quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tão só, não só. E só.

Natal, 27/05/2009.

Aqui, parado, ganhando peso, peso as emoções pesadas e os pesares pensados e sentidos em momentos de penar. E peno. Peno a existência plena de um ser intransitivo que se encontra alagado de si e alargado de seus conflitos finitos e seus desejos infinitos de findar o que não se finda, porque fenda ... e continuo.
Continuo a caminhar feliz nas águas que deitam-se no solo e insistem em não penetrar a terra para deixar os pés sentir apenas a areia da praia, a terra das ruas, o asfalto quente ... e respiro o vapor exalado de sua conjunção com o sol que nasce logo após tornarem-se vapor as lágrimas da chuva que inundaram a cidade e deixaram poças de água em todos os cantos ... e canto.
Canto o prazer de existir e insistir na existência plena de uma alegria plantada em solo fértil, cultivada por palavras no divã e por comprimidos no estômago vazio de emoções e cheio de lamentações gordurosas recebidas do calor das comidas quentes que insisto em ingerir ... e gero.
Gero esperanças de vida e de prazer que já sinto apenas em pensar que aqui estou, que aqui sou ... e que aqui vou morrer deixando todos os amigos que reuni para assistir ao meu velório ... e velo.
Velo a presença ausente de justamenteumalindaamiganuncaausente, que se foi de corpo e ficou de alma, calma ... e acalmo-me nos braços e abraços que vou colhendo pelo caminho que percorro ... e corro.
Corro à procura de mais e mais eus presentes, de mais e mais eus ausentes, de mais e mais eus que sentem a esperança de estar feliz apenas consigo ... e sigo.
Sigo a cavalgar todos os leões que se apresentam pelo caminho e a colher todas as flores que vejo refletidas nos retrovisores de uma vida sempre reta ... e paro.
Paro para colher os frutos da vida que plantei ... e cheirar as flores que colho a cada quilômetro rodado nesta estrada que me pus à frente ... que se põe a minha frente e que adoro ver e verter dela a existência alegre de uma vida plena ... cá estou, de novo, eu.
Eu-coração que não sofre mais porque entendeu as idiossincrasias da vida e tergiversa pouco aos problemas que aparecem ... e não sonha com amores impossíveis, mas vive todos os amores possíveis, porque são possíveis e prossilvio, graças a Oxalá.
Sonhei, um dia, viver um grande amor na minha vida, descobri, com o tempo que os grandes amores são tão grandes quanto os problemas que trazem ... desisti, então. Desisti não dos amores, mas dos problemas ...
Passei a amar uma vida grande de amores menores, de dores menores, mas não de cores menores. Adoto para mim, há tempos, uma vida de calmaria, de paz ... e nela passo a incluir amores que me dão o que mereço, que me dão o que apreço, que me dão o que não são apenas adereços, mas endereços fixos ... e neles me fixo para seguir feliz ao lado de sorrisos largos ... e sigo meu caminho de braços dados e jamais cruzados ... e cruzo.
Cruzo a fronteira da emoção para buscar na razão a razão de uma emoção ... e encontro. Encontro a vida sorrindo, e sorrio para ela. Gargalhamos juntos a existência de eus-corações que se completam em emoções plenas, em emoções planas, em emoções sanas, que se desenvolvem em abraços quentes, em palavras líquidas e calores propagados pela osmose alcançada no encontro de línguas que se procuram nos momentos de carinho ... de palavras que se consolam nos momentos de solidão, de cheiros que se misturam nos momentos de retidão .... e exalam prazeres ocultos nos momentos de tesão ... e refletem a paz que se encontra em viver momentos reais de amores possíveis e plausíveis ... e de fantasias realizáveis nos cantos e encantos da casa ... e caso.
Caso comigo. Porque só eu consigo me entender e entendo que entender é mais do que ouvir, é mais do que querer, é mais do que desejar ... entender é perceber o outro e não lhe cobrar o que se entende ser certo, porque o seu certo é incerto para o outro, simplesmente porque o outro é o outro ... e não um outro você.
E isso não traz solidão, como pensam os outros tantos outros que, por não serem um outro você, não entendem; traz solidificação ... e me solidifico na consciência de que não estar só é estar acompanhado de si mesmo ... e de outros que possam respeitar e entender que um ser só, não é um ser só qualquer ... um ser só, pode ser um ser que é o que todos gostariam de ser: só ele, mas pleno, que não busca se completar, porque se sente completo, só. Busca complementar ... e aí sim, o só pode tornar-se melhor, porque complementado por outros eus-corações que entendem a solidão do outro, respeitam-na ... e buscam complementar a completude com adereços brilhantes, sorrisos brancos revestidos de peles morenas, beijos calorosos e abraços apertados embalados pela razão de se entender a emoção de viver assim, a dois, só.

domingo, 29 de março de 2009

Instâncias e entrâncias de eus.

Natal, 29/03/2009.

E eus e eus e eus. Reencontram-nos em nossos próprios momentos de quereres singulares e ausências plurais de pessoas singulares. Daí, restamo-nos nós mesmos em nós e sós. Tudo bem.
Crescemos e aprendemos que queremos outros tantos outros que outros tantos outros desesperam-nos em ausências ... crescemos mais e nem queremos tanto tantos outros ... ainda que queiramos, queremos, apenas e não mais a penas ... porque bastamo-nos conosco .... sentimo-nos completos de nós mesmos e restamo-nos sós conformados, confortados (ou controlados) em eus-corações cheios de esperança, de desesperança, de crença, de descrença ... e vamos seguindo nosso caminho conosco.
Olhamos para trás e não sentimos mais saudades ou comiserações de nossas infantilidades adultas ou adúlteras ... seguimos conosco e buscamos convoscos sem tempo de pensar em ausências plenas ... porque queremos mais ... e sabemos que seremos mais ...
Amamos e descobrimos, com o tempo, que amar é um verbo intransitivo, que sonhar é um verbo intransitivo, que desejar é um verbo intransitivo ... e tornamo-nos nós mesmos intransitivos ....
Instamo-nos na intransitividade de nossos eus e nos tornamos transitivos indiretos a todos os outros tantos outros que em outros tantos momentos esperávamos transitivos diretos ... não ... não nos queremos sem preposições a permitir que qualquer objeto se junte a nós ... também não mais nos queremos verbos de ligação, não estamos mais juntando predicados aos sujeitos ... somos, nós mesmos, sujeitos cheios de predicados ... predicados que nos fazem ver a manhã e ficar triste ... porque somos conscientes de nós mesmos, de vós mesmos ... e de tudo ... de tantos tudos que recolhemos pelos caminhos que passamos .... de tantos momentos de interstícios de nós que desejamo-nos sós ... e vamos nós sós sóis de nós mesmos ...
No máximo, entendemos os satélites ... satélites que orbitam em torno de umbigos sem abrigo ... de planetas perdidos nas órbitas de egos entumescidos pela imaginação fétida de gentes ausentes de tudo ... e repletas de nadas que lhes tornam completudes de nada que nada valem ... e continuam andar em seus oceanos de imaginação fútil ... de camisetas pagas em prestações ... e de vidas de ostentações: vazios reluzentes de marcas aparentes e gentes ausentes de gente, em seios de leite empedrado ... de leite tornado azeite mirrado nos úberes de homens insanos ...
É ... volto-me para mim, parnamirim, e redescubro-me só. E não tenho pena de mim .... e não compadeço de minha solidão .... porque sou assim: solo ... solo fértil onde germinam árvores frondosas que esperam, paradas e caladas, brisas quentes que soprem palavras úmidas em abraços ternos e eternos ... solo de onde brota a água que o alimenta, e vivo assim, osmose em mim .... em instâncias intransitivas de desejos transitivos diretos, retos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lacunas cheias de ausências presentes

Natal, 18/02/2009.

