisa ... e deixa o ser, ilhado, na frisa ... esperando pela brisa que sopre, de novo, a saia para seu lugar e deixe a ilha se ilhar em si, cercada de sis ...
Naqueles braços os sis se tornaram uma ilha de certezas, de incertezas momentâneas de um prazer de camarões. Sim, de camarões ... de camarões que são saboreados sem as cabeças, sem as peles, sem as entranhas .. camarões que nadam, nadam e são surpreendidos, um dia vinteedoisqualquerdesetembro por uma rede de pescadores gêmeos univitelinos ... iguais na superfície e desiguais na litosfera, que reveste o manto e o protege.
E o manto? Bem ... o manto não é de virgemmaria, nem de madalena ... é simplesmente um manto .... um manto que recobre de vulgaridade, de perversão, a pureza de uma alma de esperança na junção ilha-mar. É isso ... junção ... interjeição .... interrogação ... interrelação ... inter ....
É assim ... nos braços de mim mesmo me torno ilha continental, arquipélago de eus que me invadem e me fazem sentir único. Contradição.
Contradição de nãoquererquerer, de querernãoquerer ... e querer assim mesmo ... e se desilhar ... desilhar de eus e seus e teus e ateus e proteus .... não sou mais o primeiro, o proteus, nem é o primeiro gêmeos que surge ... é outro ... e o outro que, como uma ponte, tira a ilha de sua ilhação.... e a conecta com o continente que é ela mesma ...
A ilha se conecta ... e se sente feliz, e sente a brisa, e olha o retrovisor e vê que a história pode se repetir ... e não está nem aí com isso ... desilha-se para se conectar aos vários eus de si, reintegra-se ... nos braços de si mesma.
É, chega, um momento ....
Pare de sentir-se culpado de sentir-se bem ... pare de sentir-se bem de sentir-se culpado ... esqueça .... viva a ilha em si conectada ao universo a sua volta. Retorne, entorne, esborne ...
E sinta-se você, como já sentiu ... e gostou.
Goste de ser gêmeo do outro ... gêmee-se nos gemidos da alma ... acalente-se de si ... e veja que a vida lhe proporciona muitas libras ... libras de alegria, libras moedas de troca de si. Ponha na balança ... e perceba que os pratos estão regulares ... sorria para si ... sinta a brisa que, de tão forte, retorce o retrovisor que mostra não mais a estrada lá atrás, não mais uma sombra na beira do caminho, mas um rosto que sorri .... um olho que brilha ... e uma vida que abre as portas, quebra as janelas, espatifa os vidros da vidraça e diz “mostre os dentes guardados por esses lábios recobertos de neve ... antes que eles apodreçam” ...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Não quero falar disso.

Natal, 16/09/2008.

