sábado, 13 de outubro de 2012

Caótico ... cá ótico ... cá ótimo (ou não)


Natal, 13/10/2012.
Um abraço, um chêro, um bom dia ... e ninguém ainda se levantou da cama. Desejo de muitos, possibilidade de poucos, inspiração para muito poucos ... e muitos outros poucos  - que desejam estar assim, que desejam ser assim, um nada além de dois corpos unidos pelo calor da cama, pelo amor do sono, pelo silêncio do “Te amo” gritado no vazio do sorriso matinal – ainda esperam a vida vidar seus sorrisos e soçobrar suas desesperanças, transformando-as em simples esperanças que esperam tudo chegar sem ter de lutar muito,
Sem ter de gritar muito,
Sem ter de mudar muito,
Sem ter de silenciar muito,
Sem ter de muito nada.
... e ser um muito de tudo.
Cá estou. Estou cá ... caótico!
Caótico de vazios que enchem as sombras de um corpo que, sem fumaça, se enche mais e mais ... Caótico de esperanças de poder liquidar com tudo e com todos e me transformar em líquida modernidade tardia que rompe todas as barreiras e invade a constância de todos os nós que em nós habitam  ... Caótico de poder fazer tudo o que quero e de não querer fazer nada que posso... nem devo ...
Cá... ótico porque tudo o que consigo é olhar para os lados e ver nada, olhar para trás e ver que tudo se foi sem deixar nada ... de olhar para o passado e ver que tudo passou, sem passar meu amor  ... e perceber que todos os amores que passaram foram amores vis, viris e infantis, que duraram o tempo necessário para nos satisfazer, mas se mostraram incapazes de serem eternos depois que duraram ... e duraram o quanto puderam ... e foram duros no fim.
E, em alguns casos, não houve, ainda, o fim, mas o desejo de findar o que se precisa findo, de se findar o que não se pode precisar exatamente o que é ... o quem é ... e nem se se quer mesmo findar ... mas que se findará mesmo assim.
Cá. Ótico. Expectador de uma vida esperada, à espera de uma vida de expectativas ... Cá, ótico. Assim, sem poder enxergar o que está à frente, e por quê?
Porque não sei ... ou melhor, sei:
porque quando chega um abraço, um chêro, um bom dia ... e ninguém ainda se levantou da cama, a cama fora maculada pela dor da solidão, pelo descaso da desatenção, pelo desgosto de sentir a lembrança de que tudo o que se quis esteve lá, mas não se consolidou .. . e com solidão tudo restou corações cheios de vazio. Vazio preenchido pela presença de duas pessoas que partilhavam a solidão de ambos, juntos.
Solidão compartilhada.
Por isso tudo é caótico. Tudo é sem sentido. Tudo é cem sentidos. Muitos sentidos de todas as coisas que não conseguem significar .. mas que significam um tudo de esperanças de um futuro de coisas queridas, desejadas, esperadas e espalhadas por todos os lugares que os olhos alcançam ... assim ... ótica que consolida desejos de almas cheias de vazios de corações que batem no mundo.
Por isso tudo é cá ótico: apenas visões de luzes que ressurgem das nuvens espalhadas ... nuvens de algodão que sorriem para um ser que olha o sol e simplesmente sente o desejo de poder ser algodão que flutua no ar e esconde a luz distante de um sol que brilha ... nuvem que flutua protege as peles dos povos que estão abaixo ... nuvem de algodão... mas não apenas uma, mas várias, várias, várias nuvens plurais que algo dão.
Algo dão que conforta as dores, algodão sólido que se enche de álcool e esteriliza os amores que não evaporam  ... algo dão que devolve as cores aos corações que batem no mundo ....
E se imaginam aqui . Se imagina cá, singular novamente.
Cá, ótimo...
porque simplesmente à espera de um abraço, um chêro, um bom dia ... e de que ninguém tenha de levantar da cama, porque o tempo do prazer não é silenciado pelos tic tacs dos relógios que batem no mundo ... e silenciam os gritos de solidão
ou não... 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Non, Je Ne Regrette Rien