Não é preciso estar presente para saber que é presente ... não é preciso estar aqui para saber que aqui está ... porque a presença é ausência ... e a ausência, presente de estar ausente e presente sem estar .... Estamos.
Estamos porque não é preciso que nos vejamos para que saibamos que somos o que somos nos momentos em que queremos estar sendo, mesmo sem ter sido, porque somo tecido ... tecidos ... tecidos tecidos por outras tantas coisas não nós, que somos sem sabermos .. somos apenas o que somos e nos queremos sendo o que pensamos que somos pra todos os outros que não são nós ... que não nos são ... que são, a penas ...
Nós, não ... nem somos a penas nem apenas, somo-nos .... porque somamo-nos e nos sabemos adição de outros nós, multiplicação de nós que sabemos ser e não somos porque sabemos ...
Somos complexos .. graças à Deus ... graças adeus ... e nos damos à Deus e adeus ateus, porque nos entendemos nos nossos desentendimentos, nos nossos dez entediamentos .. . nos nossos entes diamantes ... de amantes .... porque nos entendiamos de nós mesmos e nos queremos sós .... ou só nos queremos (não sabemos) ...
Estamos, ambos, nos revisitando e nos encontrando com pedaços de nós que sequer sabíamos existir, que sequer sabíamos insistir ... que sequer sabíamos resistir ... e vamos vivendo nossas vidas sem que nos cobremos os anseios de amizades razas, de amizades sem asas .. porque somos amizade de asas ... amizade de azes ...
Somos o que somos e o que sabemos ser e não queremos mais do que isso ... queremos apenas ser o que podemos ser nos momentos em que ser não é a questão, nos momentos em que ser não é o que são, nos momentos em que ser é estar sendo sem ter sido, sem tecido ... sem ter de ser tecido, porque somos pedaços de linhas sobrepostas num crochê de cobres vibrantes que nós mesmos traçamos nos caminhos da mesa de jantar ... nos caminhos da vida de estar ... nos carinhos da vida de nos estirar nos estiramentos da vida de carinhos esticados como um tapete vermelho pelo qual passamos ...
... pelo qual paz somos ...
E nos queremos em paz ...
Não ... não sinto saudade de você ... porque você não deixou de estar aqui .... porque não deixou de estar a si ... e isto é o que importa ... e isto é o que empresta ...
... é que in-presta ... mesmo que em frestas de momentos roubados de formas turvas de outros desconhecidos presentes e ausentes, mas sempre presentes de pedaços de você ... porque você é sempre pré-ente ... premente .... e presente, mesmo que ausente ....
Sente? Sem ti?
... não ... com ti ....
... porque estar ao seu lado não é estar atrelado ... ou estar atolado ... é simplesmente estar .... e vamos, ambos, estar estando ... porque estamos no estado de estar ... e estamos conosco em momentos mil ... em movimentos ...
movimentos que fazemos em torno de nós mesmos ... movimentos que fazemos sem nós .... porque os nós estão sendo desatados ... estão sendo dez atados ... e por todos os laços e nós que nos damos nos atrelamos a nossos desesperados nós solitários de outrora, que agora são nós solidários .. solidários aos nossos outros tantos nós dos quais nos sentíamos desatados ... desatemo-nos, então, de todos os nós atados, e nos atemos aos nossos nós ...
porque, como sabemos,
Jamais seremos
Uma única pessoa
Louca ou
Insana
A vagar
No mundo .... ou no
Amor ... ou na dor ...
... ou na ninfa de uma única flor ... não importa ...
Somos, sempre,
Impressões
Loucas e
Vagas de
Intenções
Outras ...
.. e somos nós ... nós de nós mesmos ....
e, aos outros, que carecem de uma presença física, de uma voz ao telefone, de um rufar de trombones .... nossos pêsames ...
Não sabem, por certo ... o que têm por perto ...
... azar deles ... que são riscos vazios de água e cheios de terra seca... nós, ao contrário,
somos rios ... e deixamos nosso leito ...
feito.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Três cervejas, duas taças de vinho e uma lágrima seca depois ...

Natal, 31/01/2009.

Bebi. Fumei. E não chorei. Não derramei lágrimas porque elas inexistem hoje, elas não insistem hoje .... não dá para chorar porque não há razão, não há vazão .... há, apenas, penas de parcas vidas que se aproximam e se vão, que se apaziguam de minhas palavras surdas e que se comiseram de si ... palavras que dizem o indizível, o intangível, o ininteligível ....
... palavras que consolam ... que consomem ... que expressam o que você quer que elas expressam, porque inexistem sem ti .... saem de mim e ganham o universo que subsiste em ti ... falam a ti o que eu jamais quis dizer ... o que eu jamais fui capaz de dizer ... porque são suas ... porque são nuas ... e caminham pelas ruas de seu cérebro desorientadas ... caminham pelo significado que você dá a elas ... caminham ... e encontram você na busca de você mesmo ... e te significam o que jamais significaram .... ou sempre significaram e ninguém pode lê-las com você as leu .... como você ateu ...
... ateu dos significados, ateu dos dicionários, ateu .... ate até de eu ...
estar vivo é isso .. é poder pegar uma cerveja, duas cervejas, duas cervejas .... e sentir a cevada ser levada para as entranhas de si e buscar no cérebro as respostas ás perguntas não feitas ... as pergunta afeitas ...
é poder pegar uma taça de vinha barato e sorver o sangue das uvas receber o prazer de pensar em câmera lenta ... e lembrar que há palavras úmidas que falam nada no ouvido de surdos ... nos ouvidos absurdos .... e nas me mentes dementes absortas em momentos de palavras molhadas que umedecem a alma seca de momentos vivos ... de momento vividos ... de vividos momentos de lamentos ... de excrementos ...
e continua ....
continua porque parar para olhar para retrovisores de matas desmatadas, de natas desnatadas é dar tempo ao não-tempo .... é esperar e desesperar e penar .... então, continua sem dar conta de que as coisas podem não-acontecer ... e deixa que aconteçam a seu tempo ....
afinal, o tempo se rói com inveja de mim, porque sabe passar e eu não sei.... e não quero saber ...
passar para que? Passar para quem?
Sem saber, então, não passarei ... ficarei aqui, pedaços de muitos eus e não-eus que se completam em sis consistentes, insistentes ... e nunca desistentes ...
Ficarei .... fincarei ...
Ficarei aqui e fincarei em mim todos os desejos desejáveis que desejei neste desjejum de poucos tus que significam ... que signos ficam ... que signos enfincam ....
Ficarei ... ou não ...
Porque ficar ou enfincar é uma escolha .... é uma escola .. é uma cola ... que desola porque respeita as coisas que não merecem respeito ... que não podem tornar a vida mais bela .... que tornam a vida mais velha ...
É assim ... escolhas ...
Escolhemos viver ou não ... sofrer ou não .. amar ou não .... e vamos vivendo as nossas escolhas feitas em momentos de poucas possibilidades .... porque não somos capazes de nos adiantar as nossas experiências ... somos obrigados a respeitar as ciência que nos foi apresentada, que nos foi aposentada ... e vivemos nossa existência de insaberes ... de insabores ....
... insalubres ...
porque tudo é irreal se não se sente ... tudo é nada .. e o nada é tudo no nada .... e vamos vivendo nosso tudo que nada na vida que escolhemos para nós mesmos .... ou na vida que encolhemos para nós mesmos ... mas a nossa única vida ...
que tem de ser vivida sem que outras vidas nela inferfiram ... sem que outras vidas nela inter-firam ....
vamos caminhando no nosso caminho ... no nosso carinho .... e vamos .... conosco ... convosco ... com tosco ...
porque, como sabemos ... caminhar é preciso ... e é preciso carinhar nos caminhos que caminhamos .... mesmo que os carinhos sejam carinhos em nós mesmos ... porque de tudo na vida uma coisa é certa: caminhamos conosco ... e os não-eus são passageiros ... e nós .... eternos ... e ternos,
ao menos conosco mesmos .... e com nossas lágrimas secas ...

e a vida com ti, nua.

Natal, 31/01/2009.