Vazio. Não, não quero falar disso. Quero é falar do cheio, da vida e da alegria de estar vivo ao lado da vida que passa. Sim, ao lado. À margem. À margem de uma alegria buscada, encontrada e querida por muitos ... tida por poucos .... e sentida por quase ninguém. Sentir a vida. Seria isso possível?
Ao lado da vida, ou no seu curso, há a despedida, a pedida, a medida, a ferida, a ida ... ida. Sim, ida.
Tudo é não ser, tudo é não estar, é não querer, não sentir e sentir. Sentir que tudo o que se quer se pode ter ... e perder.
Perder para a vida, a vencedora dos jogos mortais que vivemos nela, que incutimos nela, que sentimos nela e nela perdemos. Perdemos os amores, as dores, as cores ... até os cabelos perdem as suas cores para dar lugar ao branco, ao vazio. Vazio que reluz na claridade da não-cor. Sim, branco é não cor. É espaço límpido para se poder fazer o que se quer ... e querer o que fazer.
Faço, então, um traçado de branco sobre os poucos negros que restaram na vida que escolhi. Na vida que vivi e vivo, e viverei o branco, o franco, o tranco ... e sobrevivo.
Sobrevivo aos quereres que quis e aos que não quis, ou quis sem o saber.
Sim, há quereres que não sabemos que queremos, apenas os queremos e temos, sem querer tê-los ... e só sabemos disso quando os seus tentáculos, os tentáculos dos quereres que não queríamos, nos tomam pela mão ... e nos arrastam para a beira do abismo. Chegamos a sua beira, puxados pelos tentáculos, e olhamos, soltamo-nos nos tentáculos dos quereres não queridos e dizemos: chega, um momento.
E observamos ... olhamos a paisagem e voltamos nossas cabeças para trás ... vemo-nos como a um amigo que deixamos para trás, no caminho da vida, no percurso da vida, no curso da vida ... e sentimos que o pulso ainda pulsa.
Expulsamos os tentáculos.
Voltamos para a estrada, olhamos para trás, deixamos o abismo lá atrás. Esquecemo-nos dele. Voltamo-nos para nós mesmos e sentimos a brisa nos dizer que chega de chega, um momento.
O momento chegou, aproveitamos. Chega!
Vamos brincar de ser ilha, e ter conosco a certeza de que há mar à volta, para nadar. Nadar na sua acepção mais corriqueira, dar com os braços na água e brincar de ser peixe ... e nadar ... de clássico, costas, livre e borboleta. Borboleamos no mar .. e o sal da água é o tempero de nossa alegria ... e nos tornamos um churrasco gaúcho.
Deixamos nossa cara vermelha de sangue dar lugar ao bronzeado alcançado pela brisa exalada pelas brasas da churrasqueira e somos desejados como espetos na Vento Aragano. E somos brasas avermelhadas que assam as carnes e as carnes que são assadas. Ubíquos, somos ... ubíquos de nós, em nós. Não mais ilha, arquipélago.
Arquipélago de muitos nós, de vários eus que se consubstanciam em um, e um que se divide em vários para suportar cada um dos nós, nas brigas que temos com os nós que carregamos na vida em curso.
E seu curso, que será? Não sei. Ou sei e não quero saber que sei? Provavelmente...
Tudo é provavelmente ... e tudo é o que queremos pensar que queremos ... e a vida nos quer, vivos.
Vivos estamos.
E olhamos à volta e percebemos que o vazio não existe. O vazio é preenchido com o ar ... e o ar nos traz vento aos pulmões, ventos araganos, que podem ser sentidos e desejados, que têm a força de manter nossas forças. Então, onde anda o vazio? Foi ver o mar e se tornou ar, e o mar o assoprou para torná-lo brisa.
A brisa que sinto na minha cara, levanta meus cabelos e mostra-me, na sombra que faço no solo arenoso, que estou em movimento. Chega um momento em que estamos em movimento.
E este momento é agora.

sábado, 13 de setembro de 2008

Chega, um momento.

Natal, 13 de setembro de 2008.

