terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Enquanto passa, encanto passa ...


Natal, 06/12/11.
Enquanto passa o passado, o presente passa sem presentes, o futuro passa sem precedentes e chega sem pretendentes ... e a gente quase sem dentes para morder a vida que corrói ... e rói todas as esperanças de desesperar o esperado sem desespero, e passa tudo também ...
Passa o desejo de se ter o que não tem sem ser o que se quer ser ...
Passa o tempo que deixa nas têmporas as marcas brancas de um passado que passou e deixou de presente um presente de ausências ...
Passa a cor e o sabor de olhar o mar e marear os olhos de lágrimas salgadas de alegrias tristes que se sobrepujam aos anseios de sorrisos que também passam ...
Passa a avidez e a vida ávida de ávidos desejos vis e viris que se estendem e distendem as tendências de alegria para deixá-las distendidas, estendidas e inertes de alegres sorrisos de alegoria ...
Passa o encanto e fica no seu lugar o desencanto de saber que o encanto foi e sempre será apenas por enquanto ... e porque por encanto, se enquanta tudo o que a vida oferece (e toma em seguida).
Passa o desespero
e também passam na frente dos olhos nus pernas bundas coxas peitos braços e costas que deixam apenas a esfera que rola das encostas e cobre pernas bundas coxas peitos braços e costas que andam pelas águas de areia ...
e fica a espera... e por isso espero.
Espero poder esperar tudo que de novo o velho ano traz e leva e leva e traz e nos deixa atrás de algo para sentir, de algo para fugir, de algo para insurgir anseios de desesperados desejos desejados em duetos carnais na beira do nada que assombra a sombra das árvores que rodeiam o mundo mudo.
Silêncio.

Faz-se o silêncio para se escutar um coração que bate no mundo.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ano novo, vida velha.

Natal, 05/12/2011.

Ainda não chegou o ano novo e nem as emoções que fazem com que todos nosotros tenhamos vontade de ser ano novo, de estar ano novo, se matar ano novo ... e deixar de matar a vida que se esvai por entre os dedos dos outros tantos outros que controlam quereres e saberes que permitimos controlarem.
O novo é velho e o velho se torna velho de novo a cada momento que penso na vontade de ter vontade, na ansiedade de ansiar, no desejo de desejar ... e vou velhando todos os novos velhos que se apresentam sem brilho novo, porque velhos estão ... velhos são ... velhos permanecerão ... e, então?
Então não tem nem em, nem tão, tem nada no meio de tudo que se assemelha a tudo sem ser nada e vamos nadando no nada que no ano novo continua a nadar tudo, a transtornar em nada todo o nada de um tudo inexistente, persistente, insistente ... intermitente.
E dizemos: tente!
Tente o quê?
Não sei ... e nem tento saber porque sei que não tento mais, não atento mais, não alento mais ... não acalento mais ... e mais nada.
Ano novo passa e ano velho chega ... e chega sem nada também.
Nada de desesperados desejos de desejar. Nada de desejos desesperados, nada de desejos esperados ... apenas coisas vis vão vindo e indo e continuando vis ... vis-à-vis ...
Ainda não tem nada ainda ... ainda nada tem ainda ... tem ainda nada ainda ... e vamos aindo sem saber se entrando ou saindo ou, ainda, se temos ainda algo para sair e entrar no vazio de um tudo cheio de nada que habita as vísceras vis de seres humanos ainda mais vis como eu.
E vou visando ... tentando visionar algo que possa ser vislumbrado, deslumbrado ... e continuo a ser assim, em tudo um nada que consome a paz e tira a paz que não existe em tudo.
Não tem ano novo ... não tem ano velho ... não tem velho ano, não tem novo ano ... só tem voos rasos em planícies velhas, em estradas velhas, em caminhos velhos, em carinhos velhos ...
Carinhos envelhecidos por anos novos que já nascem velhos ... e assim, sem nada de novo, digo: feliz ano, velho!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quereres e podreres ... fazeres e afazeres. Prazeres?!?

Natal, 05/08/2011.

Depois de razões rasas, que fazeres? Aceitar os afazeres e esquecer prazeres. Assim caminha a human idade, a human velhidade, a human veracidade ... e caminha para descobrir o que já sabia de antemão: quereres são tudo aquilo que podreres podrem ... ou, como diz Caetano (ou não) são tudo aquilo: podres poderes.
Na vida entendo que vidar é saber e poder respeitar o que podem outros, e não podemos nós. Nesse jogo, os que podem nos podam ... porque podem podar com seus poderes.. e vão continuar podendo e podando enquanto tudo o que inexiste se esvai na existência de subsistir ... porque o que se pode é apenas subexistir.
E vamos existindo – sem ficar insistindo – em coisas que não se pode exigir, nem exibir... afinal, subsistir é o lema.
Nesse compasso, podemos fazer o que temos de afazeres e devemos nos esquecer de todos os prazeres que vão desprazeirando tudo porque demoram de serem podíveis ... são, na verdade pocíveis ... (e aqui não há erro, há mistura de fundos cheios de não possos – assim, numa substantivação negativa de verbo fora da gramática)
Tudo é um mar de quereres .. um mar salgado de poderes que vão maresiando os desejos e marejando os olhos que fitam o nada que é tudo e tem um coração que bate no mundo ... e bate sem dó ... e bate sem pó ... porque apenas bate bate bate ...
Bate tanto que dá uma surra no que se quer e fica examenando tudo o que o mundo - esse chamado de globo que não é TV - põe em exame ... (ou em vexame?) aos olhos nus dos sem poder.
Assim, sem açúcar e sem afeto, faz-se doce predileto do fel que amarga desejos incompreendidos e devasta tudo e a tudo dá vasta força ... e vai vai vai ...
Roubaram meus desejos para des(p)ejar tudo o que fosse possível ... e tudo tornou-se, então, prossilvio.
Silvilizadamente, então, tudo o que era querido no passado para construir um querer, para por em exame tudo o que se quer e, depois, reestruturar o querer de outros em querer próprio. Não é a primeira transformação silvilizada que acontece ... sempre acontecem trans-formações, re-formaçõoes.
Queremos, doravante que tudo seja exame, que tudo seja, enxame ... enxame de borboletas atírias que se atiram no globo e roubam o néctar do mar salgado, que inventigam o dito, o não dito. Sem pressupostos, sem presumidos, mas sempre assumidos como queridos.
Via, então querer ... e queira o que queres ... qualquer coisa, o doutor resolve.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Vidas cheias de razões rasas