Nua, desnuda de todas as vontades indesejáveis que assolam a alma dos desejosos indesejáveis .. e com ti nua, a vida, a ferida, a despedida ... Despedi-me de ti sem falar ... não era preciso .... muito havia em mim para fazer comigo que o contigo tornou-se insipiente ... e voltei para mim ... e me reconheci feliz na existência plena de uma pessoa serena: eu mesmo.
Aqui não tem mais espaço para lacunas ... preencho-me comigo mesmo as lacunas que deixam em mim ... e vivo a existência plena de alguém que consegue viver consigo e não se divorciar ... porque não há tempo.
Não há tempo para sofrer vazios ou interstícios ... não há tempo para brigas ou intrigas, apenas para entregas ... e entrego-me ao meu destino escolhido jamais tolhido ... porque estou para mim mesmo integral ... internal ... infernal ... invernal ....
Estou em mim comigo e sigo meu castigo que intrigo e não brigo ...
Fico a espreita de momentos de mim mesmo que sentem a necessidade de extravasar e verter vida na brisa quente que sopra o mar em meu rosto ... nas cavidades de minha alma ... e exala alegria nos sorrisos que dou ... nos sorrisos que vou ... nos sorrisos que estou ....
E vou estando mais e mais ... para nunca des-estar ou desestabilizar ... porque vivo o que quis viver ... e fico feliz por isso.
Há tempos não sei o que é sofrer sem compreender ... sofro e compreendo o porquê de meu sofrer .. por isso sofro pouco ... sofro parco ... resultado dos cabelos brancos que cobrem uma alma sonhadora ... uma alma que anseia e deseja ... e não desespera, porque espera sem comiserações ... sem pensar que as coisas acabam por si .... por que as coisas não acabam ... o que acaba é a nossa visão sobre elas ... a nossa impressão sobre elas, a nossa expressão sobre elas ...
Hoje estou assim, dez orientado ... orientado para mim mesmo, sem tempo para palavras vazias, sem tempo para palavras azias ... sem tempo para o que não me encaminhe para mim mesmo ... estou em mim, a penas.
Queria poder dividir com quaisquer não-eus este anseio de vida .. gostaria de poder ter aqui com quem partilhar este eu de interstícios negados, mas regados ....e porque regados crescentes nas entranhas estranhas de mim ... mas tenho a mim apenas.
E isso basta ... e isso bosta.
Na verdade, não espero que nada aconteça, não desespero acontecimentos, apenas vivo-os quando aparecem ... e desvivo-os quando desaparecem ... porque eu continuo .... preciso continuar ... já que não posso com ti nuar .... nuo-me comigo ... e vou seguindo os passos que me guiam nos caminhos escolhidos há tempos ... e sigo feliz .... ou não ...
Apenas sigo ... vou caminhando e encontrando pessoas, encontrando pesos, encontrando presos ... seres presos em outros seres .... seres que tentam desprender-se e não conseguem ... e vão se matando pelos poros dos outros ...
... e eu não ...
Eu ... estou aqui, onde sempre quis estar ... e estou prestes a encontrar com outros pedaços de mim que abandonei no caminho que percorri ... estou prestes a encontrar com outros pedaços de ti que deixaste pelos caminhos que percorreu .... e me unirei aos pedaços de nós simbioticamente para retornar a mim .... não quero os pedaços ... quero o preenchimentos dos interstícios com os pedaços, com os percalços ....
E me entornarei em mim .... preenchendo-me de mim e de pedaços de tantos não-eus caminhantes ... e caminharei eu cheio de pedaços incompletos de não-eus que me completam ... que me repletam ....
... e serei o que sempre fui: eu, complexo, conexo, convexo .... e reconvexo.
Porque com ti nuamos ... eu ... e a vida que vive em mim.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Que sou eu sem tu? Eu, oras!


Natal, 20/01/2009.

A passos largos, largo no espaço os descompassos por que passo ... e vou ... vou para lugares em que estou comigo e sinto em mim o abrigo amigo de amigos que encontro por onde repasso ... e sigo com destino incógnito, mas sigo ... e jamais persigo.
Sou como qualquer coisa que se sente só e vive alegre na solidão que lhe cabe, que lhe cobre ... e assim se descobre.
Descobre que viver é ter interstícios, é sentir a vontade de continuar vivendo e poder realizar as vontades da vida que vive .... e sobrevive a todos e a tudo, porque viver é uma necessidade, uma ansiedade ... uma sobriedade,
ou não,
porque viver é também ter vontade de morrer, de fugir, de gritar, de se refugiar e si e se proteger de todo o bem que o mundo pode causar ...
e de todo o mal que o bem trazido pode causar ... mas, mesmo assim, continuar a respirar o ar em brisas quentes entre palavras úmidas e toques quentes na pele eriçada ...
Assim, vivo e revivo, a cada momento, os momentos nos quais parar era uma necessidade ... e continuar, uma obrigação.
Em alguns momentos, parei. E pude perceber que parar é também estar a caminho, é estar à procura de mais, é poder olhar à volta e dar a volta no olhar para sentir-se completo, repleto ... e poder dizer: parei, porque quis. Quis e fiz, portanto, pare de querer parar as minhas paradas. Elas são parte do meu caminho rumo ao meu destino ... sigo, então, parando nas paragens paráveis ... e sigo seguindo nas estradas ao longo do caminho.
Em outros, obriguei-me a continuar sem querer continuar ... mas continuei assim mesmo para poder sentir que seguir me levaria a outras paragens mais paráveis do que aquelas que deixava para trás ....
... e lá estavam elas ... e lá estão elas ... e lá estarão elas. Paradas, a minha espera.
Espero, então, caminhando, que as novas paragens se aproximem, que se ponham a minha frente e me façam parar de caminhar para poder olhar para o caminho e sentir o carinho de estar parado ... e seguindo .. e parado ... e seguindo ... mas sem jamais seguir parado. Porque a vida urge ... e o caminho é de pedra ... de pedras que me protegem da lama em que poderia me atolar.
Não me atolo, me atrelo. Atrelo-me a meus valores e calores, a meus amores e dores, a meus odores e sabores ... e sigo sinestésico nos caminhos que escolho ... e não me encolho, porque não tenho tempo.
Estou, então, aqui, a pensar que está na hora de querer mais e mais, de deixar de se contentar com fragmentos silenciosos de outros não-eus do caminho que hirto sigo, que hirto persigo ... e vou caminhando ereto por todos os eus que me habitam.
Você se foi e eu me enchi de mim, tornei-me repleto de mim mesmo e, assim, estou, novamente eu para todos os não-você que surgirem. Tem muito mais de mim aqui para viver do que tivera outrora ...
... estou, de novo, novo em mim. E sigo inovando os eus e todos os sentimentos que sinto existirem em mim ... sigo eu comigo, de mãos ao vento, soltas, libertas ... à espera de outras mãos que nelas peguem para seguirem todas juntas rumo ao destino incógnito, mas destino de mais de um, destino de eus e tus, não-eus, que sintonizam a vida na mesma estação, que pegam o mesmo trem e seguem trilhos paralelos ...
... estou, de novo, esperança ...
que bom! Estou me reconhecendo em mim ... estou me reconvencendo em mim ... e sorrio para mim mesmo.
Afinal, é bom voltar para casa e perceber que ela não está vazia, porque sou inquilino de mim mesmo, de novo.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Chega de momentos ...

Natal, 10/01/2009.