Conversamos, conversamos ... concluímos que chega, um momento ...
É um momento para sentir o nós e o sós e tirar os nós, os nós que ataram o nós. Vivemos uma vida inteira à procura de conceber um nós que fosse realmente nós. Lutamos por juntar a nós outros, outros e outros e outros ... perdemos a noção do sós, porque pretendíamos nós.
Agora estamos sós ... felizes sós ... e tentando entender porque estamos felizes, porque não estamos desesperados por um nós, por uma metade que de ideal só tem a ideologia inserida em nós.
Queremos mais não. Paramos. Agora estamos parados, estacionados à sombra que havia no meio do caminho, esperando .... olhamos pelo pára-brisa e vemos um universo à frente, olhamos no retrovisor e vemos um mundo pequeno lá atrás, um mundo de buscas, de bocados, de emboscadas. Emboscadas que buscamos e encontramos aos bocados ... e deixamos para trás, na esperança de um dia termos esperança.
Deixamos porque a concepção de nós esvaiu-se na junção de dois diferentes que tentavam insistentemente ser iguais ...
Encontramos alguns iguais ... naturais ... artificiais ... e iguais, ainda assim. Não quisemos, estivemos um momento aqui, outro ali, sentido-nos iguais ... e a igualdade cansa. Entristece. ... olhar para a cama ao lado e ver o outro como se vê um espelho é frustrante. Queremos não.
Juntos queremos apenas viver
Uma vida que tenta
Levar a alegria
Impar ao
Âmago de
Nós e
Amamos, amamos, e amamos ... o imperfeito.
E o imperfeito aqui é o imperfeito do indicativo, que
Sabemos estar
Insolentemente nos fazendo
Lembrar que o futuro
Vai virar passado em breve,
Indiscutivelmente, e
Outro futuro estará á espreita.
... agora será esperar que este futuro chegue e que possamos nos deliciar do seu presente, do indicativo ... e o subjuntivo vai ser tão subjetivo que não perceberemos, veremos tudo com a clareza de um dia de sol em que os raios ultravioletas são violetas na janela de nossos olhos, e embelezam a visão que temos de nós mesmos .... complicaremos as coisas para sentirmo-nos vivos e viveremos as complicações para sentirmo-nos descomplicados .... e não estaremos mais estacionados ... parados .... porque estar aqui, estacionado na sombra que havia no meio do caminho nos faz querer por o pé nó acelerador, engatar, resgatar, engatinhar ... levantar, trotar, correr, voar ... e ir sentar contigo à beira do rio, sossegadamente ...
(enlaçaremos as mãos)
Olharemos o horizonte sem a película protetora do pára-brisas, e vestiremos o vento que nos revestirá nossas caras e invadirá as nossas almas .... deleitaremo-nos de nós conosco, num enrosco ... e nossa natureza jamais verá um horizonte fosco.
Não teremos tirado de nós mesmos a nossa natureza, não nos arrependeremos do que fomos outrora porque ainda o seremos ...
E teremos conosco a vida de brisa, junto do mar, onde o ar é mais puro e a brisa sopra esperança, a maresia será nossa alegria, nossa fantasia. A arrebentação lembrará aos ouvidos a calmaria do rio ....
(desenlaçaremos as mãos)
E acordaremos todos os dias com alegria e pena ... e nos lembraremos que antigamente acordávamos sem sensação nenhuma, acordávamos simplesmente.
Saberemos também que a alegria e pena que sentiremos dever-se-ão à consciência de que perderemos o que sonhamos ... e sonharemos com o que perdemos ... e isso não nos entristecerá,
Não, não nos entristecerá ... nos trará a sensação de que saberemos o que fazer conosco sozinhos e teremos nós mesmos como motivo para acordarmos de novo ... e diremos a nós mesmos: - Chega, um momento.

sábado, 6 de setembro de 2008

Mamma mia .... here I go again ...

Natal, 06/09/2008.

Não disse que a solidão me acompanharia para todo o sempre? Pois é .... de novo. É final de semana, é dia de bundar, dia de nadar ... nadei o dia inteiro e, agora, Mamma mia ...
Tem dias em que a solidão fica um pouco chata, sabe. Ela fica muito calada e não quer prosa de jeito nenhum. Pego o celular: Oi .. ce vai aqui ou acolá? Não, tenho não sei o que para fazer. Oi, o que você vai fazer hoje? Ah, vou encontrar uns amigos (e nada de falar vem você também ...)
Então, estou eu, de novo, Here I go again, Mamma mia ... que será que deve-se fazer para romper com o ciclo eu – solidão? (E será que se quer mesmo romper este círculo? Não!)
Talvez este momento de querer nãosolidão seja apenas um momento, passageiro que com o vento se vai ....
E irá ... impávido como Mohamed Alli ... e haverá flores no caminho e cestinha de docinhos para levar para a vovó e muitos lobos bons no caminho, que não vai ter nenhuma pedra .... ninguém merece pedras no meio do caminho ....
Já está quase na hora de dizer que a solidão está a fim de um teteatete, acho que ela está ali, se manifestando: ei, Carteiro, vem pra cá um pouquinho ... e eu vou ....
Vou ter com ela, enlacemos as mãos ...
E sairemos à noite, veremos gente, seremos gente, sentiremos gente e gentaremos .... gentaremos com as gentes que a gente encontrar, gentaremos ... minutos de nãosolidão e de compartilhamento, compartilhamento de solidões na multidão .... O som vai troar, o povo vai dançar, os cheiros vão se misturar e as solidões se misturarão à multidão que espera, dormindo espera ... com uma grinalda de era ...
Multidões são sempre um saco. Tentam dizer para você que você não está só, mas dizem apenas que você está só revolto de gente (nossa, revolto é coisa mais viada que já vi) ... mas é assim mesmo, revolto de gente que não quer gentar, que não quer brincar de ser feliz ou que está pensando que está brincando de ser feliz e não é ...
Não, não é .... não é ...
A vida aqui, nesta Natal, é muito boa. A gente fica à beira da praia, à beira do mar, à beira da vida, à beira da anguústia, à beira a alegria .... e a alegria e o mar estão à nossa volta e dão alento, dizem “Oi, ce ta bem?” A gente diz “sim, tâmu bem ...” e continuamos .... continuamos a escutar esse sotaque lindo, esses porquês (eu adoro o jeito que o povo fala pooorque aqui. É assim: pratique comigo, fale ovo. Agora preste bem atenção no primeiro “o”. substitua o seu u do purque pelo o do ovo. Pronto. Ta falando porque natalense: um orgasmo a cada porque ... Adoro!)
E sabe pOrque adoro? Sei não ... adoro porque adoro escutar, prestar atenção nas nuances dos outros, nos outros das nuances e nas vibrações que esses sons me dão .... é os sons me dão vibração .... e adoro a solidão também ....
É muito melhor do que solidão compartilhada ... sabe, daquelas que você tem alguém contigo e se sente sozinho a cada momento pós coito? É horrível ....
Então, vamu solidar ... e brincar de ver o mar, e ver o ar .. e brindar à vida ....
Vem comigo! Por quê? Porque a gente pode ser solidão juntos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