Natal, 09/10/2012
Depois de olhar para os lados e perceber que nada do que você foi, foi contigo embora, me pego a pensar nos momentos em que estivemos a compartilhar sofrimentos e alegrias mútuas, a compartilhar desejos de futuros diferentes juntos e a, aos poucos, perceber que nada do que fazíamos fazíamos para ambos. Tudo o que tínhamos eram pedaços de mim e de ti, juntos, e separados...
Separados pelo tempo de existência ...
Separados pelo medo de desistência ...
Separados pelo medo de insistência ...
e ...
Separados pelo meda da subsistência ...
Nada disso me faz pensar que não estar contigo agora invalida o estar que estivemos sem estar porque estávamos instados de outros quereres intangíveis e de desesperos ininteligíveis aos olhos de quem amava ... e odiava como toda a gente ... e que, como toda a gente, percebia que tudo era igual ... Nada ...
Nada e nada e nada e nada disso me faz sentir que me arrependo. Não! Não há arrependimentos ...
Na minha cabeça, ouço uma música velha que velha meus olhos e faz-me ficar aqui, venhando como tantos outros que envelham com o tempo e deixam que o tempo passe sem que ajam como precisam ... ecoa na mente apenas um
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien
égal!
O que haveria de le bien ou de le mal  qu’on ma fait ???
Tudo resta aqui como lembranças que molham meus olhos vez por outra, de lembranças que intumescem meus poros vez por outra, de lembranças que molham minha boca com saliva a espera de seu beijo vez por outra, de desesperanças que maculam minhas lembranças de alegrias vez por outra ...
Tudo vez por outra demais ... tudo demais vez por outra ... tudo como sempre foi: parco, pouco, pífio ... tudo como sempre tive: migalhas de carinhos recebidos, migalhas de quereres recebidos,  migalhas de desejos desejados, mas muito muito muito muito muito de amores e de palavras de carinho que representam a carência que eu supro no outro com a minha própria.
Non, je ne regrette rien ...
Nem das difíceis noites em que passo em claro a me lembrar do seu corpo a aquecer o travesseiro ao lado …
Nem das noites em que não me lembro de nada ao lado ...
Nem dos lados que as noites ao seu lado me fez revirar, fritando no colchão como alho em óleo quente ... gritando por um pouco de paz ...
Nem de nada ... je ne regrette rien ... porque estou aqui, assim, mais eu, menos você, mais você em mim, mais mim em você ... e continuamos únicos: corpos e mentes solitários que arrancaram pedaços de si para ar ao outro e trouxeram do outro pedaços que não foram arrancados, mas cedidos pelos carinhos trocados em momentos sutis, vis, viris ...
Rien de iren pode ser mais importante do que saber que estive você e que você esteve eu: estivemos. E disso, e de tudo o mais, je ne regrette.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Porque você não está aqui.

Natal, 09/10/2012.


Sempre que olho para os lados e vejo que, quando você se foi,  nada restou além de pareces amareladas pelo tempo, tintas que abandonam as paredes, e cores acinzentadas de bolor que cobrem o branco que antes assistia a nossa união, me pergunto o porquê de você não estar mais aqui ... e me respondo: porque sempre esteves aqui em inteirezas: inteirezas de metades suas e de outras metades que arrancavas de mim ...
Olho para os lados e enxergo o vazio que sai de mim e me deixa oco, mais vazio, e preenchem os espaços igualmente vazios de esperanças que – de soslaio - assistem a solidão invadir toda a casa e penetrar na alma de quem tecla palavras vazias, em teclados vazios, para olhos vazios que vão passar pelas palavras e escutar um nada que grita no silêncio da desesperança de poder estar aqui, contigo e com tudo.
Com tudo
Com tudo
Contudo não há nada contigo, nem nada com tudo. Tudo o que há é você e eu. Eu sem você. Você sem mim. E tudo continua ... continua a ser o que sempre foi: silêncio barulhento que perfuma os ouvidos; lágrimas secas que tateiam o olfato; salivas secas que umedecem a visão; odores doces que invadem a alma e arrancam sorrisos dos dedos que tateiam o infinito.
Tudo continua esperanças de novos desencontros pelo caminho cujas pedras foram arrancadas pelas enchentes de lágrimas solitárias que banharam, por inúmeras vezes, as maças do rosto que enrubesciam com o suor do desejo de estar apenas ali, fazendo nada,
Nada fazendo, mas fazendo tudo que o nada permite e, ainda assim ... fazendo ... na esperança,
E esperando que nada tivesse acontecido de ruim para aqueles momentos sabidamente efêmeros e ternamente esperados por anos a fio ... que chegaram no final do ano, para ficar por poucos anos ... e depois ir embora, deixando aqui a importância de se ser fiel a um ideal solitário, a um solitário ideal

Com desejo de partilha, de partilhar, de parte ilhar ...
Ou esperança de não partir, ou partir
Mas sempre par...
Par de ficar lá e cá,
Aqui e ali, esperando os 
Nós se desatarem, seja quando for ...
Hoje e amanhã
E depois de amanhã:
Indiferente.  Mas não foi assim que se deu e
Restei-me aqui
Infeliz, mas consciente do que é preciso fazer
Solitário, mas acostumado com o nada que exala apenas de mim
Moroso, e ainda  assim caminhando ... caminhando ...
Ostra a ficar no fundo do mar na esperança de um marinheiro que a apanhe.

Estar aqui não pode mais você ... mas resta você aqui: pedaços quebrados de esperanças coladas por lágrimas que rompem os olhos, inundam as pálpebras e escorrem rosto a fora para encontrar na boca, a saliva. A saliva do desejo de você, que se amarga – você e a saliva – com as lágrimas que arranca de olhos que enxergam o nada, o vazio. Vazio que preenche os dias, que ilumina a alma tenra ... e eterniza a esperança de novos habitantes para os olhos e, quem sabe, a cor, a ação ... e o coração.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Não vou lhe beijar, gastando, assim, o meu batom