Não sabe, você, o quanto te quero ... o quanto te espero ... o quanto te desespero ... não, não sabe ... ainda bem, porque só assim, sem saber, poderás decidir sua vida por ti, por suas próprias razões, por suas próprias emoções, por suas próprias noções ... por você apenas ... e por mim, a penas.
Sai de casa à procura de tantos vocês que nem sei explicar ... sai de casa à caça de mais vocês que me fizessem mais eu em você: não encontrei, claro! E, no âmago de meu eu solitário, devo confessar que fiquei feliz por não encontrar nenhum você em ninguém que não você você , porque você não é ninguém, você é você e me faz eu em mim sem você, eu em mim na sua ausência de mim .. eu em mim mesmo sem você, que te deseja mais do que deseja a solidão ...
É, você substitui na sua ausência presente a solidão que me acompanha há tempos, você substitui o vazio que me faz inteiro, e me faz completo de ausência de ti ... e de esperança de presença de ti ... e de desesperança de encontros com vocês que na são você, porque você não é plural, é singular de um desejo meu que não aflorava há algum tempo, que não me desesperava há algum tempo ... você, libra, é minha moeda que sobrepuja as cotações das bolsas, que sobrepuja as dores de ausências presentes e de presenças ausentes de eus sem ti em mim solitário ... e não mais solidário, porque a solidão esvaeceu a solidariedade para transformá-la em solitariedade ... e eu não gostei disso ....
Lembrei-me de ti em muitos momentos que não deveria .... lembrei-me de ti em muitos momentos que não poderia ... e fiquei feliz por poder lembrar do que tive por alguns momentos finitos na realidade ... e infinitos na minha memória rasa de poucos agádês, todos ocupados pelos pedaços de ti que roubo para mim ... pedaços de ti que roubo para abastecer minha alma de esperança e desesperança ... pedaços de ti que ganho nos interstícios de seus compromissos firmados por alianças prateadas que invejo ...
Que saudade ... que vontade de ter-te ao meu lado com seu sorriso rabbit, com sua pequena alegria, com sua pequena expressão de cumplicidade arrancada por várias palavras supostamente sábias adquiridas pelos intervalos de meus cabelos brancos que branqueiam minha existência nesta terra natalina que amo ... que escolhi ... e que me sustenta, a despeito de ti .. a despeito de mim .. a despeito de minha desesperança de ter-me contigo ou com outros tigos que possam igualar-me a mim contigo ... e realizar em meus poros a satisfaça de não questionar, de não esperar, de não desesperar ... numa tentativa sórdida de respeitar o outro como gostaria que respeitassem a mim mesmo ...
Neste tempo em que você se apossou de mim, muitas oportunidades tive de poder te esquecer, de poder me enternecer de outros braços que me queriam tanto quanto quero os teus ... e tudo foi em vão ... e tudo foi em nãos ... e tudo foi em vãos de mim sem ti, de mim que desejava que todas as completudes que se me apresentassem fossem mais pedaços de ti que eu juntaria para formar-te inteiramente meu ....
... em vão ...
... em nãos ... que pena ...
Percebo que o dia já nasceu, que o sol já grita lá fora a sua presença e reforça a ausência de você aqui, a ausência de você em mim... a abstinência de mim sem ti .... de mim solitário nesta manhã que me acorda sem que eu tenha sequer adormecido, nesta manhã que me diz que é tempo de tentar te esquecer .. que é tempo de deixar as portas entreabertas para todos os outros lacanianos que me tornam eu completo, que me fazem compreender que esperar-te é desesperar-me ... e que me lembram das alegrias e vicissitudes de poder sentir-me completo pelo desejo do outro ... e incompleto por outro desejo. Pura contradição, pura contra adição ... pura subtração de mim mesmo .... pura vontade de aditar a sua ausência com presença eterna momentânea ...
Libra, venha para o prato ao lado e me deixe ser equi libra, me deixe ser intercalações de eu mesmo em mim ... ou vá embora e me deixe recuperar-me balança, que balança ao sabor do vento e espera nada ...
Porque esperar por ti, é desesperar por mim ... é sentir-me incompleto ... é sentir-me incerto ... é sentir-me intervalos de lembranças e esperanças desesperadas de muitos eus-corações que batem, mudos, no mundo ...
... e gritam o desejo de falar palavras líquidas em beijos umedecidos pela certeza da ausência iminente .... e gritam o desespero de não te querer longe .... de não me querer longe ... de não poder sequer olhar pela fresta da porta entreaberta para todos os outros não tus que se apresentam ... mas permitem-me sonhar que não tus serão capazes de roubar-lhe a chave de minha porta, enfiá-la na fechadura, abri-la e dizer: ei, eu trouxe a chave e, a partir de agora, seus ombros não mais suportam o mundo .... seus ombros, ao meu lado, doravante, se portam no mundo ... e nós nos descomportaremos neste mundo ... porque somos um do outro ...
Neste dia, que espero não estar longe, poderei dizer que fui feliz e sabia ... que sou feliz e sei ... e que sei que serei feliz ... e levarei na minha memória a recordação de meu desejo de ti ... e não mais te desesperarei, porque já terei a minha espera, a espera de um eu completo que se completa em não tu ... e recorda-se do momento em que perguntara-lhe: “Tu, trouxeste a chave?”
... e não obteve resposta ....
e se obrigou a ter a chave reposta ...
... e se limitou a te respeitar desespeitando-me .... e se cansou ...
...e se casou ... e se castrou ...
... e teve como companhia a solidão inseparável ... a solidão insuportável ... sem jamais ter escarrado nas bocas que beija .... simplesmente por entender que, embora o beijo seja a véspera do escarro ... não há escarro que apague o beijo dado na véspera ... o beijo dado na espera de uma eternidade.
Lembre-se, criança, de que toda a minha desesperança reside na necessidade de esperar que você se desespere e corra para meus braços ... para meus passos .... para meus laços ...
... e se entrelace em mim para que possamos, juntos, caminhar a passos largos, de braços dados, rumo aos nossos corações inquilinos um do outro ... e jamais inquiridos um pelo outro ... porque desesperamos ... e aceitamos a parte do todo que nos cabe ... porque aceitamos o outro com suas idiossincrasias sem hipocrisias ... porque entendemos que o tempo, senhor da razão, sabe passar ... e nós também.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

De momentos, movimentos ... que o vento leva ... e traz.

Natal, 08/01/2009.

Somos assim, de momentos e movimentos, de esperanças e desesperanças, de crenças e descrenças ... e de nós, aos pedaços.
Pedaços de eus e tus que se desnudam no sabor da alegria, na acidez da partida e da insensatez das razões do coração, meu coração ... que espera, dormindo espera ... e se desespera de quando em quando ... ao saber que aos poucos vai-se perdendo o que se pretende ao lado, o que se deseja intensamente e que se sente ausente, mas presente na alma. E a alma é efêmera, intangível ... sou, também, intangível, ininteligível ... não me importo.
Cansei de querer me entender e de querer saber todas as coisas, só quero as coisas, saber sobre elas não me basta, não me resolve, tê-las, sim. Tê-las-ei, então, aos pedaços, aos percalços e serei feliz com a parte que me cabe, com o porte que me cabe, com a morte que não me cabe, porque não morro ... corro ... corro de ti e para ti, corro para entender o que não quero entender, por isso corro para desentender ... e me sentir tender em você, tenro em você .. terno em você ... e ver seu sorriso roubado nas cócegas que lhe faço, e ver sua alegria e introspecção ... sua presença e sua ausência ...
Presença que me completa, ausência que me torna incompleto em ti, mas completo em mim mesmo ... completo-me com sua presença e ausência ... alimento-me de uma desesperança dada pelo coração que não é partido, não é dilacerado ... é apenas coração, com quelomas que registram os momentos em que sangrou e se curou ... quelomas formados pelas emoções da alma que rompem o corpo pelo coração ... dilatando-o e tornando-o ainda maior em emoções tão intangíveis quanto a alma que expele prazer pela pele que toca seu peito ... pelas mãos que acariciam sua barriga, pelos lábios que beijam suas nádegas desnudas em momentos de descontração ... e pelos seus lábios que tocam os meus enquanto as línguas conversam silenciosamente prazer eterno de minutos finitos ... que se findam .... infelizmente.
Rever-te é estar um pouco mais vivo, um pouco mais frágil, um pouco mais ágil ... frágil em perceber minha alegria em ter-te por perto ... ágil por saber que ter-te por perto é algo incerto ... mas certo é deixar-te perto ... sim ... isso é certo, e vou acertando as presenças sem pensar nas ausências ... deixo-as para seu próprio momento, deixo-as ausente do meu presente porque não as quero maculando o que me revive ... não quero antecipar o que não se deve antecipar ... Quero apenas ... e vivo a penas ... penas que junto e faço uma asa .. e outra asa ... e sou Ícaro que sobe aos céus para descobrir-se derretendo ao calor do sol ... e cai ....
Mas eu não caio na terra, caio no mar e sou abraçado por Odoiá que me transporta em sua placenta de água salgada para a beira da praia, onde aproveito o sol que me derrubou e agradeço pela alegria de ter estado voando ... e acaloro-me de lembranças quentes, tórridas ... e vivo a alegria de saber que amar é um verbo intransitivo.
E transito na sua intransitividade, sinto-o verborrágico e sem regência ... e rejo-me eu mesmo de intransitividades minhas ... de insensatezes incomensuráveis de eu mesmo em mim querendo dizer que estou ti e eu ... estamos ... eu e eu-em-ti ... ou ti em mim, sei lá ...
Só sei que, ao transitar pelo seu corpo, ao sentir-me em seus braços ... estou eu mesmo: sozinho, mas contigo ausente ao meu lado ... e isso basta ... por ora ...
E quanto a você? Não sei ao certo ... talvez um dia saberemos, ambos, o sabor que temos um para o outro ... ou não ...
Um dia, você volta.
Um dia, eu volto ...
e seremos intransitivos ... mas ambos objetos diretos de ambos ... e o vento guiará nossos movimentos em todos os momentos...
Até que alguém diga: chega, um momento ... daí entenderemos que somos nós mesmos os predicativos de nosso sujeito, que, como um rio, corre água doce para dar no mar salgado ... no nível do mar ... no nível do ar.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Odeio admitir ... e admito que odeio

Natal, 28/12/2008.

