Natal, 15/08/2012.
Silêncio. Olho para os lados e tudo o que vejo são os nadas
que consomem todo o espaço vazio e preenchem de desespero a esperança que se
esvai nas sombras de nuvens invisíveis e chuvas que secam as alegrias de todos
os outros que não estão aqui.
Barulho. Salivo desejos desesperados de estar em algum lugar
em que eu não esteja, em algum lugar em que eu não seja obrigado a conviver
comigo e a escutar os gritos dos meus silêncios com cheiro de alegrias passadas
... silêncios secos e cheios de nuvens empoçadas no desespero de seus e meus
desejos de dez esperar, e esperar por dez, dez, dez, quarenta anos sem estar
capaz de esperar mais que salivas.
Barulho no silêncio. Os olhos salivam a alegria de poder
chorar sabores ácidos e desejos ávidos, ou sabores ávidos e desejos ácidos, não
sei. E também não quero ter certeza se são ácidos ou ávidos, porque basta-me
saber que são desejos salivados por olhos esverdeados de desesperos amarelados
pelo tempo em que tiveram de esperar sem poder desesperar, especialmente porque
sempre conscientes de que jamais poderiam dez esperar.
Silêncio no Barulho. Gritos, ruídos, gemidos, sussurros,
assovios, silvos, relinchos, miados: sons audíveis aos surdos que emprestam a
todos os outros que gritam nadas ao vento a esperança de poder dizer algo com
os dedos, de dizer algo e poder dizer sem que nenhum som chegue aos ouvidos de
ninguém ... e mesmo assim todos ouçam os gritos
que saem dos gestos movidos a emoção e motivados por silêncios eternos e ternos
silêncios que permeiam almas que falam, e moram em corpos silenciosos.
Perfume. Sinto o verde dos olhos amarelarem no desespero de
ver o tempo passar, as pupilas dilatarem e as papilas se deleitarem com as
cores saborosas que invadem com seu cheiro o gosto de todos os saberes que
estão (in)disponíveis para aqueles que pretendem estar sozinhos e que buscam
entender a solidão que só lhe dão porque não consegue esquecer que nasceu para
estar só ... que só nasceu para estar sol em um sistema só lar em que reside
solitário, e não vê nada a sua volta ...
Nada...
... nada exceto os gritos que saem das paredes para penetrar
nos olhos amarelados pelo tempo que contemplam os cheiros que exalam da saliva
que verte dos olhos que contemplam o silêncio.