Natal, 21/09/2012.
Entre, razão. Assim penso e assim vivo a vida que suplanta um coração que bate no mundo e sente a vontade de gritar aos quatro ventos que há tenho coração que queria ser um peixe para em seu límpido aquário mergulhar e fazer borbulhas de amor .... passar a noite em caro, longe de ti.
Assim, entre intertextualidades sem sentido e sentidos sem qualquer textualidade, vou vivendo essa vida vazia de ti e cheia de desesperanças deixadas por um pedido de adeus que a Deus pertence ...  uma simples necessidade se sobreviver, se subsistir a todas as intempéries que a idade traz ... e nos impede de correr atrás de nossos desejos de vida ... desejos de estares e de desestares ... mas desejos vívidos, límpidos e capazes de serem sentidos na brisa do mar que sopra desesperança ...
Por isso não tenho em meus lábios as cores que marquei com o batom da esperança ... com os bastão das desesperanças .... tenho, por outro lado, apenas uns lábios que suplicam um pouco de cor que só podem brotar de seus olhos marejados de lágrimas de esperança de voltar atrás e de ser capaz de não deixar que tudo fique para depois ...
Então, porque não vou lhe beijar gastando assim o meu bato?
Talvez não queira lhe beijar ... e deixar que tudo se repita num nada frequente e numa vida de desesperos intermitentes que brotam da sua insanidade, da sua insaciedade, da sua insapiência ... da sua in ... in ... in... in qualquer coisa que me exclui de ti, para me incluir nas suas carências, na suas dependências e na cobrança de que a minha independência sucumba a sua carência decadente .. a sua decadência ... a sua dez cadência ... e a sua des cadência. Sim, a sua irregularidade ... ou  a uma irregularidade regular que regula a sua vida .... e pede que a minha seja desregulada ...
Talvez não tenha eu mais batom nos lábios para colorir um sorriso apagado pelas dores de querer continuar sorrindo, mas dever continuar sofrendo pelas intempéries de subsistir na ânsia e poder ser colorificado pela coloração dos amores que vêm e vão sem deixar qualquer impressão de cores vívidas ... e que deixam uma carga de pretos e brancos que se intercalam em tons de cinza ....
 Decididamente ... não vou lhe beijar ... nem vou gastar assim, o meu batom ... resta saber o porquê de tantas reticências.... de tantas reminiscências ... quem sabe eu não esteja apenas esperando que você queria gastar o seu batom em beijar-me descompromissadamente .... ou não.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobras de vazios cheios de dor...


Natal, 15/08/2012.
Silêncio. Olho para os lados e tudo o que vejo são os nadas que consomem todo o espaço vazio e preenchem de desespero a esperança que se esvai nas sombras de nuvens invisíveis e chuvas que secam as alegrias de todos os outros que não estão aqui.
Barulho. Salivo desejos desesperados de estar em algum lugar em que eu não esteja, em algum lugar em que eu não seja obrigado a conviver comigo e a escutar os gritos dos meus silêncios com cheiro de alegrias passadas ... silêncios secos e cheios de nuvens empoçadas no desespero de seus e meus desejos de dez esperar, e esperar por dez, dez, dez, quarenta anos sem estar capaz de esperar mais que salivas.
Barulho no silêncio. Os olhos salivam a alegria de poder chorar sabores ácidos e desejos ávidos, ou sabores ávidos e desejos ácidos, não sei. E também não quero ter certeza se são ácidos ou ávidos, porque basta-me saber que são desejos salivados por olhos esverdeados de desesperos amarelados pelo tempo em que tiveram de esperar sem poder desesperar, especialmente porque sempre conscientes de que jamais poderiam dez esperar.
Silêncio no Barulho. Gritos, ruídos, gemidos, sussurros, assovios, silvos, relinchos, miados: sons audíveis aos surdos que emprestam a todos os outros que gritam nadas ao vento a esperança de poder dizer algo com os dedos, de dizer algo e poder dizer sem que nenhum som chegue aos ouvidos de ninguém                                   ...                                                       e mesmo assim todos ouçam os gritos que saem dos gestos movidos a emoção e motivados por silêncios eternos e ternos silêncios que permeiam almas que falam, e moram em corpos silenciosos.
Perfume. Sinto o verde dos olhos amarelarem no desespero de ver o tempo passar, as pupilas dilatarem e as papilas se deleitarem com as cores saborosas que invadem com seu cheiro o gosto de todos os saberes que estão (in)disponíveis para aqueles que pretendem estar sozinhos e que buscam entender a solidão que só lhe dão porque não consegue esquecer que nasceu para estar só ... que só nasceu para estar sol em um sistema só lar em que reside solitário, e não vê nada a sua volta ...
Nada...
... nada exceto os gritos que saem das paredes para penetrar nos olhos amarelados pelo tempo que contemplam os cheiros que exalam da saliva que verte dos olhos que contemplam o silêncio.