O que é que eu odeio ... não sei ... mas sei. Odeio admitir que sou uma criança indefesa crescida, que quer colo, que sente saudade e que quer estar nos seus braços para se sentir viva ... para se sentir vida .... para se sentir vento que sopra sorrisos na boca que cala a dor no silêncio de um beijo molhado e que se umedece na alma que acalenta o corpo ....
Odeio ter de admitir que sinto saudades de você ... que espero seu telefonema, que espero aqui, um tanto quanto calado, pela sua voz ao telefone ... pela sua chamada para soprar vida nesta lama que sente nada ... ou sente tudo e tem de fingir que sente nada porque se precisa forte ...
e não é ...
Escuto canções que gravei para outros tantos outros não eus ... escuto vozes que dizem para mim que estou forte, que sou forte .... e sinto nada ... e sinto tudo ... e o tudo que sinto é a saudade do seu sorriso ao meu lado ... no travesseiro verde de esperança de uma vida que não vai existir ... de uma presença que não se cansa de estar ausente ... e me pego a lhe escrever coisas que eu gostaria de ler escritas por ti ... mas que nunca serão escritas ... e que, talvez, serão sentidas, mas eu nunca saberei ....
e viv erei nos interstícios das reticências julianas, das palavras julianas, e das julianas ininteligíveis que gritam palavras reticentes ... e tornam-se reticências, espaços da não palavra ... espaços de nós outros todos, cansados de tantos sexos sem nexos ... tantos outros não eus e não tus que significam nada no universo da emoção .... de tantos não tus que dão prazeres e que não são prazeres ....
Antes, quando estava pensando no
Nada, que é tudo, mas que
Como tudo o que é nada, e tudo
Hoje, significa um tudo no nada
Ingosnoscível e
Estático,
Tácito, e latente ... e que me faz
Ansiar ... desejar ... querer, desquerer, sofrer ... sei lá ....
... mas estou aqui ... para você .. que não me quer ou quer e não me pode .... não importa ... o importa? Eu tenho de fingir que não me importo ... mas me importo.
Foda-se .... eu sou ainda assim eu mesmo ... solitário ... solidário ....
Estou para ti ... sou para ti ... e vou me mudar de lógicas ilógicas.... e se não conseguir ser selvagem, serei árvores entre esquecimentos ... esquecimentos de ti e de mim... esquecimentos de uma vida que queria ao teu lado ... de uma vida que queria partilhada .. e que tenho de tê-la parte ilhada .... ilhada em mim mesmo ...
é isso ...
sou fragmentos de um ser que sempre quis, quem sempre sonhou querer e poder e só pode querer ... e não pode ....
Mas poda .... poda a sua própria querência para poder respirar .... Estou aqui .... pedaços de um eu-coração que já não sente nada: nem medo, nem calor, nem dor ... mas sente-se querendo ...
Quero que você possa … e se aposse de mim .... se, agora, você .... que não pode me ter .... que não quer me ter .... que não sei lá o que .... que possa se apossar de sua posse ao sabewr que és
a pessoa com quem me sinto completo ... nos braços, nos abraços, nos laços .... laços que eu mesmo inventei ... laços que eu mesmo criei e que acredito existir .... foda-se ...
Foda-me ... fodam-se ... estou vivo ... e vou vier com ou sem ti ... porque a vida me ensinou que ela continua .... sem que ninguém me entenda ...
Estarei aqui para ti por algum tempo .... mas não estarei todo o tempo ... porque o tempo, mesmo que não saiba passar, suplanta-se, esvai-se .. e eu ... que depois de ter você não me importo que horas são .. se é noite ou faz verão ... ainda vivo ...
E vou viver com ou sem você ....
Sabe, .... tem coisas que o tempo não apaga .... mas a vida apaga .... e eu vivo a vida ... e apago tudo que não faz parte da minha vida ...
Lembre-se de que, se eu não posso ser estrela de Belém ... vaquinha de presépio é um papel que não me cabe ... um papel que não sei interpretar ... e que não quero aprender ...
E não vou ... porque não tenho tempo .... e não quero ter .... e não terei por não querer ...
Querer você é bom .... esperar por você, não ....
E ... entre o querer e o ser bom .... sou obrigado a querer o ser bom ... e o ser bom é poder dizer: te quero, mas não tenho o seu tempo.
E decido: vivo.
Com ou sem você .... porque estou só ... e serei só até que alguém não-você me dê a alegria de estar comigo ... sem outros ... sem anéis que me retesam o prazer ... sem sorrisos largos e silêncios mórbidos ....
Não quero silêncios ... quero gritos de amor e de paixão ... e se você não os pode dar-me .... dar-me-ei gritos de silêncio no coração deste eu-coração que bate no mundo ... que bate mudo ... e que grita o silêncio da dor ...
... e do prazer ... mesmo que seja apenas um prazer carnal ....
Não importa.
Viverei ... a despeito de você ... e sem respeito a você .... porque o respeito a mim inexiste ... ou existe e não se torna real ... foda-se .... viverei ... simples assim ...
.... porque o presépio não existe ... porque as vaquinhas são ignoradas ...
.... ao passo que as estrelas brilham ....
... e eu quero brilhar o meu brilho ... talvez por isso me ilho em todos os outros eu-corações que batem, mudos, no mundo ....
... mantenho-me aqui ... para você ... se você quiser ver o meu brilho ... e ignorar meu olhar lânguido ... que apago agora ...
Contigo ou apenas comigo ... vivo ... e espero brilhar .... e espero refratar o brilho ...
e espero poder dizer, sem dor, que não me contento com pedaços. Não tenho tempo de juntar todos os pedaços que tenho de ti para ter-te por completo ... porque não tenho tempo ...
... tenho ânsia de vida ...
e viverei ... independentemente de qualquer coisa ... porque as coisas são independentes ... porque eu sou independente ... e, dependendo do ponto de vista, vivo ... dependente.
Adoro você ... mas não vivo por ti ... vivo por mim ... e eu não tenho muito tempo para esperar .... ... Vou continuar a bater, mudo, no mundo ...
E gritarei a dor de sentir-me vivo ... e de ter de conviver comigo, apenas ... a penas ..
Mas vou vivendo, de qualquer maneira .... porque a vida me ensinou, com todas as coisas que me levou, que eu vivo ... e vivo a viver a vida viva ...
Viva a vida! ...
Vivo vivo na vida, com a vida .... vívida ...
ávido de mais e mais vida ...
respiro ... olho a cidade e me digo: vivamos!
(se você quiser, isto pode ser plural ... mas eu serei plural de mim mesmo ...)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Socorro ... já não tô sentindo nada ...

Natal, 21/12/2008.

