domingo, 24 de abril de 2016

Sinto? Nada!

Natal, 24/04/2016

Amanheci, mas o dia não chegou até mim, continuei noite no dia que clareia apenas a vida alheia ... e me deixa alheio à vida.
Espero momentos de alegria e me alegro quando penso que chegariam dias em que estaria eu invadido de todas as luzes que brilham no céu, mas permaneço assim, noite escura na alma, noite escura na calma.
Pergunto-me o que acontece, o que sinto, respondem as nesgas de luz que não vejo que nada houve, que tudo está normal, que tudo e todos estão vivendo suas vidas de vazios que não percebem.
Percebo o vazio.
E isso me enche que um nada que assola tudo que penso ter em mim e ser em mim ...
Olho-me no espelho e não reconheço a imagem que reflete aquele pedaço de vidro. Não sou eu ... não estou eu.  Estou nada.
E como um nada que está, respiro o ar e fico arquejante ... sobra-me o ar que não quero respirar, sobra-me a imagem que não quero ver, sobra-me um eu que não reconheço... tudo são sobras de algo que nem existe mais ... sobrou porque foi pouco ... sobrou ...
Olho o nada e vejo tudo o que não sinto refletido naqueles olhos que não reconheço ... Fecho os olhos então ... e voltam-me imagens de uma vida que se acabou.
Acabei-me quando abri os olhos, anos atrás, e vi que estava assim, enxergando o vazio dos outros, enxergando o vazio de ser algo que não poderia ser se soubesse.
Quando soube, deixei de ser.
Naquele instante morri para à consciência a vida.
Vivo agora assim: consciente de que sinto nada. E nada do que sinto pode ser um fragmento daquele que morreu ao saber.

Não quero mais saber de nada. Não quero mais o que sinto, mas, se nada sinto, o que não quero?

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Sim, sei sem ti

Natal, 14/04/2016.

Muitas vezes sem ti é estar contigo em vazios eloquentes de sentimentos plenos de nadas completos em mim. Sim, sei sem ti e sei sentir sem sentir desesperos loucos ou rompantes quaisquer.
A minha glória é essa, é poder criar felicidades de coisa nenhuma, é poder sorrir com os hormônios que não produzo, é poder descriar infelicidades de saudades que existem apenas aqui, em mim ... saudades sem ti ... ou sem tis alguns que rondam a vida vazia que subsiste em lágrimas felizes e orgasmos inexistentes.
Impressiono-me de mim mesmo ao perceber que tenho, eu mesmo, a minha loucura e carrego-a como um facho a arder na noite escusa e a se apagar em corpos desconhecidos e olhos vazios de alegria que sorriem com orgasmos da carne. Sinto coisas e sinto-me pleno de loucura.
Loucura de poder perceber que assim é a vida, que assim é viver para poder sorrir sem que o sorriso origine-se externo. Loucura de saber que a sanidade é uma prisão e que a libertação não é um livramento condicional ou uma liberdade assistida. Percebo que não é lei, não há lei ... há loucuras sanas...
Outro dia me peguei a pensar que estava triste e me vi feliz por saber que era apenas um pensamento ...
Nenhum pensamento se torna sentimento pleno, penso-o e no minuto seguinte ele se foi de mim ... deixou-me sem sentimento? Não, deixou-me o sentimento ... para dar lugar a outros tantos sem ti.

Tenho a sabedoria de ser assim calmo, assim vasto, assim pleno, assim...
Ubiquidade me define. Sou isto e aquilo ao mesmo tempo, estou em diversos lugares concomitantemente ... porque sou assim, com ou sem ti ... não é em ti que me refaço, refaço-me em vazios plenos de mim ...