domingo, 8 de abril de 2012

Saudades do vazio, de fortalezas fracas e de dores apagadas por sorrisos vis


Natal, 08/04/2012.
E assim a vida se enche de vazios. Vazios de dores que assombram os sorrisos que apagam e amargam os prazeres vis e viris de pessoas que se sentem felizes por estarem tristes de viverem cheias do vazio que carregam consigo ... Assim a vida se fortalece de parcas fortalezas fracas que se anunciam eternas e se tornam apenas ternas ... Ah! Sim!
Ao tentar reverter o tempo, revejo o ter e o querer para sentir que nada tinha e que tudo que tinha era muito mais do que nada ... pois o nada que é tudo se transforma em quase nada com o tempo ... tempo que amarga o doce da vida ... tempo que adoça a vida amarga e enche nossos corações de esperança de se ter um nada que se faça tudo mesmo que pelos segundos que nada significam no universo dos anos que vão amarelando todos os tudo que encontramos pelo caminho que não possui pedras, mas rochas enormes que devem ser removidas, sem serem demovidas as convicções ganhas pelo existir, pelo elixir de sorrir a todas as dores aparentes e deprimentes que nos são dadas pelo simples fato de respirarmos, de pirarmos ...
Mas não reverto o tempo, reverto meus sentimentos com relação ao tempo que pedi amor e recebi calor de gravetos incandescentes de carência que supriam as minhas dependências sem acenderem os troncos de desejos que entroncavam minha vida que agora morre aos poucos no vazio de se ter um vazio cheio de lembranças ... de esperanças que se perdem no fogo dos momentos inócuos de amor, mas cheios de desejos de amar intransitivamente ...
Assim transito entre os predicativos dos sujeitos e dos adjuntos que vão sendo deixados junto de outros pelo trânsito do existir, do insistir, do resistir, do desistir e do redescobrir que a desistência é também uma forma de resistência e de insistência para se manter a existência nesse mundo mudo que grita feliz idade e infelicidade por se ter a idade de saber quando se deve poder fazer algo para manter a sanidade.
É desta maneira que a vida sorris vis sorrisos tristes e nos fornecem fortalezas fracas para que possamos aos poucos soltar gargalhadas que ofuscam as dores e fortalecem o desejo de apagá-las com o vazio saudoso.
Saudoso de tudo prementemente ...
Saudoso, na verdade, dos sorrisos vis que não apagam as dores, mas apenas colorem o vazio com um arco-íris de inúmeras nuances de prazer, de ânsias nuas de desejos cobertos de calor eterno e terno e tenro. Desejos que cobrem as dores e ofuscam os odores das flores do jardim da nossa casa, que morreram quando você fortaleza fraca se levou consigo e não insistiu,  desistiu e não resistiu aos gritos da vida lá fora, que diziam para que tu fostes com ela ser eterno ...  
... para que eu pudesse seguir eternamente terno, e grato por ter as dores apagadas por sorrisos vis de fortalezas fracas que retiram a saudade do vazio.
Por isso, vadio.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Enquanto passa, encanto passa ...


Natal, 06/12/11.
Enquanto passa o passado, o presente passa sem presentes, o futuro passa sem precedentes e chega sem pretendentes ... e a gente quase sem dentes para morder a vida que corrói ... e rói todas as esperanças de desesperar o esperado sem desespero, e passa tudo também ...
Passa o desejo de se ter o que não tem sem ser o que se quer ser ...
Passa o tempo que deixa nas têmporas as marcas brancas de um passado que passou e deixou de presente um presente de ausências ...
Passa a cor e o sabor de olhar o mar e marear os olhos de lágrimas salgadas de alegrias tristes que se sobrepujam aos anseios de sorrisos que também passam ...
Passa a avidez e a vida ávida de ávidos desejos vis e viris que se estendem e distendem as tendências de alegria para deixá-las distendidas, estendidas e inertes de alegres sorrisos de alegoria ...
Passa o encanto e fica no seu lugar o desencanto de saber que o encanto foi e sempre será apenas por enquanto ... e porque por encanto, se enquanta tudo o que a vida oferece (e toma em seguida).
Passa o desespero
e também passam na frente dos olhos nus pernas bundas coxas peitos braços e costas que deixam apenas a esfera que rola das encostas e cobre pernas bundas coxas peitos braços e costas que andam pelas águas de areia ...
e fica a espera... e por isso espero.
Espero poder esperar tudo que de novo o velho ano traz e leva e leva e traz e nos deixa atrás de algo para sentir, de algo para fugir, de algo para insurgir anseios de desesperados desejos desejados em duetos carnais na beira do nada que assombra a sombra das árvores que rodeiam o mundo mudo.
Silêncio.

Faz-se o silêncio para se escutar um coração que bate no mundo.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ano novo, vida velha.

Natal, 05/12/2011.

Ainda não chegou o ano novo e nem as emoções que fazem com que todos nosotros tenhamos vontade de ser ano novo, de estar ano novo, se matar ano novo ... e deixar de matar a vida que se esvai por entre os dedos dos outros tantos outros que controlam quereres e saberes que permitimos controlarem.
O novo é velho e o velho se torna velho de novo a cada momento que penso na vontade de ter vontade, na ansiedade de ansiar, no desejo de desejar ... e vou velhando todos os novos velhos que se apresentam sem brilho novo, porque velhos estão ... velhos são ... velhos permanecerão ... e, então?
Então não tem nem em, nem tão, tem nada no meio de tudo que se assemelha a tudo sem ser nada e vamos nadando no nada que no ano novo continua a nadar tudo, a transtornar em nada todo o nada de um tudo inexistente, persistente, insistente ... intermitente.
E dizemos: tente!
Tente o quê?
Não sei ... e nem tento saber porque sei que não tento mais, não atento mais, não alento mais ... não acalento mais ... e mais nada.
Ano novo passa e ano velho chega ... e chega sem nada também.
Nada de desesperados desejos de desejar. Nada de desejos desesperados, nada de desejos esperados ... apenas coisas vis vão vindo e indo e continuando vis ... vis-à-vis ...
Ainda não tem nada ainda ... ainda nada tem ainda ... tem ainda nada ainda ... e vamos aindo sem saber se entrando ou saindo ou, ainda, se temos ainda algo para sair e entrar no vazio de um tudo cheio de nada que habita as vísceras vis de seres humanos ainda mais vis como eu.
E vou visando ... tentando visionar algo que possa ser vislumbrado, deslumbrado ... e continuo a ser assim, em tudo um nada que consome a paz e tira a paz que não existe em tudo.
Não tem ano novo ... não tem ano velho ... não tem velho ano, não tem novo ano ... só tem voos rasos em planícies velhas, em estradas velhas, em caminhos velhos, em carinhos velhos ...
Carinhos envelhecidos por anos novos que já nascem velhos ... e assim, sem nada de novo, digo: feliz ano, velho!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quereres e podreres ... fazeres e afazeres. Prazeres?!?