É ... não estou sentindo nada. Nem vontade de chorar, nem de rir, nem calor, nem fogo ... estou sentindo a sua ausência mórbida no silêncio de palavras não ditas ... ou ditas e inaudíveis ... não importa ... ou importa e eu não vou admitir que importa, portanto, não importa
Nem posso dizer que estou cansado, nem que estou triste, nem que estou esperançoso ... não estou ... porque escolhi não estar para estar sem querer estar.
Penso em você, confesso ... e imediatamente me auto perdôo com alguns padres nossos e algumas aves marias que não rezo porque acho tudo isso banal ...
Só sei que não é banal olhar para você em suas três posições em meu celular ... sim ... você vive no meu celular, está lá e eu posso te ver sempre que quiser .... sempre que me lembro de ter vontade de ter você ... sempre que acabo mais um encontro sem sentido e cheio de desejo da carne e sem esperança da alma ... é assim ... continuo a viver sem ti ... continuo a esperar que você me diga que está a minha espera que espera que eu te espere ... e espero, eu, assim, solo ... e no solo, porque não me dou mais ao luxo de voar pelos ares e pensar que tudo poderá ser bom como já foi outrora, não contigo, mas muitos outros seres que estiveram para mim e comigo nos momentos em que eu só queria estar outro em mim ...
Te quero ... isso é certo ... mas também é certo que sei conviver com meus quereres impossíveis, impossílvios ... e nem ligo .... ou ligo e finjo que não ligo .... não importa.
O que importa realmente é saber que você vive aqui ... no celular e no coração, na mente e nos entrementes ...
Beijo pescoços e lembro-me de ti ... e não os quero beijar mais porque não são os seus ... mas como não estou no seu rol de eus possíveis ... vou vivendo todos os eus prossílvio que podem aparecer nesta Natal a espera de Ano Novo ... A espera de tudo novo .. de renovações e de outros eus-você que possam fazer-me sentir parte do que sinto quando resido em seus braços, em suas barrigas, em suas pernas macias e tenras que adoro beijar com carinho de amor sem cobranças ...
Sem cobranças porque estou preso à necessidade de não invadir os outros que aparecem ... mas cheio de vontade de cobranças que podem destruir o inexistente ... então, não cobro, ao menos não externalizo a cobrança que me assola ... que me a solo ... assim sigo, solo no mundo ...
E tenho saudades de ti, e tenho vontades de ti .. e tenho ti em vontades indescritíveis e inexplicáveis para todos os outros que não são eu nem tu... porque não raciocino, vivo apenas ...
Vivo a penas ...
E espero por você ou qualquer você que me faça sentir o que sinto ao seu lado ...
Assim, pensando
Nada pode mudar as
Coisas que,
Hoje, sinto por ti e, por
Isso, fico a
Esperar que as coisas todas que quero se
Tornem vivas, reais,
Atuais ....
... e nem ligo pela sua ausência física ... porque minha alma ainda sente o cheiro do seu silêncio e o calor de seus beijos doces e tenros ... amenos ...
Estou aqui ... até que outra coisa mais interessante do que sentir nada e tudo ao mesmo tempo, sem ter nada nem tudo, apareça ... e me faça sentir vontade de ter só o que tenho .... e, então .. será você mais uma página virada, menos um cabelo no meu paletó ... uma saudade a menos (ou amena) na vida de esperar apenas o que pode se tornar realidade .. a vida que escolhi para mim ...
que, até este momento, quero dividir contigo ... ou não ...
porque tem tantos sentimentos na vida ... e a ausência não é um dos mais interessantes .... em algum momento haverá outro sentimento que suplantará esta vontade de você ... e, quando você acordar, se for tarde demais ... não se desespere ... não estarei mais aqui .... e isto será o que lhe dará forças para buscar, dentre os tantos sentimentos, algum que lhe sirva .... e eu ... estarei servido de sentimentos que se sente ... e se deseja que não se acabem ...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vou calar minha lembrança com o silêncio de sua não-voz

Natal, 15/12/2008.

Estranho-me ao lembrar de ti e querer ficar a lembrar dos momentos em que te conheci e me reconheci. Calar-me-ei para poder continuar a viver a vida de alma solitária e corpos visitados que me resta.
Sinto-me calmo, é certo, mas me sobressalto nas lembranças de um futuro que não existe e que defino como saudade ... saudade do que não será. Saudade do que anseio e espero, dormindo espero ... e ainda assim, não me desespero.
Sinto-me acalentado pela vontade de ter você, de estar você ... e não estou, como sempre.
Marcas de dores indolores me consomem o coração dominado pelo cérebro que conquistei em batalhas mil ... todas vencidas nesta vida de desesperança ... e revitalização da esperança de não esperar ... de não desesperar. E não desespero, porque espero a vida me trazer as alegrias que sei possuir, as felicidades instantâneas em corpos outros tantos quantos posso encontrar e desencontrar, encontrar e desencontrar e desencontrar sem encontrar o que busco na verdade.
E sigo a buscar encontros e desencontros ... até que o eu-coração se perceba feliz, nos braços e abraços quentes regados a saliva morna de bocas enternecidas pelo sabor de beijos úmidos e furtivos, úmidos e fugidios ... úmidos e vadios.
E assim sinto a vida a viver em mim. Em tardes de praia regadas a cerveja, em tardes de casa regadas a beijos mornos e ternos sem qualquer esperança de serem eternos ... em noites de encontros esquizofrênicos de prazeres carnais naturais ... e banais.
Mas na banalidade desses encontros e desencontros esqueço de me lembrar de ti ... apago-te de minhas entranhas para receber prazeres estranhos, mas ainda assim prazeres. E deles retiro minhas forças para reencontrar minha vontade de esperar o que sei estar, de certa forma, ainda em suas mãos, ainda em sua boca, ainda em seu cheiro que me alimenta a alma a cada abraço ...
Abraço, então, esse sentimento que sei morar em mim, mas que vive em outonos e invernos ... e, poucas vezes, encontra o sol do verão e a beleza da primavera. Sou estações de mim em outros poucos outros ... domino as estações primeiras, as estações que embrutecem a vida primaveril e recobrem de nuvens o sol do verão ... não tenho, ainda, as forças da ventania que trazem alguns seres que passam por mim ... que passam em mim, ainda ...
... e não quero tê-las ... quero é saber que mantenho-me vivo em dupla estação e revigoro-me nas duplas estações trazidas por ventos natalenses que ora sussurram palavras líquidas, ora silenciam a racionalidade em mim intrínseca para fazê-la gemer de irracionais sentimentos que não controlo, que não consolo ... mas que vivo intensamente até que a vida deles me separe e me faça refletir sobre o prazer de sentir, de querer manter-me sentindo ... e não poder.
E não ligo ... ou ligo e finjo que não ligo para poder subsistir a todas as coisas que não posso viver com quem quero ... e não quero viver com quem posso ... nesse eterno emaranhado de desencontros de sentimentos que é a vida ... que cala as lembranças no silêncio oferecido pelos tus da vida ...
... e vivo.
Vivo porque não tenho tempo de esperar, não tenho tempo de desesperar, não tenho tempo de querer tentar ... tento, mesmo sem querer ... e quero, mesmo sem tentar ... porque aprendi que a vida urge, que a vida muge, que a vida, mesmo que aparentemente dura, não me endurece ... me amadurece ... me torna terno e sereno e calmo ... e assim
sigo tranqüilo o caminho de areia que conquistei ... olho o mar ... sinto a maresia ... piso na areia quente e sinto o mar beijar meus pés ... acalentando-os e fazendo-os sais naturais arenosos que sustentam meu ser esperado .... assim entendo que, de tudo o que eu sempre quis, quis ter a mim mesmo ... há tempos encontrei-me inteiro, encontrei-me feliz comigo, encontrei eu eu-coração que bate mudo no mundo, mas não se cala, não se escala ... e não se descola de nada ... se imiscui em si mesmo e sente-se feliz, em noites de gala ... eu e meu eu-coração, ambos vivendo a vida que procuraram para si ... e encontraram num eu completo, num eu que vive .... e assim,
vou me tendo pela vida afora ....

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E orna-me a fronte esquecida, verde, uma grinalda de ira!

Natal, 10/12/2008.