É daqui? Não!

Natal, 05 de setembro de 2008.

Cansei, sabe ... Vim para cá porque quero você, daqui. Se não é daqui, se não mora aqui, se não vive aqui .. quero não!
Por quê? Porque to cansado de viver o distante. Sabe, distância enche o saco e não dá em nada.
Gosto do flerte, gosto do frege, gosto do do do do, gosto. Ponto. Mas se é para ficar nisso .. queronão ...
Entenda. Tenho minha amiga inseparável solidão. O Augusto (o dos Anjos) errou. Eu não vou errar ... Não quero ingratidão, não quero estar sem estar .... ficar por ficar (bem ... se for legal, posso até pensar ... e se você me achar legal, podemos noisar, pensar juntos ...) mas quero distância de ti não.
Vê ... a gente se olha, sorri, você me persegue, vai pro cantinho e me diz seu nome: Bel.
Simples assim ....
Pergunto: mas esse é um apelido. Responde. Mas é assim que todo mundo me conhece ..
Bem, Bel .. então tá ... basta ...
Você é daqui?
Não. Sou do Pernambuco.
Pronto. Brochei ... E olha que eu não queria fuder contigo .. queria noisá ....
Levanto .. me vou ... encontrar a solidão .... e um teclado que vibra com as dedilhadas que lhe dou. Não penso mais em você. Se foi. Você não é daqui. Pronto. É simples assim ...
Já pensou? Ei ... você vem para cá neste final de semana? Não posso ... tenho de trabalhar ... Não posso .. to cansado ... Não isso e não aquilo. Chega!
Se você não é daqui, este é o resultado.
Então, me pergunto: para quê? E já me respondo: Para nada!
Então, por que querer nadar se o que penso é em noisar? Não, não e não .. me levanto e vou embora ...
Tem uma solidão linda me esperando ... uma companheira que me diz nada não, que me enche o saco não, que me castra não, e que não me faz nadar (ei, não vai confundir com entrar na água e se movimentar ... to falando de outro nadar ... espero que você não me encha o saco com a duplicidade de entendimentos que este novo verbo pode suscitar .. eita! Suscitar é chique!) ...
Minha solidão, amiga, companheira, não me quer nadando, quer-me noisando com ela ... e se a trocar por você, de longe, vou ficar nadando ... nadando em lágrimas, nadando em solidão, nadando em dor, nadando em lembrança, nadando, nadando e .. morrendo na praia ....
Então Tchau.
Beijo procê .... vou me encontrar comigo e com a solidão .. e vamos noisar ...
Sem se acostumar com a lama que nos espera ....
Esperando alguém que olhe, sorria, flerte, e diga.
Sou daqui .. vamu noisá?
Eita ... gostei dessa idéia... Noisá com alguém, num ménage: solidão, eu, o outro .... (e o Lacan se matando para descobrir onde está o significado de tudo isso ...)
Pura catarse ... OU catar-se?
Sei lá ... Pergunte pro Paes .... ele é quem inventou essa de comparar o tio Aristóteles com o tio Freud ...
Eu vou é me acabar, no trio. No trio eu, você e a solidão ... minha companheira inseparável ...
E nem vou escarrar nessa boca que me beija ... vou é viver ... e se morrer, vou voltar para buscar os instantes que não vivi junto do mar ....
E da solidão ... e de você ... e de mim ....
Querosim .... e tu, quesim também? Cê qué, venha!
Se fô daqui ....