Natal, 05/08/2011.

Depois de razões rasas, que fazeres? Aceitar os afazeres e esquecer prazeres. Assim caminha a human idade, a human velhidade, a human veracidade ... e caminha para descobrir o que já sabia de antemão: quereres são tudo aquilo que podreres podrem ... ou, como diz Caetano (ou não) são tudo aquilo: podres poderes.
Na vida entendo que vidar é saber e poder respeitar o que podem outros, e não podemos nós. Nesse jogo, os que podem nos podam ... porque podem podar com seus poderes.. e vão continuar podendo e podando enquanto tudo o que inexiste se esvai na existência de subsistir ... porque o que se pode é apenas subexistir.
E vamos existindo – sem ficar insistindo – em coisas que não se pode exigir, nem exibir... afinal, subsistir é o lema.
Nesse compasso, podemos fazer o que temos de afazeres e devemos nos esquecer de todos os prazeres que vão desprazeirando tudo porque demoram de serem podíveis ... são, na verdade pocíveis ... (e aqui não há erro, há mistura de fundos cheios de não possos – assim, numa substantivação negativa de verbo fora da gramática)
Tudo é um mar de quereres .. um mar salgado de poderes que vão maresiando os desejos e marejando os olhos que fitam o nada que é tudo e tem um coração que bate no mundo ... e bate sem dó ... e bate sem pó ... porque apenas bate bate bate ...
Bate tanto que dá uma surra no que se quer e fica examenando tudo o que o mundo - esse chamado de globo que não é TV - põe em exame ... (ou em vexame?) aos olhos nus dos sem poder.
Assim, sem açúcar e sem afeto, faz-se doce predileto do fel que amarga desejos incompreendidos e devasta tudo e a tudo dá vasta força ... e vai vai vai ...
Roubaram meus desejos para des(p)ejar tudo o que fosse possível ... e tudo tornou-se, então, prossilvio.
Silvilizadamente, então, tudo o que era querido no passado para construir um querer, para por em exame tudo o que se quer e, depois, reestruturar o querer de outros em querer próprio. Não é a primeira transformação silvilizada que acontece ... sempre acontecem trans-formações, re-formaçõoes.
Queremos, doravante que tudo seja exame, que tudo seja, enxame ... enxame de borboletas atírias que se atiram no globo e roubam o néctar do mar salgado, que inventigam o dito, o não dito. Sem pressupostos, sem presumidos, mas sempre assumidos como queridos.
Via, então querer ... e queira o que queres ... qualquer coisa, o doutor resolve.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Vidas cheias de razões rasas

Natal, 03/08/2011

Disseram-me que haviam dito que diziam que a solidão é que faz bem ... e que que alguém tinha cantado que tudo queimava e nada aquecia ... e tentei escutar, tentei escrutar, tentei perscrutar e só consegui compreender quando pude auscultar ...
Tive de auscultar o sangue que corria nas veias e nas veias e sentir a alegria de poder auscultar e encontrar coragem suficiente o bastante que desse para medicar ... e meditei... porque não podia medicar nem mendigar migalhas de quereres inqueríveis e muito quistos na vida que estava cheia de cistos ...
Cistos que buscavam florescer câncer nas entranhas das alegrias que doíam a cada dia que passava sem que as coisas passassem ou novos passageiros passassem ou ficassem nos olhos amargos de alegria externa exterminada por dores internas internadas nas entranhas da alma ...
Resolvi, então, querer o que estava querendo e entender que o melhor querer é aquele que entende o que deve ser entendido e sentido, mesmo que vez por outra esteja adormecido ... ... ... para logo depois estar intumescido ...
... de alegrias momentâneas, dores passageiras, prazeres passageiros eternos e muita vida que fica vidando a alegria de se sentir prazer ...
É ... o tempo transforma tudo em vida, o tempo vida tudo porque, ao vidar, faz com que tudo seja visto pelo ponto de vista da vida que tem lá suas razões para fazer com que todos sejamos obrigados a desvidar ... sem dúvida: a vida tem suas razões.
E falar que essas razões são razões que a própria razão desconhece não tem nenhuma razão de ser ... é irrazoável ...
Tudo o que se quis sempre foi querer continuar querendo e quando esse querer não quer mais, a gente pensa que não quer porque quer ver que quer ... e vai continuar querendo com ti nuar.
Nuar as razões e deixá-las envergonhadas de sua nudez, de sua naturalidade despida ... desguarnecida de máscaras que sustentavam a sua razão de existir ... sempre existir ... e nunca desistir de ter o que nunca teve: razão.
Quando vemos a razão desnuda, entendemos que o inquerível é apenas aquilo que não queremos: estar só ...
E não estar só, tem seu o preço ... tem seu berço ... berço esplêndido que o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no sal da pátria nesse instante ...
... e nesse instante, aquele que disse que tudo queimava e nada aquecia, tem de aquiescer ...
... e viver ... e sobreviver ... sem ter de sóbrio viver ...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Em canto isso ...

