sábado, 31 de janeiro de 2009

Três cervejas, duas taças de vinho e uma lágrima seca depois ...

Natal, 31/01/2009.

Bebi. Fumei. E não chorei. Não derramei lágrimas porque elas inexistem hoje, elas não insistem hoje .... não dá para chorar porque não há razão, não há vazão .... há, apenas, penas de parcas vidas que se aproximam e se vão, que se apaziguam de minhas palavras surdas e que se comiseram de si ... palavras que dizem o indizível, o intangível, o ininteligível ....
... palavras que consolam ... que consomem ... que expressam o que você quer que elas expressam, porque inexistem sem ti .... saem de mim e ganham o universo que subsiste em ti ... falam a ti o que eu jamais quis dizer ... o que eu jamais fui capaz de dizer ... porque são suas ... porque são nuas ... e caminham pelas ruas de seu cérebro desorientadas ... caminham pelo significado que você dá a elas ... caminham ... e encontram você na busca de você mesmo ... e te significam o que jamais significaram .... ou sempre significaram e ninguém pode lê-las com você as leu .... como você ateu ...
... ateu dos significados, ateu dos dicionários, ateu .... ate até de eu ...
estar vivo é isso .. é poder pegar uma cerveja, duas cervejas, duas cervejas .... e sentir a cevada ser levada para as entranhas de si e buscar no cérebro as respostas ás perguntas não feitas ... as pergunta afeitas ...
é poder pegar uma taça de vinha barato e sorver o sangue das uvas receber o prazer de pensar em câmera lenta ... e lembrar que há palavras úmidas que falam nada no ouvido de surdos ... nos ouvidos absurdos .... e nas me mentes dementes absortas em momentos de palavras molhadas que umedecem a alma seca de momentos vivos ... de momento vividos ... de vividos momentos de lamentos ... de excrementos ...
e continua ....
continua porque parar para olhar para retrovisores de matas desmatadas, de natas desnatadas é dar tempo ao não-tempo .... é esperar e desesperar e penar .... então, continua sem dar conta de que as coisas podem não-acontecer ... e deixa que aconteçam a seu tempo ....
afinal, o tempo se rói com inveja de mim, porque sabe passar e eu não sei.... e não quero saber ...
passar para que? Passar para quem?
Sem saber, então, não passarei ... ficarei aqui, pedaços de muitos eus e não-eus que se completam em sis consistentes, insistentes ... e nunca desistentes ...
Ficarei .... fincarei ...
Ficarei aqui e fincarei em mim todos os desejos desejáveis que desejei neste desjejum de poucos tus que significam ... que signos ficam ... que signos enfincam ....
Ficarei ... ou não ...
Porque ficar ou enfincar é uma escolha .... é uma escola .. é uma cola ... que desola porque respeita as coisas que não merecem respeito ... que não podem tornar a vida mais bela .... que tornam a vida mais velha ...
É assim ... escolhas ...
Escolhemos viver ou não ... sofrer ou não .. amar ou não .... e vamos vivendo as nossas escolhas feitas em momentos de poucas possibilidades .... porque não somos capazes de nos adiantar as nossas experiências ... somos obrigados a respeitar as ciência que nos foi apresentada, que nos foi aposentada ... e vivemos nossa existência de insaberes ... de insabores ....
... insalubres ...
porque tudo é irreal se não se sente ... tudo é nada .. e o nada é tudo no nada .... e vamos vivendo nosso tudo que nada na vida que escolhemos para nós mesmos .... ou na vida que encolhemos para nós mesmos ... mas a nossa única vida ...
que tem de ser vivida sem que outras vidas nela inferfiram ... sem que outras vidas nela inter-firam ....
vamos caminhando no nosso caminho ... no nosso carinho .... e vamos .... conosco ... convosco ... com tosco ...
porque, como sabemos ... caminhar é preciso ... e é preciso carinhar nos caminhos que caminhamos .... mesmo que os carinhos sejam carinhos em nós mesmos ... porque de tudo na vida uma coisa é certa: caminhamos conosco ... e os não-eus são passageiros ... e nós .... eternos ... e ternos,
ao menos conosco mesmos .... e com nossas lágrimas secas ...

e a vida com ti, nua.

Natal, 31/01/2009.

