Natal, 06/05/2016.
Me pego pensando, sem mais nem por que tantos homens e
mulheres me amaram bem mais e melhor que você. E, quando você me deixou, meu
bem, me deixou para ser feliz e passar bem ... amando e odiando como toda a
gente.
Amar, verbo transitivo direto, pede, claro, um objeto. E
este objeto é projetado de mim para você, que retrata um você que está em mim,
que refrata um eu que penso ser você. Morre em mim a sua transitividade, morre
em mim a transitividade do verbo, que vive em mim, mesmo quando você está em
trânsito ...
Rabisco palavras para você que serão lidas por este você que
está aqui dentro, que sou eu. Eu leio como se fosse você e você, barroco,
sequer sabe que rabisco vocês ... nem eu sei quem você é porque não o quero
saber ... quero é saber que existe um pedaço de mim que penso ser você, que não
existe.
Insisto em perder o amor de mim para amar o você que em mim
habita. E amo-o como amo romeu-e-julieta. Sinto o gosto da goiabada-julieta e
espero a consistência do queijo-romeu ser rompida pelos dentes que mordem a
felicidade intransitiva do queijo para se misturar ao açúcar vermelho da goiaba
da fábrica de doces.
Olho para o você que vive na minha mente e não te vejo.
Vejo-me e me perco de mim nesta nuvem nebulosa de eus e vocês e queijos e
goiabadas e açucares sem gosto.
Detesto pensar, detesto penar, detesto pesar. E peso tantos
prós e poucos contras essa ânsia de saber que nada temo, nada tenho ... tenho-me
a penas.
Espero ... espero ... desespero .. respiro, piro ... inspiro
você que eu criei e me inspiro nisso para viver ...
Antigamente não era assim, antigamente.
Nos cabelos bancos que insistem em nascer e se desesperam ao
serem cobertos pelas cores artificiais da alegria de pensar que ainda é
antigamente brotam sentimentos sem cor, descoloridos pelo tempo que pensei
existir ainda.
Doravante é assim, doravante. E digo que não será assim ...
é assim. Num presente eterno que se mete no meio do antigamente e do futuro que
inexiste sem um eu sem você.
Rabisco um eu. E com rabiscos apago todos os vocês. Meto-os
todos na escuridão do grafite que cobre os brancos de vocês inexistentes e
insistentes ...
Ando assim, ultimamente ... ando assim, antigamente: morto
de ter sido tudo o que não quis e ter querido ser tudo o que poderia ter sido
se fosse eu apenas.
Deixo-me aqui, assim, antigo. Deito-me aqui, assim, atingido.
Fico-me assim, contido: ostra morta pelo limão, sal e pimenta à espera de uma
boca que a engula.
E os ombros intransitivos suportam o mundo.
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