Natal, 29/07/2011.

De tudo, um nada ... de nada, que nada ... e tudo ... muito de tudo e tudo de muito pouco.
Há tempos e templos não me via por aqui. Estava lá, com muitos eus que nada sabiam e que nada queriam, mas que eu queria estar e deveria levar comigo para que consigo estivesse em mim mesmo. Estive em dor ... estivador ou em louvor, ou torpor ...
Os parcos tempos que tive, mantive-me em templo construído com esperança ... e desesperança de esperar desesperos que não vinham e de sentir a vida passar pelas veias (ou pelas véias) que transportavam sangue são em corredores escuros empurrado por um coração que batia mudo no mundo. Nos templos que construí, destituí meus próprios momentos para sentir os movimentos loucos que a vida traz para da gente ... gentei, como já disse antes ...
E agora gento comigo ... gento na esperança de poder me sentir como gentes felizes que vão consumar a sua existência vil em resistências e desistências ... senti, nesse tempo em que gentava, a energia de estar feliz, sem me saber infeliz ... e infeliz por não poder sentir-me completo, mas feliz com minha incompletude.
Passou ... quanto a mim ... passou o tempo de não me olhar de dentro para fora e não me sentir dentro e fora de mim para me analisar e me saber em mim .. em me sabor em mim ...
Esperei que tudo fosse breve – não foi. Esperei que tudo fosse brevê – não foi porque não voei ... não resvalei nas nuvens para me sentir água flutuante, não resvalei no solo para me sentir terra ardente, não me resvalei nas plantas para não me plantar naquele lugar em que estava sem mim ... ausente de eu mesmo e carente de eu mesmo ... mesmo eu!
Aqui, cá, de novo estou ... e vou estando tudo o que posso enquanto tudo o que não posso não é em mim o que posso ... porque estou poço ... poço de vazio cheio de nada que é tudo ... e com tudo o que é nada transbordando no vazio poço que seca ... que cega ...
E vamos seguindo esse silêncio de muitos gritos meus ... calados pelo grito de um nada que invade tudo ... caiados por brancas nuvens que não choram ... brancas nuvens que secam no vento e ventam a alegria de se esvair no ar ...
E assim, volto ... sem muito o que dizer, mas muito dizendo sem querer...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Queros. Queres?

Natal, 10/11/2010.

Quero ver e reverter as dores que bebo em copos amarelos em sabores de exterioridades de um eu inexistente, inconsciente, mas latente de inexistências completas de vazios cheios de nada.
Quero retesar em mim as lágrimas que vertem de olhos que olham o vazio e sentem o vazio de estar em si e de sentir o desejo de se encher de muitos eu-corações que não batem mais no mundo ... batem mudos: calados por dores e odores que sentem em todos os poros que vertem de si os prazeres silenciosos de muitos gritos abafados pelo sentido das dores que não doem, mas corroem os significados silenciosos ardentes de desejos cautelosos ... de anseios caudalosos.
Sem riscos e sem coriscos, quero transbordar silêncios vis e viris ... e poder sentir o desejo de desejar não desejar, mas correr para longe de todos os não quereres que podem se estacionar nas glândulas lagrimais de olhos que veem o invisível e obstruir a passagem das lágrimas que reteso.
Sem anseios de cumprir pena na liberdade assistida pelos olhos sociais do desprazer, quero reter-me, mas sem deter-me em incognoscíveis gritos calorosos ou ardorosos.
Sem desassossegos, quero estar estando em mim, em esferas estratosféricas de muitos sentimentos indizíveis, de muitos sentimentos invisíveis, mas sentidos em carnes cortadas por facas afiadas por palavras sem sentido, mas que produzem sentido ao serem sentidas em seus múltiplos significados.
Sem nada, quero tudo o que pode haver e tudo o que não há, quero poder criar simplesmente para poder ter o que não foi ainda criado por outros, mas que subsistem em mins afagáveis, em mins afogáveis, em mins ... mins que são múltiplos nos significados, mas únicos em significantes, assim, significantes únicos plurais.
Dizia quero, mas querer não é conjugável em primeira pessoa nesse universo de mins, deveria dizer queros, porque queros já é um plural singular. Queros é um querer de muitos consubstanciado em um único múltiplo, que de singular tem apenas a pessoa de quem emana tantos queros.
Queros tudo.
Queros tudo que tem nada.
Queros nadas que têm tudo.
Enquanto os queros vão sendo elaborados, os desqueros vão sendo eliminados por todos os outros sentidos abafados na singularidade plural do simples querer.
Mas o que queros, afinal? Queros estar aqui querendos ... morrendo aos poucos com os odores da vida que se esvai, mas não vai, porque quer mesmo é ser esvaída aos poucos, em copos amarelos iniciais, em vistas turvas finais, em vísceras intermediárias que não intermediam nada, apenas estão no meio do nada que é tudo envolvido por quase tudo.
Queros liberdade... ou mais ... quero descobrir que estar livre é estar em seus braços, cheio de abraços fracos fortes de emoções que imagino na minha mente que quer todos os queros.
Queros estar contigo ... porque queria dizer que descobri a liberdade de poder não falar o que queros, de ouvir o que não queros ... e, ainda assim,saber o que queros... ou queremos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

em quanto isso ... em canto isso ... encanto isso.