Nua, desnuda de todas as vontades indesejáveis que assolam a alma dos desejosos indesejáveis .. e com ti nua, a vida, a ferida, a despedida ... Despedi-me de ti sem falar ... não era preciso .... muito havia em mim para fazer comigo que o contigo tornou-se insipiente ... e voltei para mim ... e me reconheci feliz na existência plena de uma pessoa serena: eu mesmo.
Aqui não tem mais espaço para lacunas ... preencho-me comigo mesmo as lacunas que deixam em mim ... e vivo a existência plena de alguém que consegue viver consigo e não se divorciar ... porque não há tempo.
Não há tempo para sofrer vazios ou interstícios ... não há tempo para brigas ou intrigas, apenas para entregas ... e entrego-me ao meu destino escolhido jamais tolhido ... porque estou para mim mesmo integral ... internal ... infernal ... invernal ....
Estou em mim comigo e sigo meu castigo que intrigo e não brigo ...
Fico a espreita de momentos de mim mesmo que sentem a necessidade de extravasar e verter vida na brisa quente que sopra o mar em meu rosto ... nas cavidades de minha alma ... e exala alegria nos sorrisos que dou ... nos sorrisos que vou ... nos sorrisos que estou ....
E vou estando mais e mais ... para nunca des-estar ou desestabilizar ... porque vivo o que quis viver ... e fico feliz por isso.
Há tempos não sei o que é sofrer sem compreender ... sofro e compreendo o porquê de meu sofrer .. por isso sofro pouco ... sofro parco ... resultado dos cabelos brancos que cobrem uma alma sonhadora ... uma alma que anseia e deseja ... e não desespera, porque espera sem comiserações ... sem pensar que as coisas acabam por si .... por que as coisas não acabam ... o que acaba é a nossa visão sobre elas ... a nossa impressão sobre elas, a nossa expressão sobre elas ...
Hoje estou assim, dez orientado ... orientado para mim mesmo, sem tempo para palavras vazias, sem tempo para palavras azias ... sem tempo para o que não me encaminhe para mim mesmo ... estou em mim, a penas.
Queria poder dividir com quaisquer não-eus este anseio de vida .. gostaria de poder ter aqui com quem partilhar este eu de interstícios negados, mas regados ....e porque regados crescentes nas entranhas estranhas de mim ... mas tenho a mim apenas.
E isso basta ... e isso bosta.
Na verdade, não espero que nada aconteça, não desespero acontecimentos, apenas vivo-os quando aparecem ... e desvivo-os quando desaparecem ... porque eu continuo .... preciso continuar ... já que não posso com ti nuar .... nuo-me comigo ... e vou seguindo os passos que me guiam nos caminhos escolhidos há tempos ... e sigo feliz .... ou não ...
Apenas sigo ... vou caminhando e encontrando pessoas, encontrando pesos, encontrando presos ... seres presos em outros seres .... seres que tentam desprender-se e não conseguem ... e vão se matando pelos poros dos outros ...
... e eu não ...
Eu ... estou aqui, onde sempre quis estar ... e estou prestes a encontrar com outros pedaços de mim que abandonei no caminho que percorri ... estou prestes a encontrar com outros pedaços de ti que deixaste pelos caminhos que percorreu .... e me unirei aos pedaços de nós simbioticamente para retornar a mim .... não quero os pedaços ... quero o preenchimentos dos interstícios com os pedaços, com os percalços ....
E me entornarei em mim .... preenchendo-me de mim e de pedaços de tantos não-eus caminhantes ... e caminharei eu cheio de pedaços incompletos de não-eus que me completam ... que me repletam ....
... e serei o que sempre fui: eu, complexo, conexo, convexo .... e reconvexo.
Porque com ti nuamos ... eu ... e a vida que vive em mim.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Que sou eu sem tu? Eu, oras!


Natal, 20/01/2009.