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Vi seu perfil. Tá a fim de teclar?

Natal, 27/08/2008.

Sim, você viu meu perfil. E daí? Quer teclar? Compre um teclado e fica lá, que nem doido, batendo os dedos nele ... ele vai até gostar .... faz isso. Faz amor com o teclado, namora o teclado, beija o teclado, abraça o teclado e dorme. Você vai poder até roncar que o teclado nem vai ligar ... vai ficar inerte, esperando seus dedos o procurarem para mais umas batidinhas ... Não .... não estou a fim de teclar. Definitivamente, não!
Se eu quisesse teclar, não poria meu nome no site para você ficar que nem idiota me perguntando se eu quero teclar. Bah! Teclar ... já estou teclando, não tá vendo?
Ninguém que coloca um anúncio numa porra de site quer teclar .... quem põe um anuncio quer outra coisa, porque teclar ele já tecla quando coloca o nome no site ... doido ... Percebe, então o que eu quero? Quero você ... é .. você.
Quero que o teclado seja legado ao pano de fundo da vida .. deixe de ter a importância de me satisfazer com os dedos ... é .. os dedos ficam satisfeitos quando tocam o teclado ... dedilham .. mexem .... aparecem coisinhas na tela ...
Quero outras dedilhadas, outras coisinhas aparecendo. Por isso estou lá, esperando você fazer essa pergunta cretina.
Ta bom, ta bom, ta bom .... entendo que você está metaforicamente querendo saber de mim .... mas por qu~e cargas d´água não pergunta de mim .... pergunte assim;
Ei, gostei do seu perfil e quero te conhecer melhor, ta a fim? Pronto. Esqueceu do teclado, ta vendo? É fácil....
E você, tá a fim de teclar? Eu sei que não ... você tem seu teclado para teclar, você tem sua telinha para saber que eu estou lá querendo alguém que queira que eu a queira .... e que me queira ... é uma querência só .... Eu quero, tu queres ele/a quer ...
Quero é o nós queremos .... vê num tô a fim de eu teclar e de você teclar ...
To a fim de noisá .. é noisá ... (é assim, noisá é fazer de um um nós, entende? Nós ... mas para escrever nosá ia ficá horrível, preferi o noisá ... peguei do nóis ... eu, tu, ele, nóis .. viu?)
Então vou responder sua pergunta com uma assertiva. Vai ficar assim nosso diálogo:
- Ei, ta a fim de teclar?
- To a fim de noisár. (viu, com ponto final, seco)
- O quê? [nesse momento fico puto – vê usei o colchete que é chique, parece coisa de peça de teatro .... acho que to meio Brecht ... tem um amigo meu que, se ler isso, me bater na cara até eu sangrar !!!!! – Ei Junior, ce ta legal?)
- Bem, noisá [daí eu explico que porra é essa de noisá pra múmia que não entende – imediatamente me desinteresso]
- Ah. [esse “ah” é lido como um reforço da ignorância da múmia .... acabou, mesmo, o tesão .... mas daí, vô lá vê as fotos do perfil da múmia. Volta o tesão – se é que você me entende ....]
- Na verdade, to, sim a fim de teclar. Tudo bem contigo? Tc de onde? [Esse é o início do papo filosófico a respeito da geografia da Internet, que deixa tudo próximo - dos dedos ... mas é a vida .... as fotos .... huuummmmm....]
- Me passa seu msn. [imediatamente me lembro dos tururum, tururum, tururum .... quase vomito .... mas as fotos ....]
- Meu msn é gatolindodornarrobarrotimeiupontocom (todo mundo se acha lindo no nome do emeiu ... uma criatividade insana ...)
- blá blá blá ...
tururum tururum tururum
E tecla daqui, tecla de lá ... mais tecladas, dedinhos beijando o keyboard, isso, aquilo ....
... O ENCONTRO .....
- Oi .. ce é diferente na foto ... [imediatamente odeio o photoshop – faço cara de inteligente, culto, e que está interessadíssimo nas drogas que vou ouvir ...]
- ble ble ble .. bli bli bli .. blo blo blo [penso: será que essa múmia sabia que já inventaram analista? – faço cara de não sei o quê]
- Tenho de ir. [O uso da preposição de depois do verbo ter dá um ar de chique no úrrtimu!]
Definitivamente, to a fim de noisar ... ms será que dá para noisar com quem só sabe teclar? Aliás, nem sabe teclar ... a gente fala que sabe só para não dar na cara que vê uma porrada de erros que não são de teclagem ...
É, tem erro de teclagem, da pressa, do teclado sem fio, de um monte de coisas, mas tem uns que não tem concerto ... imagine .... um erro e, para arrumar, uma banda, cantando Vivaldi ... tem concerto certo não ...
Então, viu meu perfil? Ele tem photoshop não .. tem eu, a fim de noisá ... e o seu?