Natal, 03/08/2011

Disseram-me que haviam dito que diziam que a solidão é que faz bem ... e que que alguém tinha cantado que tudo queimava e nada aquecia ... e tentei escutar, tentei escrutar, tentei perscrutar e só consegui compreender quando pude auscultar ...
Tive de auscultar o sangue que corria nas veias e nas veias e sentir a alegria de poder auscultar e encontrar coragem suficiente o bastante que desse para medicar ... e meditei... porque não podia medicar nem mendigar migalhas de quereres inqueríveis e muito quistos na vida que estava cheia de cistos ...
Cistos que buscavam florescer câncer nas entranhas das alegrias que doíam a cada dia que passava sem que as coisas passassem ou novos passageiros passassem ou ficassem nos olhos amargos de alegria externa exterminada por dores internas internadas nas entranhas da alma ...
Resolvi, então, querer o que estava querendo e entender que o melhor querer é aquele que entende o que deve ser entendido e sentido, mesmo que vez por outra esteja adormecido ... ... ... para logo depois estar intumescido ...
... de alegrias momentâneas, dores passageiras, prazeres passageiros eternos e muita vida que fica vidando a alegria de se sentir prazer ...
É ... o tempo transforma tudo em vida, o tempo vida tudo porque, ao vidar, faz com que tudo seja visto pelo ponto de vista da vida que tem lá suas razões para fazer com que todos sejamos obrigados a desvidar ... sem dúvida: a vida tem suas razões.
E falar que essas razões são razões que a própria razão desconhece não tem nenhuma razão de ser ... é irrazoável ...
Tudo o que se quis sempre foi querer continuar querendo e quando esse querer não quer mais, a gente pensa que não quer porque quer ver que quer ... e vai continuar querendo com ti nuar.
Nuar as razões e deixá-las envergonhadas de sua nudez, de sua naturalidade despida ... desguarnecida de máscaras que sustentavam a sua razão de existir ... sempre existir ... e nunca desistir de ter o que nunca teve: razão.
Quando vemos a razão desnuda, entendemos que o inquerível é apenas aquilo que não queremos: estar só ...
E não estar só, tem seu o preço ... tem seu berço ... berço esplêndido que o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no sal da pátria nesse instante ...
... e nesse instante, aquele que disse que tudo queimava e nada aquecia, tem de aquiescer ...
... e viver ... e sobreviver ... sem ter de sóbrio viver ...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Em canto isso ...

Natal, 29/07/2011.

De tudo, um nada ... de nada, que nada ... e tudo ... muito de tudo e tudo de muito pouco.
Há tempos e templos não me via por aqui. Estava lá, com muitos eus que nada sabiam e que nada queriam, mas que eu queria estar e deveria levar comigo para que consigo estivesse em mim mesmo. Estive em dor ... estivador ou em louvor, ou torpor ...
Os parcos tempos que tive, mantive-me em templo construído com esperança ... e desesperança de esperar desesperos que não vinham e de sentir a vida passar pelas veias (ou pelas véias) que transportavam sangue são em corredores escuros empurrado por um coração que batia mudo no mundo. Nos templos que construí, destituí meus próprios momentos para sentir os movimentos loucos que a vida traz para da gente ... gentei, como já disse antes ...
E agora gento comigo ... gento na esperança de poder me sentir como gentes felizes que vão consumar a sua existência vil em resistências e desistências ... senti, nesse tempo em que gentava, a energia de estar feliz, sem me saber infeliz ... e infeliz por não poder sentir-me completo, mas feliz com minha incompletude.
Passou ... quanto a mim ... passou o tempo de não me olhar de dentro para fora e não me sentir dentro e fora de mim para me analisar e me saber em mim .. em me sabor em mim ...
Esperei que tudo fosse breve – não foi. Esperei que tudo fosse brevê – não foi porque não voei ... não resvalei nas nuvens para me sentir água flutuante, não resvalei no solo para me sentir terra ardente, não me resvalei nas plantas para não me plantar naquele lugar em que estava sem mim ... ausente de eu mesmo e carente de eu mesmo ... mesmo eu!
Aqui, cá, de novo estou ... e vou estando tudo o que posso enquanto tudo o que não posso não é em mim o que posso ... porque estou poço ... poço de vazio cheio de nada que é tudo ... e com tudo o que é nada transbordando no vazio poço que seca ... que cega ...
E vamos seguindo esse silêncio de muitos gritos meus ... calados pelo grito de um nada que invade tudo ... caiados por brancas nuvens que não choram ... brancas nuvens que secam no vento e ventam a alegria de se esvair no ar ...
E assim, volto ... sem muito o que dizer, mas muito dizendo sem querer...