A passos largos, largo no espaço os descompassos por que passo ... e vou ... vou para lugares em que estou comigo e sinto em mim o abrigo amigo de amigos que encontro por onde repasso ... e sigo com destino incógnito, mas sigo ... e jamais persigo.
Sou como qualquer coisa que se sente só e vive alegre na solidão que lhe cabe, que lhe cobre ... e assim se descobre.
Descobre que viver é ter interstícios, é sentir a vontade de continuar vivendo e poder realizar as vontades da vida que vive .... e sobrevive a todos e a tudo, porque viver é uma necessidade, uma ansiedade ... uma sobriedade,
ou não,
porque viver é também ter vontade de morrer, de fugir, de gritar, de se refugiar e si e se proteger de todo o bem que o mundo pode causar ...
e de todo o mal que o bem trazido pode causar ... mas, mesmo assim, continuar a respirar o ar em brisas quentes entre palavras úmidas e toques quentes na pele eriçada ...
Assim, vivo e revivo, a cada momento, os momentos nos quais parar era uma necessidade ... e continuar, uma obrigação.
Em alguns momentos, parei. E pude perceber que parar é também estar a caminho, é estar à procura de mais, é poder olhar à volta e dar a volta no olhar para sentir-se completo, repleto ... e poder dizer: parei, porque quis. Quis e fiz, portanto, pare de querer parar as minhas paradas. Elas são parte do meu caminho rumo ao meu destino ... sigo, então, parando nas paragens paráveis ... e sigo seguindo nas estradas ao longo do caminho.
Em outros, obriguei-me a continuar sem querer continuar ... mas continuei assim mesmo para poder sentir que seguir me levaria a outras paragens mais paráveis do que aquelas que deixava para trás ....
... e lá estavam elas ... e lá estão elas ... e lá estarão elas. Paradas, a minha espera.
Espero, então, caminhando, que as novas paragens se aproximem, que se ponham a minha frente e me façam parar de caminhar para poder olhar para o caminho e sentir o carinho de estar parado ... e seguindo .. e parado ... e seguindo ... mas sem jamais seguir parado. Porque a vida urge ... e o caminho é de pedra ... de pedras que me protegem da lama em que poderia me atolar.
Não me atolo, me atrelo. Atrelo-me a meus valores e calores, a meus amores e dores, a meus odores e sabores ... e sigo sinestésico nos caminhos que escolho ... e não me encolho, porque não tenho tempo.
Estou, então, aqui, a pensar que está na hora de querer mais e mais, de deixar de se contentar com fragmentos silenciosos de outros não-eus do caminho que hirto sigo, que hirto persigo ... e vou caminhando ereto por todos os eus que me habitam.
Você se foi e eu me enchi de mim, tornei-me repleto de mim mesmo e, assim, estou, novamente eu para todos os não-você que surgirem. Tem muito mais de mim aqui para viver do que tivera outrora ...
... estou, de novo, novo em mim. E sigo inovando os eus e todos os sentimentos que sinto existirem em mim ... sigo eu comigo, de mãos ao vento, soltas, libertas ... à espera de outras mãos que nelas peguem para seguirem todas juntas rumo ao destino incógnito, mas destino de mais de um, destino de eus e tus, não-eus, que sintonizam a vida na mesma estação, que pegam o mesmo trem e seguem trilhos paralelos ...
... estou, de novo, esperança ...
que bom! Estou me reconhecendo em mim ... estou me reconvencendo em mim ... e sorrio para mim mesmo.
Afinal, é bom voltar para casa e perceber que ela não está vazia, porque sou inquilino de mim mesmo, de novo.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Chega de momentos ...

Natal, 10/01/2009.