sábado, 16 de agosto de 2008

Se separaram ... e foram felizes para sempre.

Natal, 16/08/2008.

Quando você me deixou, meu bem, não me disse para ser feliz ou passar bem ... não me disse para ser infeliz .... apenas se separou. Foi. Eu fiquei .... você não quis que eu saísse. Preferiu sair ... decisões ... Agora, olho nos olhos e não quero ver o que você diz ao sentir que sem você estou tão feliz .... me pego cantando, sem mais nem porquê... ah ... tantas lágrimas rolaram ...
Foi ... fomos ... a vida nos quis assim ...
E assim estou, aqui. Parado ... tarado ... estou. Sou. Assim, desse jeito.
Não quero mais saber se estou com, se estou para, se estou em .... estou .. e vou estando como se estar fosse a eternidade. Estando, no gerúndio, para dar a idéia de que é longo, longitudinal, transversal, intravenoso ... é intravenosar .. é esse o verbo que conjugo.
Intraveno-me e me intrasinto .. intrasentir ....
É sempre um estar interno, intra, dentro, profundo, uterino .... comigo (e com a minha inseparável amiga solidão, que me acompanha, e que me faz companhia ...
Descobri, muitos reais depois, que estou fazendo o que me propus: vivendo. Nada de pensar que o amanhã pertence a uma entidade divina, a um ser cujo dom da ubiqüidade é intrínseco, não ... estou intravenosando me hoje e amanhã ... estravenosarei-me sempre e sempre estarei a minha disposição.
Vivo porque não quero a morte, quero a sorte, o corte, o porte, o norte... e sou eu meu norte. Eu, ponto cardeal de mim mesmo ... e quero ser este ponto cardeal, quero-me intravenosando-me eternamente, continuamente, sensivelmente.
Trabalhei, cansei-me ... dormi ... acordei de sobressalto ... me vi abraçado à solidão ... confortante ... a casa estava vazia de outros, mas cheia de nós. Solidão e eu preenchíamos cada centímetro quadrado desta construção ... e estávamos felizes conosco.
Paz ...
Jaz ..
Aqui ...
Namorei comigo, a solidão assistiu... não fez barulho. Ela sabia que naqueles momentos nem ela poderia me acompanhar ... eu só queria a mim ... e ela, como voyeur da minha encarnação comigo .... intravenosando-me ...
... um cigarro ... (não é vício, nem o café o é, nem um trago o é ... são companheiros meus e da solidão e do Lobão e de todos os eus que moram nesta cidade minha ...)
... uma esperança .... esperança de manter-me comigo, em mim ... intravenosando-me e sentindo o pólen de mim mesmo me molhar ... e umedecer a minha existência comigo mesmo .... nu ...

Faz tempo que a vida
Está me dizendo que os
Louros são para serem colhidos solitariamente,
Intensamente ... em silêncio,
Calado,
Inveteradamente calado ..
Dentro de si mesmo ...
Antes, durante, depois e
Depois de depois,
Eternamente ....