Natal, 19/10/10.
Enquanto tudo passa, passa os quantos tantos quereres que queríamos ao longo da existência vil e vamos nos comensurando ao poucos que são incomensuráveis para nós e nos dizem coisas que não queríamos de nós mesmos saber ... mas precisamos.
Precisamos incomensuravelmente saber quem somos, onde estamos e o porquê de estarmos estando aos poucos mocos de nós mesmos, mocos pelos nós de nós ... e aos poucos cheios de nós em nós ... que desatamos com dentes vívidos e olhos ávidos pela alegria de poder não estar sendo, sem ter sido ... mas sendo assim mesmo.
Ponto final. Para quê, se as interrogações exclamam a dor de não saber de nada e querer que nada saibam de nós ou dos nós que temos em nós? Não estou atrás de pontos finais, nem depois deles porque pontos finais são sinais de fins e sou inacabado, incompleto porque sou completo de mim e de muitos mins que habitam minha consciência inconsciente das dores que sussurram palavras invisíveis aos ouvidos moços ... que ouvem e auscultam as predições de um coração que bate, forte, e sussurra gritos silenciosos de alegria aos movimentos dos nervos que exalam calor e exaltam as dores de existir ...
... e de insistir ...
insistir que tudo pode ser muito mais do que poderíamos querer ter sido, que poderíamos ter tecido ... e nos retorcemos no que, sem saber, temos insistido e assistido sermos ...
somos em quanto ... e enquanto somos, vamos subsistindo na alegria de existir e resistir. Resistir às dores e às flores que vamos colhendo pelos caminhos cujas pedras inexistem porque as transformamos em areia à beira do mar, à beira do amar ... e amamos.
amamos amenos amores
amamos amenos sabores
amamos amenos dissabores, mas
amamos, ao menos
e não amamos menos,
nem somos amenos aos sabores dos amores.
é isso que somos, somos amantes de amores não amenos, não serenos, não terrenos, somos marcianos de nós, somos nós de marcianos que habitam o verde da vida e veem a vida passar aos poucos e não a deixamos passar por nós amenamente a vida que em nós existe, que em nós insiste ... e que não precisamos desatar porque estamos a ela atados por nós invisíveis de cordas fortes que não são vocais, são vogais abertas que emprestam vida às consoantes de nossa vida .... aos consoantes de nós.
Somos difusos, somos em quantos? Somos tantos.
Tantos segredos que cercam nossos nós que vamos nos cercando de nós mesmos para podermos dizer a todos os não-nós que somos o que queremos ser e não tememos o que queremos ter e ser ou reter ou deter ou verter.
Vertemos nós ... porque é o que temos, por enquanto.
E desses por enquantos que encontramos nos caminhos de areia, ouvimos vozes que nos dão em quantos? Em muitos ... porque nos dividimos para existir para os outros e nos completamos com a divisão que de nós fazemos.
Ao dividir, multiplicamos os nós, e vamos nos desatando com outros nós que encontramos pelos caminhos sinuosos e silenciosos de nossos gritos invisíveis ... de nossas palavras intangíveis e ininteligíveis aos outros ... mas nos completamos de nós.
E o nós não são apenas os eus divididos, são os eus e tus que se associam por tempos determinados pelo não saber quanto tempo, e vamos em quantos? Em dois.
Dois que não são um porque são dois, evidentemente. É em quanto?
Em quantos?
À cântaros!
Por isso não somos amenos ... somos, ao menos, nós ...
Que temos o que merecemos,
Que desejamos querer ter sido o que somos
Que não dez esperamos, apenas esperamos dez.
Dez de alegria, desde que não sejamos só nós, mas que sejamos nós todos em dueto com a alegria de podermos dizer: somos ...
Mesmo que isso seja apenas por enquanto. Ou por encanto ... ou em canto.
Canto de nós.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O que quer dizer o que quero dizer?

