sábado, 13 de outubro de 2012

Caótico ... cá ótico ... cá ótimo (ou não)


Natal, 13/10/2012.
Um abraço, um chêro, um bom dia ... e ninguém ainda se levantou da cama. Desejo de muitos, possibilidade de poucos, inspiração para muito poucos ... e muitos outros poucos  - que desejam estar assim, que desejam ser assim, um nada além de dois corpos unidos pelo calor da cama, pelo amor do sono, pelo silêncio do “Te amo” gritado no vazio do sorriso matinal – ainda esperam a vida vidar seus sorrisos e soçobrar suas desesperanças, transformando-as em simples esperanças que esperam tudo chegar sem ter de lutar muito,
Sem ter de gritar muito,
Sem ter de mudar muito,
Sem ter de silenciar muito,
Sem ter de muito nada.
... e ser um muito de tudo.
Cá estou. Estou cá ... caótico!
Caótico de vazios que enchem as sombras de um corpo que, sem fumaça, se enche mais e mais ... Caótico de esperanças de poder liquidar com tudo e com todos e me transformar em líquida modernidade tardia que rompe todas as barreiras e invade a constância de todos os nós que em nós habitam  ... Caótico de poder fazer tudo o que quero e de não querer fazer nada que posso... nem devo ...
Cá... ótico porque tudo o que consigo é olhar para os lados e ver nada, olhar para trás e ver que tudo se foi sem deixar nada ... de olhar para o passado e ver que tudo passou, sem passar meu amor  ... e perceber que todos os amores que passaram foram amores vis, viris e infantis, que duraram o tempo necessário para nos satisfazer, mas se mostraram incapazes de serem eternos depois que duraram ... e duraram o quanto puderam ... e foram duros no fim.
E, em alguns casos, não houve, ainda, o fim, mas o desejo de findar o que se precisa findo, de se findar o que não se pode precisar exatamente o que é ... o quem é ... e nem se se quer mesmo findar ... mas que se findará mesmo assim.
Cá. Ótico. Expectador de uma vida esperada, à espera de uma vida de expectativas ... Cá, ótico. Assim, sem poder enxergar o que está à frente, e por quê?
Porque não sei ... ou melhor, sei:
porque quando chega um abraço, um chêro, um bom dia ... e ninguém ainda se levantou da cama, a cama fora maculada pela dor da solidão, pelo descaso da desatenção, pelo desgosto de sentir a lembrança de que tudo o que se quis esteve lá, mas não se consolidou .. . e com solidão tudo restou corações cheios de vazio. Vazio preenchido pela presença de duas pessoas que partilhavam a solidão de ambos, juntos.
Solidão compartilhada.
Por isso tudo é caótico. Tudo é sem sentido. Tudo é cem sentidos. Muitos sentidos de todas as coisas que não conseguem significar .. mas que significam um tudo de esperanças de um futuro de coisas queridas, desejadas, esperadas e espalhadas por todos os lugares que os olhos alcançam ... assim ... ótica que consolida desejos de almas cheias de vazios de corações que batem no mundo.
Por isso tudo é cá ótico: apenas visões de luzes que ressurgem das nuvens espalhadas ... nuvens de algodão que sorriem para um ser que olha o sol e simplesmente sente o desejo de poder ser algodão que flutua no ar e esconde a luz distante de um sol que brilha ... nuvem que flutua protege as peles dos povos que estão abaixo ... nuvem de algodão... mas não apenas uma, mas várias, várias, várias nuvens plurais que algo dão.
Algo dão que conforta as dores, algodão sólido que se enche de álcool e esteriliza os amores que não evaporam  ... algo dão que devolve as cores aos corações que batem no mundo ....
E se imaginam aqui . Se imagina cá, singular novamente.
Cá, ótimo...
porque simplesmente à espera de um abraço, um chêro, um bom dia ... e de que ninguém tenha de levantar da cama, porque o tempo do prazer não é silenciado pelos tic tacs dos relógios que batem no mundo ... e silenciam os gritos de solidão
ou não... 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Non, Je Ne Regrette Rien