E custei a perceber isso ... custei a me dar conta de que as contas são minhas, que a vida é minha, que a existência é minha ... que eu estou comigo ... nasci comigo e comigo morrerei feliz ... infeliz ... mas comigo ... em mim.
Quero abrir a cortina e ver nos raios do sol os eus que me compõem, os eus que me desconfiguram e reconfiguram-me comigo ...
Quero-me. Não escrevo mais para o inexistente, escrevo para o inexistente que existe em mim e, portanto, não inexiste, existe, insiste .... riste ... e não mais triste .. assim, um eu que é tudo, e que é nada, mas é tudo ... no nada que é ...
Quero abrir as portas, sentir o ar, ver o mar, pestanejar, atentar e me alegrar ... alegrar a alegria intravenosando-me, intrasentindo-me ...
E quero dizer, aqui, para mim (e para você que perde seu tempo dando-me seus olhos na tela) que estou aqui, comigo, e te espero, comigo mesmo ... me faço companhia, venha, seremos três: eu, você e a solidão ... mas não tenha pressa ...
Venha quanto estiverem todos prontos: você, eu ... e a solidão. Daí entravenosaremo-nos de nós ... sós conosco.

sábado, 9 de agosto de 2008

A você, que não existe ...

Natal, 09 de agosto de 2008.

Esta é para você, que tanto procurei e que jamais encontrei ... jamais encontrei porque não te inventaram ainda, não te criaram ainda, não te pensaram ainda ... nem mesmo eu, que te procuro, te pensei. É, entenda você, inexistência, que ainda não existe um você consolidado ... cê tá lá, nas entranhas de qualquer testículo (será que testículo tem entranha? Sei não, mas é metafórico isso ...), ou melhor ... cê ta se inventando ainda ... portanto, se pensa que existe, não existe.
Inexiste para mim, inexiste para esse cara aqui que ta pensando em ti sem saber quem é esse “ti” .. talvez porque não queira, eu, um ti, queira, sim um espelho .... um espelho que acompanhe como acompanha a solidão ... um espelho que busque o que se busca quando se busca ... entende?
É isso, você ainda é a busca!
E uma busca que dura muito tempo e muito quer dizer muito, e pode ser pouco, depende do ponto de vista. Agora é muito tempo .. pode ser horas, dias meses, anos .... a gora é meses ....
Busco-te há meses. Viu? Ficou fique .... Há meses ... e meses podem se transformar em anos, anos em décadas .... mas tem sempre a busca ....
Encontrei outra companhia para minha vida: a busca ... não a busca incessante, ávida ... mas a busca calma .... aquele que se assemelha à espera. Simples assim .. tô na espera .. na espera de que ao inexistente exista, que o inexistente se sinta importante a ponto de se dar ao trabalho de falar “Oi, sou o inexistente” e passar a existir.
É complicado de explicar o que exatamente estou falando aqui ... eu estou, eu mesmo, em mim (viu, o pleonasmo nem sempre é pleonástico .. pode ser enfatizador. É assim que estou utilizando aqui ..) buscando compreender o inexistente que está à espreita .... espreitante .... é .. o espreitante é o que estou à busca ... espreitante inexistente. E busco ... ou melhor, espero ....
Engraçado .. espero lembra esperança ... e esperança é tão forte, tão tão tão que se basta por si .. mas a espera pe algo fraquinho. Assim: vô fazê nada não, vô esperar ....
Mas não estou à espera com ânsia .... nem com ânsia de desejo, de antecipação, nem com ânsia de vômito ....
To aqui, quieto, calmo ... esperando ...
Nem adianta pensar naquela bobagem de quem espera sempre alcança (coisa besta, essa, parece coisa de revista capricho!), quem espera não alcança nada, espera ... se fosse para alcançar, estava alcançando ... Ei, que ce ta fazendo aí fazendo nada? To alcançando ...
Num to alcançando o inexistente espreitante, não .... estou aqui, eu, simples ...
Claro que
Outras coisas
Me fazem ficar
Interessado em ser
Guiado por
Ovnis ....
Mas OVNIS também não existem.... nem são identificados .. e são voadores ... são um nada no meio do nada que é tudo, no meio desta imensidão de solidão amiga e de busca incessante parada ....
To assim ... parado ... e tô cum vontade de não mudar isso ...
Que delícia ... a calma tem dessas coisas, te deixa feliz, consigo. Não é? Se você não conhece esse sentimento, preocupe-se não ... espere, parado .... vai chegar a sua vez ...