quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tão só, não só. E só.

Natal, 27/05/2009.

Aqui, parado, ganhando peso, peso as emoções pesadas e os pesares pensados e sentidos em momentos de penar. E peno. Peno a existência plena de um ser intransitivo que se encontra alagado de si e alargado de seus conflitos finitos e seus desejos infinitos de findar o que não se finda, porque fenda ... e continuo.
Continuo a caminhar feliz nas águas que deitam-se no solo e insistem em não penetrar a terra para deixar os pés sentir apenas a areia da praia, a terra das ruas, o asfalto quente ... e respiro o vapor exalado de sua conjunção com o sol que nasce logo após tornarem-se vapor as lágrimas da chuva que inundaram a cidade e deixaram poças de água em todos os cantos ... e canto.
Canto o prazer de existir e insistir na existência plena de uma alegria plantada em solo fértil, cultivada por palavras no divã e por comprimidos no estômago vazio de emoções e cheio de lamentações gordurosas recebidas do calor das comidas quentes que insisto em ingerir ... e gero.
Gero esperanças de vida e de prazer que já sinto apenas em pensar que aqui estou, que aqui sou ... e que aqui vou morrer deixando todos os amigos que reuni para assistir ao meu velório ... e velo.
Velo a presença ausente de justamenteumalindaamiganuncaausente, que se foi de corpo e ficou de alma, calma ... e acalmo-me nos braços e abraços que vou colhendo pelo caminho que percorro ... e corro.
Corro à procura de mais e mais eus presentes, de mais e mais eus ausentes, de mais e mais eus que sentem a esperança de estar feliz apenas consigo ... e sigo.
Sigo a cavalgar todos os leões que se apresentam pelo caminho e a colher todas as flores que vejo refletidas nos retrovisores de uma vida sempre reta ... e paro.
Paro para colher os frutos da vida que plantei ... e cheirar as flores que colho a cada quilômetro rodado nesta estrada que me pus à frente ... que se põe a minha frente e que adoro ver e verter dela a existência alegre de uma vida plena ... cá estou, de novo, eu.
Eu-coração que não sofre mais porque entendeu as idiossincrasias da vida e tergiversa pouco aos problemas que aparecem ... e não sonha com amores impossíveis, mas vive todos os amores possíveis, porque são possíveis e prossilvio, graças a Oxalá.
Sonhei, um dia, viver um grande amor na minha vida, descobri, com o tempo que os grandes amores são tão grandes quanto os problemas que trazem ... desisti, então. Desisti não dos amores, mas dos problemas ...
Passei a amar uma vida grande de amores menores, de dores menores, mas não de cores menores. Adoto para mim, há tempos, uma vida de calmaria, de paz ... e nela passo a incluir amores que me dão o que mereço, que me dão o que apreço, que me dão o que não são apenas adereços, mas endereços fixos ... e neles me fixo para seguir feliz ao lado de sorrisos largos ... e sigo meu caminho de braços dados e jamais cruzados ... e cruzo.
Cruzo a fronteira da emoção para buscar na razão a razão de uma emoção ... e encontro. Encontro a vida sorrindo, e sorrio para ela. Gargalhamos juntos a existência de eus-corações que se completam em emoções plenas, em emoções planas, em emoções sanas, que se desenvolvem em abraços quentes, em palavras líquidas e calores propagados pela osmose alcançada no encontro de línguas que se procuram nos momentos de carinho ... de palavras que se consolam nos momentos de solidão, de cheiros que se misturam nos momentos de retidão .... e exalam prazeres ocultos nos momentos de tesão ... e refletem a paz que se encontra em viver momentos reais de amores possíveis e plausíveis ... e de fantasias realizáveis nos cantos e encantos da casa ... e caso.
Caso comigo. Porque só eu consigo me entender e entendo que entender é mais do que ouvir, é mais do que querer, é mais do que desejar ... entender é perceber o outro e não lhe cobrar o que se entende ser certo, porque o seu certo é incerto para o outro, simplesmente porque o outro é o outro ... e não um outro você.
E isso não traz solidão, como pensam os outros tantos outros que, por não serem um outro você, não entendem; traz solidificação ... e me solidifico na consciência de que não estar só é estar acompanhado de si mesmo ... e de outros que possam respeitar e entender que um ser só, não é um ser só qualquer ... um ser só, pode ser um ser que é o que todos gostariam de ser: só ele, mas pleno, que não busca se completar, porque se sente completo, só. Busca complementar ... e aí sim, o só pode tornar-se melhor, porque complementado por outros eus-corações que entendem a solidão do outro, respeitam-na ... e buscam complementar a completude com adereços brilhantes, sorrisos brancos revestidos de peles morenas, beijos calorosos e abraços apertados embalados pela razão de se entender a emoção de viver assim, a dois, só.