Natal, 09/10/2012
Depois de olhar para os lados e perceber que nada do que você foi, foi contigo embora, me pego a pensar nos momentos em que estivemos a compartilhar sofrimentos e alegrias mútuas, a compartilhar desejos de futuros diferentes juntos e a, aos poucos, perceber que nada do que fazíamos fazíamos para ambos. Tudo o que tínhamos eram pedaços de mim e de ti, juntos, e separados...
Separados pelo tempo de existência ...
Separados pelo medo de desistência ...
Separados pelo medo de insistência ...
e ...
Separados pelo meda da subsistência ...
Nada disso me faz pensar que não estar contigo agora invalida o estar que estivemos sem estar porque estávamos instados de outros quereres intangíveis e de desesperos ininteligíveis aos olhos de quem amava ... e odiava como toda a gente ... e que, como toda a gente, percebia que tudo era igual ... Nada ...
Nada e nada e nada e nada disso me faz sentir que me arrependo. Não! Não há arrependimentos ...
Na minha cabeça, ouço uma música velha que velha meus olhos e faz-me ficar aqui, venhando como tantos outros que envelham com o tempo e deixam que o tempo passe sem que ajam como precisam ... ecoa na mente apenas um
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien
égal!
O que haveria de le bien ou de le mal  qu’on ma fait ???
Tudo resta aqui como lembranças que molham meus olhos vez por outra, de lembranças que intumescem meus poros vez por outra, de lembranças que molham minha boca com saliva a espera de seu beijo vez por outra, de desesperanças que maculam minhas lembranças de alegrias vez por outra ...
Tudo vez por outra demais ... tudo demais vez por outra ... tudo como sempre foi: parco, pouco, pífio ... tudo como sempre tive: migalhas de carinhos recebidos, migalhas de quereres recebidos,  migalhas de desejos desejados, mas muito muito muito muito muito de amores e de palavras de carinho que representam a carência que eu supro no outro com a minha própria.
Non, je ne regrette rien ...
Nem das difíceis noites em que passo em claro a me lembrar do seu corpo a aquecer o travesseiro ao lado …
Nem das noites em que não me lembro de nada ao lado ...
Nem dos lados que as noites ao seu lado me fez revirar, fritando no colchão como alho em óleo quente ... gritando por um pouco de paz ...
Nem de nada ... je ne regrette rien ... porque estou aqui, assim, mais eu, menos você, mais você em mim, mais mim em você ... e continuamos únicos: corpos e mentes solitários que arrancaram pedaços de si para ar ao outro e trouxeram do outro pedaços que não foram arrancados, mas cedidos pelos carinhos trocados em momentos sutis, vis, viris ...
Rien de iren pode ser mais importante do que saber que estive você e que você esteve eu: estivemos. E disso, e de tudo o mais, je ne regrette.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Porque você não está aqui.

Natal, 09/10/2012.


Sempre que olho para os lados e vejo que, quando você se foi,  nada restou além de pareces amareladas pelo tempo, tintas que abandonam as paredes, e cores acinzentadas de bolor que cobrem o branco que antes assistia a nossa união, me pergunto o porquê de você não estar mais aqui ... e me respondo: porque sempre esteves aqui em inteirezas: inteirezas de metades suas e de outras metades que arrancavas de mim ...
Olho para os lados e enxergo o vazio que sai de mim e me deixa oco, mais vazio, e preenchem os espaços igualmente vazios de esperanças que – de soslaio - assistem a solidão invadir toda a casa e penetrar na alma de quem tecla palavras vazias, em teclados vazios, para olhos vazios que vão passar pelas palavras e escutar um nada que grita no silêncio da desesperança de poder estar aqui, contigo e com tudo.
Com tudo
Com tudo
Contudo não há nada contigo, nem nada com tudo. Tudo o que há é você e eu. Eu sem você. Você sem mim. E tudo continua ... continua a ser o que sempre foi: silêncio barulhento que perfuma os ouvidos; lágrimas secas que tateiam o olfato; salivas secas que umedecem a visão; odores doces que invadem a alma e arrancam sorrisos dos dedos que tateiam o infinito.
Tudo continua esperanças de novos desencontros pelo caminho cujas pedras foram arrancadas pelas enchentes de lágrimas solitárias que banharam, por inúmeras vezes, as maças do rosto que enrubesciam com o suor do desejo de estar apenas ali, fazendo nada,
Nada fazendo, mas fazendo tudo que o nada permite e, ainda assim ... fazendo ... na esperança,
E esperando que nada tivesse acontecido de ruim para aqueles momentos sabidamente efêmeros e ternamente esperados por anos a fio ... que chegaram no final do ano, para ficar por poucos anos ... e depois ir embora, deixando aqui a importância de se ser fiel a um ideal solitário, a um solitário ideal

Com desejo de partilha, de partilhar, de parte ilhar ...
Ou esperança de não partir, ou partir
Mas sempre par...
Par de ficar lá e cá,
Aqui e ali, esperando os 
Nós se desatarem, seja quando for ...
Hoje e amanhã
E depois de amanhã:
Indiferente.  Mas não foi assim que se deu e
Restei-me aqui
Infeliz, mas consciente do que é preciso fazer
Solitário, mas acostumado com o nada que exala apenas de mim
Moroso, e ainda  assim caminhando ... caminhando ...
Ostra a ficar no fundo do mar na esperança de um marinheiro que a apanhe.

Estar aqui não pode mais você ... mas resta você aqui: pedaços quebrados de esperanças coladas por lágrimas que rompem os olhos, inundam as pálpebras e escorrem rosto a fora para encontrar na boca, a saliva. A saliva do desejo de você, que se amarga – você e a saliva – com as lágrimas que arranca de olhos que enxergam o nada, o vazio. Vazio que preenche os dias, que ilumina a alma tenra ... e eterniza a esperança de novos habitantes para os olhos e, quem sabe, a cor, a ação ... e o coração.