Não há reconhecimento que dorme ao lado no travesseiro verde, como a grinalda de ira que assola a fronte esquecida deste eu-coração que tenta bater no mudo, mas torna-se mudo a cada falácia de sua tentativa insana de reconhecer-se no outro ...
Agora, separam 300 km e 1 ano e 4 meses o eu-coração de sua cara metade que o conforta com beijos calorosos ... não tem mais beijos, tem outro outro a invadir e trazer consigo uma história de 1 ano e 4 meses ... sim ... a história de um outro que invade a identidade encontrada e triparte a esperança de ter esperança na vida de encontros com outros outros confortantes ... To Só! Assim, com letra maiúscula para intensificar a Solidão de estar, novamente, mudo, em silêncio.
Recosto-me nos travesseiros outrora vestidos de laranja e que, agora, travestem-se de verde sem esperança alguma ... não há mais Eco para chegar e trazer consigo a alegria de um nós adorável ... há nós, apenas. Nós que desato e ato insistentemente ... desatarei-os, agora e buscarei outros eus em outros outros nesta Natal ...
... e sigo sozinho co minha grinalda de ira! Ou não ...
Talvez não ... entendo os outros como são e respeito-os para que este eu-coração, que sou eu mesmo (por isso tanta confusão com o sujeito do discurso, ora eu, primeira pessoa, ora eu-coração, terceira pessoa; mas ambos pessoas), possa re-sentir todas as coisas sem se ressentir de nada ...
Experimento tudo ... e deixo-me alegre enquanto posso, e sinto a brisa bater na porta da frente, empurrando-a com sua força quente, e espero, dormindo espero ...
Não, não espero dormindo .... vou dormindo com todos os outros tu-corações que aparecem na minha frente, ou ao meu lado, ao em qualquer ângulo que meus sensores possam captar ... E acordo triste e feliz, triste por ter de acordar ... e feliz por ter dormido e sentido, mesmo que por razões carnais, as emoções de outros tu-corações a vagar em minha vida vivida sem se atrelar a outras vidas ...
Mas isto é, ainda, um por enquanto ... um por enquanto que espera um para sempre, um por enquanto que se vê iluminado de carícias sentidas para sempre nos intervalos de horas termináveis ... de horas terminais ...
E, ainda assim, espero ... retiroa grinalda de ira, verde, e espero a esperança verde amadurecer e tornar-se fogo laranja no âmago de mim mesmo. E com esta esperança, ainda adolescente no trato do amadurecimento, recrudesço, por instantes, a noção de que sei esperar e de que não tenho pressa ... e de que a vida, por si, é uma peça ... peça cheia de atores e atrizes, de diretores, de camareiras, de platéia ... e eu, ator de mim mesmo nos palcos da vida que tracei para mim, que dirijo e da qual sou minha platéia, sorrio e aplaudo cada ato ... aplaudo cada vez que me ato ... aplaudo cada vez que me desato ...
E vou seguindo, sem lenço e sem documento, à procura de uma grinalda, verde, de hera, para trocar pela minha, verde, de ira ... e me desiro. Sim, desiro, assim, minúsculo para se adequar à sintaxe e à ortografia da vida ...
Pronto, desatei os nós ... e voltei a sorrir para a minha companheira solidão que está sempre à espreita, que estava esbravecida ontem e que, tenho certeza, me acalentará mais à noite ali, ao meu lado, recostada nos travesseiros travestidos de verde que me esperam no quarto de dormir ... e só dormir, por enquanto ...
Creio que ouço, ao longe, um barulhinho, algo ainda inaudível aos outros ouvidos todos que não estes meus, e deste eu-coração que já acaricia o mudo ... e tomo consicência de que toda mudez será castigada ... e esboço um sussurro ... um breve e lânguido exercício das cordas vocais, das cordas vogais ... sim ... não são mais sons surdos consoantes ... estou a emitir e a ouvir grunhidos do eu-coração ... e, ao longe ... ainda insipiente, um Eco ...
Abandono a grinalda de ira ... apanho um boné verde ... dirijo-me ao mar ... olho, observo ... visto-o para cobrir a fronte esquecida ... e me lembro de que, na vida, a sombra do meu chapéu recobre minha fronte esquecida por todos os outros não-eus. Fronte inesquecível para mim mesmo .... porque a protejo ... e só a mostro para outros não-eus especiais, que podem regar abandonar a hera que a reveste e transformá-la em ira ... ira que eu domo ... e recubro com nova muda de hera ... a espera de alguém que não a abandone, mas a regue ... e deixe a água de sua boca invadir suas raízes, sem ir embora, até que o seu verde natural, cultivado por mim, sorria labaredas alaranjadas de travesseiros que confortam ... enquanto linguas conversam palavras úmidas ...
nos travesseiros lado a lado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

De ontem, de hoje ... e de amanhãs ...

Natal, 09/12/2008.

Acordar e sentir o seu cheiro, estirar o braço e alcançar seu corpo quente e perceber que você existe e está aqui é como redescobrir minha adolescência perdida nos espaços de meus cabelos brancos.
Olho para seu rosto que dorme tranqüilo no travesseiro ao lado e redescubro o prazer de viver alado ... imediatamente penso que estou feliz e que este momento deve ser constante. E constato que a felicidade existe nos espaços dos segundos em que olho para o nós e sinto-me completo de tudo o que sempre quis: não querer nada além do que tenho, como tenho. Ou penso que tenho, não importa.
De início, não quis te ver ... não quis correr até você para poder encontrar o que sempre quis encontrar: medava. Tinha medo de que tudo o que teria pela frente fosse mais um ser a minha frente, um ser que não me dizia nada ao dizer tudo o que eu não queria ouvir.
Não foi assim quando parei de medar.
Realmente, você dizia nada. Mas seu silêncio enchia todo o meu ser de você ... e me fazia feliz em poder silenciar minhas palavras ásperas com beijos controlados pelas línguas que conversavam palavras silenciosas ininteligíveis enquanto as mãos conversavam com todo o resto dos corpos que se descobriam em duplas libras ... libriávamos.
Na mesma noite que parei de medar, parei em frente a sua casa para dizer um tchau que se estendeu por horas felizmente intermináveis de muitos gritos de nossos corpos que se descobriam mutuamente, enquanto o mundo era deixado do lado de fora dos vidros embaçados de um carro desligado ... redescobri-me mais do que descobri você. Reconhecia-me mais naqueles toques do que com milhões de palavras ... expliquei-me em você e me senti ainda mais feliz quando você preferiu não abandonar a noite de descobertas no silêncio do carro estacionado e decidiu continuar as descobertas no travesseiro ao lado.
E também redescobri que adoro ter ao lado um ser que faz-me sentir medo por instantes. Medo de me sentir amando, medo de me sentir querendo, medo de me sentir adolescente de cabelos brancos. E passa ... passa o medo ... e fica você ... e eu ... e nós.
Ficamos, então todo o tempo que a vida permitiu ... senti contigo o desejo de desejar mais e mais ... e me entreguei, de novo.
Foram dias em que estive comigo e contigo, num nós meu adorável. Num eu-coração que sorri no mundo ... que sorri mudo ... e que vive a alegria de sentir o sangue correndo nas entranhas da alma .... de respirar o ar e sentir que não precisa de asas para voar, não precisa de água para flutuar ... precisa apenas de ti ... ou de si mesmo pensando que está em ti, que esta contigo ... não importa, de novo.
O que importa é que a vida prova a cada vez que encontra alguém que diz tudo sem dizer nada que viver é poder sentir as emoções aqui dentro, aqui, no eu-coração que pensa um mundo livre, mas que abdica de qualquer liberdade para ser livre em si mesmo ... e tem o poder de sentir-se feliz ....
Desta vez não houve silêncio de minha parte... disse-lhe tudo o que sentia ... e sentia tudo o que lhe dizia ....
Você se foi, claro.
Mas deixou aqui, de novo, com palavras eloqüentes ditas pelo seu silêncio, a certeza de que este eu-coração que bate no mundo mudo grita ...
E vai continuar a gritar até que ouça, ao longe, um eco ... que vai se aproximar mais e mais ... e repousará no travesseiro ao lado ... e não vai mais para Mossoró ... vai estar aqui ... ecoando na minha vida e tornando este eu-coração mudo para todas as outras bocas que se aproximarem ...
Venha Eco ... estou me cansando de Narcizo.

sábado, 29 de novembro de 2008

Que queres eu de mim? Tu? Não, eu! Sem tu ...

Natal, 29/11/2008.