Sentimentos estranhos te definem ... tergiversas a tudo que parece ser aquilo que – em verdade (se há uma) – te completa.
Angustia-me o vazio pleno de seus olhos que fitam o mundo como se fosse apenas algo fora de si.
Bestifica-me ouvir desesperanças de uma boca que transborda esperança emudecida por uma rudez inexplicável, por uma rudez incongruente com o todo que é ti. Tu te delatas nos gritos silenciosos que morrem na sua boca.
Esses gritos, assassinados por palavras tão frágeis quanto estilhaços de fuzis, são audíveis ... não para muitos.
Sei, evidentemente, que podem não ser suas as palavras, mas ecos de Humbertos mortos... fico sentido de saber que tudo pode ser uma ilusão construída sem ti, nascida porque regadas de lágrimas secas que brotaram assim, do nada, ou de imagens inexistentes para outros olhos que não os meus, ou que, simplesmente, brotaram de um mim que sente sem ti.

Deixo tudo para lá e vou-me assim ...
Eterno ... e terno, e sereno, e calmo e ...

Nada sinto que não se origine em mim ...
Antecipo fins para presenciar fim nenhum.
Deixo-me ao léu, ao céu ... aos ventos que carregam tudo.
Ando ... corro ... voo ... e continuo parado na minha alegria de não ter.

Basta! Afinal, para que servem as palavras, se a casa está deserta?
Ou ter a chave, se a porta está aberta?

Yes, nothing makes sense, if the sense is not sensitive.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Não sei sem ti

Natal, 01/04/2016

Queria poder sentir o que não sinto e sinto não poder sem ti.
Uma esperança que desespera e me faz esperar que o desespero passe ... e passe tudo isso que não me deixa passar.
Impressiono-me de mim mesmo e me sinto assim, sem ti, sem mim, sentido.
Muitas vezes esperei e desesperei porque queria não esperar nada e que nada me desesperasse, mas foi em vão. Vão lá todas as minhas vontades, todos os meus desejos, todos os meus eus que não queriam viver mesmo se conseguissem ...
Intenciono não lembrar de mim sem ti, mas sem ti sou eu mesmo e mesmo sendo o mesmo eu que sempre fui, não me sinto mais o mesmo. Desmesmei-me de mim mesmo porque me destruí, me destituí de ser o que sempre fui.
Coração que bate no mundo já não bate mais ... respira sangue da vida que jorra do desespero de não ser sem ti o que sem ti sempre fui.
Outrora sentia tudo sem ti, mas nada sentia de verdade. Nada sinto agora, igualmente, mas parece que sem ti tudo ainda me faz sentir que algo aqui está sem ti, não sei o que.

Também não quero saber, não quero comparar-me aos homens meus irmãos na terra que sabem ser humanos e por isso desumanos são. Não, não quero estar assim, triste; assim, cego; assim, tosco; assim ... Ah sim, quero é estar comigo e pensar que comigo vivo sempre.
Ah ... choro lágrimas de vazios inexistentes em mim completamente, mas existentes no vazio que me faz eu, assim, triste; assim, calado; assim, parvo; assim, parco; assim, insuficiente.
Insuficiente por poder pensar que nada sou sem que isso seja uma verdade absoluta, mas que cria em mim uma absoluta ilusão de não ser.

Meus dias passaram a durar a éter na idade. Éter que, como um cateter, retém sangue que se faz lágrimas nos olhos secos de vazios de ti.
Antecipo o fim do que não começou porque nem deve começar fadado que está a não ter início.
Insto-me como um coração cheio de desesperanças e espero que esta vida não me traga de volta a loucura de sentir algo que não possa controlar, que não queira controlar, que não seja controlável per se, porque é de sua essência ser o descontrole.
Loucura. Sim, sim, sim loucura que assola e arranca do peito o vazio que lhe completa e lhe enche de saudade, de esperança, de desejos, de impotência ... loucura.
Outrora não era assim, outrora nada era tudo e tudo que se podia ter e sentir e querer era um corpo para poder preencher-lhes os buracos que esperavam por prazeres doloridos, que esperavam por músculos duros a arremessar o desprazer para longe e encher, músculo e saliva, os espaços vagos da solidão da carne que viva, sentia-se morta.

Negarei sempre que assim estou sem ti: carne morta na vida que vive.