Natal, 06/10/2010.
De muito do que se quer dizer, nada se pode dizer sem querer, pois o que se diz sem querer é o que se quer dizer sem poder. E, como somos seres em possibilidades de poder dizer o que queremos dizer, dizemos o que podemos ... e, aos poucos, ficamos sem dizer mais nada porque o que se diz já não condiz como que se quis.
Assim, caminhando no silêncio das palavras auscultadas pelos ouvidos mocos de corações outrora selvagens, seguimos sem dizer nada, sem querer nada, sem nada poder querer e querendo poder dizer que queremos o que quisemos, sem querer muito, ou querendo muito sem conseguir explicar os porquês dos quereres se esvaírem em cotidianidades acéfalas que organizam os eu-corações que batem no mundo ... seguimos a vida e a vida seguimos, perseguindo os quereres antigos e refletindo muitos antigos quereres retesados nas dores dos olhos tristes que sorriem lágrimas invisíveis a cada momento de despoder dizer o que se quis.
Assim, desse jeito, a vida vai levando os poucos sorrisos de alegrias ditas aos outros todos, e torna a existência uma sentença com muita subordinação, pouca coordenação e diversas adversações, ou seja, a sentença se torna sentenças e as sentenças torna-se períodos de parágrafos longos que infringem as regras do texto criado com tanta coesão na cabeça da gente que se esquece da coerência necessária à existência vil, viril, ardil e pueril que queríamos poder dizer que temos ...
... e temos
... e tememos
... e teremos
Ou, pelo menos queremos ter.
Assim, de novo, vamos tendo tempos de sorrisos invisíveis, de lágrimas transparentes que não cruzam o rosto porque sequer nascem das pálpebras cansadas de existir na subsistência de uma existência quase inexistente, mas sorridente, às vezes.
Às vezes, porém, nada disso é o que quero dizer ... às vezes quero dizer que tudo são lágrimas que transbordam das pálpebras, invadem a face e entram na boca: água salgada que rega o coração partido, bipartido, entretido ... enternecido de poucas aflições, e cansado de tantas comiserações de uma vida volátil ...
E assim, vísceras da vida recobrem sorrisos largos, afagos parcos, e aspargos amargos comidos nas refeições naturalistas de carnívoros sedentários ...
Somos assim, complicados de nos entendermos, complicados de nos enternecermos, mas cheios de vida que existe em nós ... em nós que desatamos a cada dia, para criarmos novos outros nós que vão ser, novamente, desatados .... enquanto nos desatamos da vida que queríamos poder dizer ter e nos retesamos na entrada da vida que efetivamente temos.
Digo, então, vou ainda querer dizer muito mais, mas digo que jamais deixarei de dizer que viver é assim, sem calar, calando aos poucos numa subordinação à regularidade, è regular idade que vem chegando e nos deixando cada vez mais sem saber o que dizer. Neste silêncio que grita palavras invisíveis a ouvidos mocos, grito: Tô vivo, e vou vivendo todos os momentos sem que ninguém diga que não os vivi.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Interventão: Em meios, entremeios, de eus aos meios.

Natal, 24/09/2010.
Em meio a um mar de coisas, muitas meias coisas para o mar, coisas ao meio para amar, mar de amor para amar, ou para o mar ... terá outro meio? Talvez.
De todas as coisas pelo meio que no meio de nossas vidas vão aparecendo, somos meio bobos e nos entendemos pelo meio que somos. Metades. Metades de coisas que meio queremos, meio não queremos, mas que nos colocam no meio de tudo o que há, no meio de tudo que ao mar queremos levar e que do mar queremos, pelo menos um pouco, resgatar, retratar, refratar ... somos e vamos sendo meio de metades de tudo que somos pelo meio.
Não temos como nos afastarmos de nós e nos vermos pela metade que deixamos em nós mesmos, e vamos vendo nossas metades nos tornar inteiros nos momentos de felicidade e nos tornar menos do que metades nos momentos de infelicidade, mas tudo são metades de alegrias porque as metades de infelicidade são grãos férteis em terras inférteis de um querer febril que nos torna meio inconscientes de nós meiosmos ...
Vamos sendo, então, osmose constante que irriga nossas veias meio entupidas de vícios que vamos recolhendo do meio em que vivemos. Vícios bons, vícios maus, vícios meio maus, e vícios meio bons.
Parece que pensar em vícios sempre nos dá uma impressão meio ruim. Mas isso é apenas metade da verdade em nosso meio. Há vícios que são meio maus: aqueles que nos deixam meio tristes ... vícios meio bons: aqueles que nos deixam quase meio tristes ... vícios maus: aqueles que nos fazem ver a nós mesmos como meio das dores dos outros ... e vícios bons: aqueles que nos fazem ver a nós mesmos como ruins, sem sentirmos dores de sermos ruins em nós que vamos fazendo em nós mesmos ...
Todos esses nós, aparentemente ruins, são nossos pontos de refúgio, são os locais da corda de rapel em que nos apoiamos na ribanceira da vida quando estamos no meio da vívida vida vivida ...
O amor fazedor de nós na corda da vida é o mesmo amor que nos coloca no meio de tudo. É o mesmo amor que nos enternece ao anoitecer à beira da praia observando o mar meio revolto que deita suas ondas na terra e umedece a cratera criada em nossos corações meio esburacados pelo tempo de bombear sangue para todas as veias meio entupidas ...
Somos efêmeros ... meio isso, meio aquilo ... e nada pelo meio.
Não há meio. Vamos nos completando a cada dia com as dores que sentimos e que transportamos para uma personalidade meio confusa, em meio a tantas respostas dispares, ou seja, meio razoáveis, meio loucas...
Então, não tem outro meio, vamos levando todas as coisas para o mar: não meias coisas, mas coisas ao meio, porque as esbugalhamos com nossos dedos com veias meio entupidas e que enxergamos com nossos olhos meio turvos, meio curvos .... estrábicos, olhos que sentem o vento que venta na ventania que nos levam para toda parte do imundo mundo que somos obrigados a viver meio mudos.
No silêncio de nós ao meio, gritamos: não estou ao meio, estou no meio de tudo o que há para viver, estou a viver no meio de tudo que não viverá mais do que se pode ou se deve, no meio de todo o nada que é tudo o que temos ... é nesse momento que podemos sair do meio de tudo e podemos ficar com nós inteiros.
E, inteiros de nós, ficamos no meio de todas as coisas feitas (e que construímos) para amar. No meio de eus-corações-que-batem-no-mundo, mudos de prazer por poder subsistir e dizer “Não estou ao meio, porque sou meio idiota mesmo”, sentimo-nos inteiros. Inteiras metades de nós, cheias de vós ... e muitas vezes sem voz.