Sinto que não sei mais o que quero para este eu-coração que não mais bate no mundo. Bate no mudo. Porque descobre que o silêncio de seus quereres é uma usurpação de suas vontades plenas de desejos inexistentes no agora.
E agora?
Há momentos em que a vida pede arrego. Em que os desejos cessam para dar lugar ao não-desejo, ao não-anseio, ao não-não-sei-o-quê ... e penso: será que estou louco? E descubro que não estou louco, estou pouco. Pouco de mim.
Houve tempos em que tudo o que desejava era desejar. Não desejo mais. E o que faço? Entendo que não-desejar é estar pleno de algo que não sei o que é, é estar desejando desejar e não desejar porque o desejo tornou-se ambíguo e deseja não desejar ... é complexo isso. E é complexo por demais pensar que desejar o não desejo é, ainda assim, uma forma de desejar.
O ser humano sempre vive à procura de algo que o complete, que o encha de vida e que o torne a razão de sua própria existência ... e, infelizmente (ou felizmente, sei lá?!), quando descobre que o que o completa é ele mesmo, não sabe o que fazer ....
Estou assim: completo e cheio de mim. Cheio porque estou completo comigo ... e cheio de saber que não estou procurando mais nada ou ninguém que me complete porque me sinto completo e, nesta completude, me sinto, igualmente incompleto.
Por quê?
Porque as pessoas, a sociedade, o mundo, minha mãe, minhas irmãs, meus amigos .... todos eles jamais puderam sentir a completude de si mesmos ... e me ensinaram que estar completo é ter um outro que possa ratificar esta completude .... aprendi .... e, agora, entendo que não deveria ter aprendido algo que não é verdade, que não sinto, que não sei se quero para mim mesmo ... agora, meu pai Oxalá, me sinto eu cheio de mim ... e incompleto porque me sinto completo.
Queria eu querer um outro para partilhar .. e não quero. E fico na dúvida. Estou eu louco ou estão loucos todos os outros que plantaram na minha mente adolescente uma erva daninha que invadiu de suas raízes os meus desejos de mim ... Essa dúvida, porém, dura poucos segundos. Sei que eu sou o que está em mim e que está não querendo nenhum outro para mudar minha existência ... ou para dar a mim, ser eu-coração que bate no mudo, uma penitência ... porque me penitencio a mim mesmo já ... e não quero um juiz externo para dizer o que deve querer este eu interno, meu, só meu .... e não quero mais nada. Só quero poder nadar ... e neste nada em que nado, sentir que estou feliz e poder dizer que estou feliz e ponto. E posso.
E faço ... ou não faço, mas digo que faço para que os outros todos não-eus que estão a minha volta acreditem que o faço .... e todos acreditam. Portanto, faço.
Quando comecei a escrever, queria dizer que estou triste. Queria poder chamar a atenção de todos para a minha dor ... mas era tudo mentira. Não tem dor e eu não quero a atenção de ninguém ... porque estou eu em mim mesmo e estou bem comigo mesmo.
Sinto, vez por outra, uma vontade de ter alguém que entenda o que digo, que entenda o que quero, que entenda o que não digo e que entenda o que não quero .... mas não quero mais esse alguém porque estou bem sem ninguém .... aprendi, a duras penas, que a vida não é double, é single .... e sigo single pela vida double.
Não desejo mais ... estou. E estando vou querendo não querer e não querendo querer, mas querendo assim mesmo. Quero poder dizer que encontrei-me eu-coração que bate no mudo silencioso. Silencioso para todos os eus que não são eu mesmo ... eloqüente, claro, mas silencioso na minha eloqüência e eloqüente no menu silêncio de passos nos quadrados da vida .... porque entendo que a vida é quadrada e que eu, redondo e circular, quase cônico, quase icônico, brinco de ser cômico para poder sorrir para mim e dizer que quero não querer.
E quero não querer ....
Olhopara os lados e vejo pessoas, outros não-eus que me admiram ... outros que apenas me miram .... mas todos me miram ... e miram um eu que não sou eu mesmo ...porque estão cegos ... ou eu os cego. Na importa.
Vejo que tudo o que sempre quis está aqui, em mim ..e ressinto de ter querido não querer ... mas me regozijo... dúbio? Ambíquo? Sim, tanto dúbio quanto ambíguo ... porque descubro um eu-coração ambíguo ...
Um eu-coração que não quer mais casar e ter três filhos, que não quer mais ter outros eus em si para compartilhar porra nenhuma ... porque a partilha já de seu ... já se compartimentou a importância de partilhar .... nada mais importa. Tudo exporta. Tudo exorta.
E eu, sigo sozinho .... querendo querer e adorando não querer.
Porque tudo o que quero, na verdade, é entender que o eu-coração que bate no mudo, grita no silêncio eloqüente da vida ... e vive a penas. E vive apenas.
Mas vive ... e vive, e vive e vive ... ou não.
Que importa? Sou assim, freudianamente dividido .... tripartido ... e vivo ente o eu, o tu, o ele .... e esqueci-me de como se conjuga o nós ... mas dá vóz a eles ... sempre.
E eles dizem nada ... num silêncio eloqüente.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Muda! Muda? Não, muda!!

Natal, 17/11/2008.

De solidão em solidão, o eu-coração passa a pensar em muda. Muda! Muda? Não, muda! ... que coisa! Uma só palavra, uma só sonoridade, uma só entonação. E, pelo menos três possibilidades de se entender o muda...
A primeira, impossível: muda, verbo conjugado, no imperativo, segundo a ótica de algumas regiões brasileiras. Uma ordem vinda de um ser outro que não o eu, que não o que o eu quer para si, que não o que o eu pode fazer. É algo impraticável, inacessível ... intangível. Mudar, verbo. As pessoas não estão no mundo para mudar, muito menos estão no mundo para receber uma ordem de mudança. Não o fazem. Simples assim! Enquanto verbo, “muda” é um silêncio, uma fonte impraticável de qualquer coisa ... uma abstração. Para entender como esse muda silencia é simples, basta ver como as pessoas se retesam ao perceber no outro qualquer necessidade de mudança: fogem. E com razão! Por quê? Porque a razão da mudança, do muda que silencia, não está no outro, está no eu, que se sente carente de igualdade, de semelhança ... não há outro que o mude. O outro o silencia, apenas. Mudar, verbo, é algo que se faz durante a vida, no decorrer das necessidades dos eus que se sentem tangíveis e intangíveis, côncavos e convexos de si ... ao se sentirem desconfortáveis em si, mudam, sem imperativos, simplesmente deslocam-se para outro canto, para outro qualquercoisa ... mudam para e por si ....
A segunda, triste, é adjetivo: muda. Sem palavras, sem expressão, sem significação fora do silêncio de sua mudez ... é muda, simples: calada. E no seu silêncio consubstancia intangíveis significações para si. Em seu silêncio significa para si e adjetiva a vida em que subsiste. Sim, subsiste! Triste, embora riste aos olhos de todos os outros que vivem no mundo de silêncio imperativo. É a adjetivação da aquiescência ao universo que grita gritos de silêncios eloqüentes, quentes, freqüentes... silêncios que trazem à vida uma voz inaudível ... silêncios que trazem para a dor uma vontade de ser dor audível ... e morre no desejo de ser ouvida. Não há muda que se torne palavra, torna-se silêncio de significados mórbidos ao som de um bolero tocado na esquina da Ribeira ... ao som da dor que silencia as palavras de todos os outros gritos de silêncio ... e silencia ... emudece. Tira do eu-coração que bate no mundo o estampido, o barulho ... e o torna bagulho, fagulho de uma esperança silenciada pelas evidências .... e pelas aparências.
A terceira, vívida, é substantivo: muda. É o galho arrancado de uma roseira que se põe à terra que o alimenta e o torna uma nova roseira, uma nova vida vívida de cores intangíveis tal qual suas pares homônimas de sonoridade. Mas muda! E muda de um mero galho para ser caule de uma nova vida ... de uma nova substantivação da esperança muda que não muda porque insiste em ser mudança .... em ser muda, substantivo concreto. Nesta muda, a vida. A vida que é extraída de um pedaço de outra vida ... é a costela de um Adão vegetal que dá nova vida à sua existência fálica, fática, enfática ... é a nova muda. Muda que se concretiza em vida nova a cada gota de orvalho que beija o solo e, por osmose, transmite nova vida à muda que foi mudada ... pelas mãos de um jardineiro senhor: o destino. Sim, o destino! É ele que percorre a ordem, o silêncio e torna muda todas as mudas silenciadas pelas ordens de outros. Consubstancia-se substantivo e permite uma vida própria, uma significação própria ... uma muda própria, porque amadurecida pela brisa do destino fiel ... cruel, às vezes, mas fiel à sua função primordial associada ao tempo, que sabe passar ... e passa e traz vida nova à muda. Tira-a do silêncio, tira-lhe a subordinação da ordem ... e a presenteia com sua significação própria.
Em todas as mudas, um eu-coração que bate no mundo. Um eu-coração Clarice, um eu-coração que escarra nas bocas que beija, toma um cigarro ... e sabe que o beijo é a véspera do escarro, que o sonho é o prenúncio do pesadelo, que a calma é uma fantasia silenciosa da turbulência ... que sabe que a vida, para ser vivida, não precisa estar envolvida na vida de outra vida, porque entende a vida como única, porque sabe que viver, como amar, é verbo intransitivo ... e ama viver a vida, em silêncio eloqüente. Tudo isso para dizer que o eu-coração que aqui dedilha no teclado palavras silenciosas aos ouvidos, e eloqüentes às mentes prementes, já fez uso de todos os sentidos de muda. E mudou ... mudou para ser livre de quaisquer obrigações que não aquelas necessárias à subsistência ... que mudou para parar de insistir na mudança do outro ... que mudou para dizer ao outro que qualquer mudança que venha a fazer será conseqüência de uma necessidade de mudar de si próprio ... e que não está disposto, este eu-coração, a aquiescer a qualquer ordem, a gritar para quebrar qualquer silêncio, a arrancar qualquer galho para transformar em nova vida ... porque entendeu que a vida impera, a vida silencia ... e a vida muda a perspectiva adolescente de mudar ... este eu-coração é mudo, porque se entende como muda de silêncio imperativo que brota no mundo.