Não sabe, você, o quanto te quero ... o quanto te espero ... o quanto te desespero ... não, não sabe ... ainda bem, porque só assim, sem saber, poderás decidir sua vida por ti, por suas próprias razões, por suas próprias emoções, por suas próprias noções ... por você apenas ... e por mim, a penas.
Sai de casa à procura de tantos vocês que nem sei explicar ... sai de casa à caça de mais vocês que me fizessem mais eu em você: não encontrei, claro! E, no âmago de meu eu solitário, devo confessar que fiquei feliz por não encontrar nenhum você em ninguém que não você você , porque você não é ninguém, você é você e me faz eu em mim sem você, eu em mim na sua ausência de mim .. eu em mim mesmo sem você, que te deseja mais do que deseja a solidão ...
É, você substitui na sua ausência presente a solidão que me acompanha há tempos, você substitui o vazio que me faz inteiro, e me faz completo de ausência de ti ... e de esperança de presença de ti ... e de desesperança de encontros com vocês que na são você, porque você não é plural, é singular de um desejo meu que não aflorava há algum tempo, que não me desesperava há algum tempo ... você, libra, é minha moeda que sobrepuja as cotações das bolsas, que sobrepuja as dores de ausências presentes e de presenças ausentes de eus sem ti em mim solitário ... e não mais solidário, porque a solidão esvaeceu a solidariedade para transformá-la em solitariedade ... e eu não gostei disso ....
Lembrei-me de ti em muitos momentos que não deveria .... lembrei-me de ti em muitos momentos que não poderia ... e fiquei feliz por poder lembrar do que tive por alguns momentos finitos na realidade ... e infinitos na minha memória rasa de poucos agádês, todos ocupados pelos pedaços de ti que roubo para mim ... pedaços de ti que roubo para abastecer minha alma de esperança e desesperança ... pedaços de ti que ganho nos interstícios de seus compromissos firmados por alianças prateadas que invejo ...
Que saudade ... que vontade de ter-te ao meu lado com seu sorriso rabbit, com sua pequena alegria, com sua pequena expressão de cumplicidade arrancada por várias palavras supostamente sábias adquiridas pelos intervalos de meus cabelos brancos que branqueiam minha existência nesta terra natalina que amo ... que escolhi ... e que me sustenta, a despeito de ti .. a despeito de mim .. a despeito de minha desesperança de ter-me contigo ou com outros tigos que possam igualar-me a mim contigo ... e realizar em meus poros a satisfaça de não questionar, de não esperar, de não desesperar ... numa tentativa sórdida de respeitar o outro como gostaria que respeitassem a mim mesmo ...
Neste tempo em que você se apossou de mim, muitas oportunidades tive de poder te esquecer, de poder me enternecer de outros braços que me queriam tanto quanto quero os teus ... e tudo foi em vão ... e tudo foi em nãos ... e tudo foi em vãos de mim sem ti, de mim que desejava que todas as completudes que se me apresentassem fossem mais pedaços de ti que eu juntaria para formar-te inteiramente meu ....
... em vão ...
... em nãos ... que pena ...
Percebo que o dia já nasceu, que o sol já grita lá fora a sua presença e reforça a ausência de você aqui, a ausência de você em mim... a abstinência de mim sem ti .... de mim solitário nesta manhã que me acorda sem que eu tenha sequer adormecido, nesta manhã que me diz que é tempo de tentar te esquecer .. que é tempo de deixar as portas entreabertas para todos os outros lacanianos que me tornam eu completo, que me fazem compreender que esperar-te é desesperar-me ... e que me lembram das alegrias e vicissitudes de poder sentir-me completo pelo desejo do outro ... e incompleto por outro desejo. Pura contradição, pura contra adição ... pura subtração de mim mesmo .... pura vontade de aditar a sua ausência com presença eterna momentânea ...
Libra, venha para o prato ao lado e me deixe ser equi libra, me deixe ser intercalações de eu mesmo em mim ... ou vá embora e me deixe recuperar-me balança, que balança ao sabor do vento e espera nada ...
Porque esperar por ti, é desesperar por mim ... é sentir-me incompleto ... é sentir-me incerto ... é sentir-me intervalos de lembranças e esperanças desesperadas de muitos eus-corações que batem, mudos, no mundo ...
... e gritam o desejo de falar palavras líquidas em beijos umedecidos pela certeza da ausência iminente .... e gritam o desespero de não te querer longe .... de não me querer longe ... de não poder sequer olhar pela fresta da porta entreaberta para todos os outros não tus que se apresentam ... mas permitem-me sonhar que não tus serão capazes de roubar-lhe a chave de minha porta, enfiá-la na fechadura, abri-la e dizer: ei, eu trouxe a chave e, a partir de agora, seus ombros não mais suportam o mundo .... seus ombros, ao meu lado, doravante, se portam no mundo ... e nós nos descomportaremos neste mundo ... porque somos um do outro ...
Neste dia, que espero não estar longe, poderei dizer que fui feliz e sabia ... que sou feliz e sei ... e que sei que serei feliz ... e levarei na minha memória a recordação de meu desejo de ti ... e não mais te desesperarei, porque já terei a minha espera, a espera de um eu completo que se completa em não tu ... e recorda-se do momento em que perguntara-lhe: “Tu, trouxeste a chave?”
... e não obteve resposta ....
e se obrigou a ter a chave reposta ...
... e se limitou a te respeitar desespeitando-me .... e se cansou ...
...e se casou ... e se castrou ...
... e teve como companhia a solidão inseparável ... a solidão insuportável ... sem jamais ter escarrado nas bocas que beija .... simplesmente por entender que, embora o beijo seja a véspera do escarro ... não há escarro que apague o beijo dado na véspera ... o beijo dado na espera de uma eternidade.
Lembre-se, criança, de que toda a minha desesperança reside na necessidade de esperar que você se desespere e corra para meus braços ... para meus passos .... para meus laços ...
... e se entrelace em mim para que possamos, juntos, caminhar a passos largos, de braços dados, rumo aos nossos corações inquilinos um do outro ... e jamais inquiridos um pelo outro ... porque desesperamos ... e aceitamos a parte do todo que nos cabe ... porque aceitamos o outro com suas idiossincrasias sem hipocrisias ... porque entendemos que o tempo, senhor da razão, sabe passar ... e nós também.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

De momentos, movimentos ... que o vento leva ... e traz.

