Natal, 14/04/2016.
Muitas vezes sem ti é estar contigo em vazios eloquentes de
sentimentos plenos de nadas completos em mim. Sim, sei sem ti e sei sentir sem
sentir desesperos loucos ou rompantes quaisquer.
A minha glória é essa, é poder criar felicidades de coisa
nenhuma, é poder sorrir com os hormônios que não produzo, é poder descriar infelicidades
de saudades que existem apenas aqui, em mim ... saudades sem ti ... ou sem tis
alguns que rondam a vida vazia que subsiste em lágrimas felizes e orgasmos
inexistentes.
Impressiono-me de mim mesmo ao perceber que tenho, eu mesmo,
a minha loucura e carrego-a como um facho a arder na noite escusa e a se apagar
em corpos desconhecidos e olhos vazios de alegria que sorriem com orgasmos da
carne. Sinto coisas e sinto-me pleno de loucura.
Loucura de poder perceber que assim é a vida, que assim é
viver para poder sorrir sem que o sorriso origine-se externo. Loucura de saber
que a sanidade é uma prisão e que a libertação não é um livramento condicional
ou uma liberdade assistida. Percebo que não é lei, não há lei ... há loucuras
sanas...
Outro dia me peguei a pensar que estava triste e me vi feliz
por saber que era apenas um pensamento ...
Nenhum pensamento se torna sentimento pleno, penso-o e no
minuto seguinte ele se foi de mim ... deixou-me sem sentimento? Não, deixou-me
o sentimento ... para dar lugar a outros tantos sem ti.
Tenho a sabedoria de ser assim calmo, assim vasto, assim
pleno, assim...
Ubiquidade me define. Sou isto e aquilo ao mesmo tempo,
estou em diversos lugares concomitantemente ... porque sou assim, com ou sem ti
... não é em ti que me refaço, refaço-me em vazios plenos de mim ...
Sentimentos estranhos te definem ... tergiversas a tudo que
parece ser aquilo que – em verdade (se há uma) – te completa.
Angustia-me o vazio pleno de seus olhos que fitam o mundo
como se fosse apenas algo fora de si.
Bestifica-me ouvir desesperanças de uma boca que transborda
esperança emudecida por uma rudez inexplicável, por uma rudez incongruente com
o todo que é ti. Tu te delatas nos gritos silenciosos que morrem na sua boca.
Esses gritos, assassinados por palavras tão frágeis quanto
estilhaços de fuzis, são audíveis ... não para muitos.
Sei, evidentemente, que podem não ser suas as palavras, mas
ecos de Humbertos mortos... fico sentido de saber que tudo pode ser uma ilusão
construída sem ti, nascida porque regadas de lágrimas secas que brotaram assim,
do nada, ou de imagens inexistentes para outros olhos que não os meus, ou que,
simplesmente, brotaram de um mim que sente sem ti.
Deixo tudo para lá e vou-me assim ...
Eterno ... e terno, e sereno, e calmo e ...
Nada sinto que não se origine em mim ...
Antecipo fins para presenciar fim nenhum.
Deixo-me ao léu, ao céu ... aos ventos que carregam tudo.
Ando ... corro ... voo ... e continuo parado na minha
alegria de não ter.
Basta! Afinal, para que servem as palavras, se a casa está
deserta?
Ou ter a chave, se a porta está aberta?
Yes,
nothing makes sense, if the sense is not sensitive.