Natal, 08/01/2009.

Somos assim, de momentos e movimentos, de esperanças e desesperanças, de crenças e descrenças ... e de nós, aos pedaços.
Pedaços de eus e tus que se desnudam no sabor da alegria, na acidez da partida e da insensatez das razões do coração, meu coração ... que espera, dormindo espera ... e se desespera de quando em quando ... ao saber que aos poucos vai-se perdendo o que se pretende ao lado, o que se deseja intensamente e que se sente ausente, mas presente na alma. E a alma é efêmera, intangível ... sou, também, intangível, ininteligível ... não me importo.
Cansei de querer me entender e de querer saber todas as coisas, só quero as coisas, saber sobre elas não me basta, não me resolve, tê-las, sim. Tê-las-ei, então, aos pedaços, aos percalços e serei feliz com a parte que me cabe, com o porte que me cabe, com a morte que não me cabe, porque não morro ... corro ... corro de ti e para ti, corro para entender o que não quero entender, por isso corro para desentender ... e me sentir tender em você, tenro em você .. terno em você ... e ver seu sorriso roubado nas cócegas que lhe faço, e ver sua alegria e introspecção ... sua presença e sua ausência ...
Presença que me completa, ausência que me torna incompleto em ti, mas completo em mim mesmo ... completo-me com sua presença e ausência ... alimento-me de uma desesperança dada pelo coração que não é partido, não é dilacerado ... é apenas coração, com quelomas que registram os momentos em que sangrou e se curou ... quelomas formados pelas emoções da alma que rompem o corpo pelo coração ... dilatando-o e tornando-o ainda maior em emoções tão intangíveis quanto a alma que expele prazer pela pele que toca seu peito ... pelas mãos que acariciam sua barriga, pelos lábios que beijam suas nádegas desnudas em momentos de descontração ... e pelos seus lábios que tocam os meus enquanto as línguas conversam silenciosamente prazer eterno de minutos finitos ... que se findam .... infelizmente.
Rever-te é estar um pouco mais vivo, um pouco mais frágil, um pouco mais ágil ... frágil em perceber minha alegria em ter-te por perto ... ágil por saber que ter-te por perto é algo incerto ... mas certo é deixar-te perto ... sim ... isso é certo, e vou acertando as presenças sem pensar nas ausências ... deixo-as para seu próprio momento, deixo-as ausente do meu presente porque não as quero maculando o que me revive ... não quero antecipar o que não se deve antecipar ... Quero apenas ... e vivo a penas ... penas que junto e faço uma asa .. e outra asa ... e sou Ícaro que sobe aos céus para descobrir-se derretendo ao calor do sol ... e cai ....
Mas eu não caio na terra, caio no mar e sou abraçado por Odoiá que me transporta em sua placenta de água salgada para a beira da praia, onde aproveito o sol que me derrubou e agradeço pela alegria de ter estado voando ... e acaloro-me de lembranças quentes, tórridas ... e vivo a alegria de saber que amar é um verbo intransitivo.
E transito na sua intransitividade, sinto-o verborrágico e sem regência ... e rejo-me eu mesmo de intransitividades minhas ... de insensatezes incomensuráveis de eu mesmo em mim querendo dizer que estou ti e eu ... estamos ... eu e eu-em-ti ... ou ti em mim, sei lá ...
Só sei que, ao transitar pelo seu corpo, ao sentir-me em seus braços ... estou eu mesmo: sozinho, mas contigo ausente ao meu lado ... e isso basta ... por ora ...
E quanto a você? Não sei ao certo ... talvez um dia saberemos, ambos, o sabor que temos um para o outro ... ou não ...
Um dia, você volta.
Um dia, eu volto ...
e seremos intransitivos ... mas ambos objetos diretos de ambos ... e o vento guiará nossos movimentos em todos os momentos...
Até que alguém diga: chega, um momento ... daí entenderemos que somos nós mesmos os predicativos de nosso sujeito, que, como um rio, corre água doce para dar no mar salgado ... no nível do mar ... no nível do ar.