sábado, 10 de janeiro de 2009

Chega de momentos ...

Natal, 10/01/2009.

Não sabe, você, o quanto te quero ... o quanto te espero ... o quanto te desespero ... não, não sabe ... ainda bem, porque só assim, sem saber, poderás decidir sua vida por ti, por suas próprias razões, por suas próprias emoções, por suas próprias noções ... por você apenas ... e por mim, a penas.
Sai de casa à procura de tantos vocês que nem sei explicar ... sai de casa à caça de mais vocês que me fizessem mais eu em você: não encontrei, claro! E, no âmago de meu eu solitário, devo confessar que fiquei feliz por não encontrar nenhum você em ninguém que não você você , porque você não é ninguém, você é você e me faz eu em mim sem você, eu em mim na sua ausência de mim .. eu em mim mesmo sem você, que te deseja mais do que deseja a solidão ...
É, você substitui na sua ausência presente a solidão que me acompanha há tempos, você substitui o vazio que me faz inteiro, e me faz completo de ausência de ti ... e de esperança de presença de ti ... e de desesperança de encontros com vocês que na são você, porque você não é plural, é singular de um desejo meu que não aflorava há algum tempo, que não me desesperava há algum tempo ... você, libra, é minha moeda que sobrepuja as cotações das bolsas, que sobrepuja as dores de ausências presentes e de presenças ausentes de eus sem ti em mim solitário ... e não mais solidário, porque a solidão esvaeceu a solidariedade para transformá-la em solitariedade ... e eu não gostei disso ....
Lembrei-me de ti em muitos momentos que não deveria .... lembrei-me de ti em muitos momentos que não poderia ... e fiquei feliz por poder lembrar do que tive por alguns momentos finitos na realidade ... e infinitos na minha memória rasa de poucos agádês, todos ocupados pelos pedaços de ti que roubo para mim ... pedaços de ti que roubo para abastecer minha alma de esperança e desesperança ... pedaços de ti que ganho nos interstícios de seus compromissos firmados por alianças prateadas que invejo ...
Que saudade ... que vontade de ter-te ao meu lado com seu sorriso rabbit, com sua pequena alegria, com sua pequena expressão de cumplicidade arrancada por várias palavras supostamente sábias adquiridas pelos intervalos de meus cabelos brancos que branqueiam minha existência nesta terra natalina que amo ... que escolhi ... e que me sustenta, a despeito de ti .. a despeito de mim .. a despeito de minha desesperança de ter-me contigo ou com outros tigos que possam igualar-me a mim contigo ... e realizar em meus poros a satisfaça de não questionar, de não esperar, de não desesperar ... numa tentativa sórdida de respeitar o outro como gostaria que respeitassem a mim mesmo ...
Neste tempo em que você se apossou de mim, muitas oportunidades tive de poder te esquecer, de poder me enternecer de outros braços que me queriam tanto quanto quero os teus ... e tudo foi em vão ... e tudo foi em nãos ... e tudo foi em vãos de mim sem ti, de mim que desejava que todas as completudes que se me apresentassem fossem mais pedaços de ti que eu juntaria para formar-te inteiramente meu ....
... em vão ...
... em nãos ... que pena ...
Percebo que o dia já nasceu, que o sol já grita lá fora a sua presença e reforça a ausência de você aqui, a ausência de você em mim... a abstinência de mim sem ti .... de mim solitário nesta manhã que me acorda sem que eu tenha sequer adormecido, nesta manhã que me diz que é tempo de tentar te esquecer .. que é tempo de deixar as portas entreabertas para todos os outros lacanianos que me tornam eu completo, que me fazem compreender que esperar-te é desesperar-me ... e que me lembram das alegrias e vicissitudes de poder sentir-me completo pelo desejo do outro ... e incompleto por outro desejo. Pura contradição, pura contra adição ... pura subtração de mim mesmo .... pura vontade de aditar a sua ausência com presença eterna momentânea ...
Libra, venha para o prato ao lado e me deixe ser equi libra, me deixe ser intercalações de eu mesmo em mim ... ou vá embora e me deixe recuperar-me balança, que balança ao sabor do vento e espera nada ...
Porque esperar por ti, é desesperar por mim ... é sentir-me incompleto ... é sentir-me incerto ... é sentir-me intervalos de lembranças e esperanças desesperadas de muitos eus-corações que batem, mudos, no mundo ...
... e gritam o desejo de falar palavras líquidas em beijos umedecidos pela certeza da ausência iminente .... e gritam o desespero de não te querer longe .... de não me querer longe ... de não poder sequer olhar pela fresta da porta entreaberta para todos os outros não tus que se apresentam ... mas permitem-me sonhar que não tus serão capazes de roubar-lhe a chave de minha porta, enfiá-la na fechadura, abri-la e dizer: ei, eu trouxe a chave e, a partir de agora, seus ombros não mais suportam o mundo .... seus ombros, ao meu lado, doravante, se portam no mundo ... e nós nos descomportaremos neste mundo ... porque somos um do outro ...
Neste dia, que espero não estar longe, poderei dizer que fui feliz e sabia ... que sou feliz e sei ... e que sei que serei feliz ... e levarei na minha memória a recordação de meu desejo de ti ... e não mais te desesperarei, porque já terei a minha espera, a espera de um eu completo que se completa em não tu ... e recorda-se do momento em que perguntara-lhe: “Tu, trouxeste a chave?”
... e não obteve resposta ....
e se obrigou a ter a chave reposta ...
... e se limitou a te respeitar desespeitando-me .... e se cansou ...
...e se casou ... e se castrou ...
... e teve como companhia a solidão inseparável ... a solidão insuportável ... sem jamais ter escarrado nas bocas que beija .... simplesmente por entender que, embora o beijo seja a véspera do escarro ... não há escarro que apague o beijo dado na véspera ... o beijo dado na espera de uma eternidade.
Lembre-se, criança, de que toda a minha desesperança reside na necessidade de esperar que você se desespere e corra para meus braços ... para meus passos .... para meus laços ...
... e se entrelace em mim para que possamos, juntos, caminhar a passos largos, de braços dados, rumo aos nossos corações inquilinos um do outro ... e jamais inquiridos um pelo outro ... porque desesperamos ... e aceitamos a parte do todo que nos cabe ... porque aceitamos o outro com suas idiossincrasias sem hipocrisias ... porque entendemos que o tempo, senhor da razão, sabe passar ... e nós também.

Um comentário:

  1. "que te deseja mais do que deseja a solidão ..."
    Não preciso comentar nada, romântico racional.

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Se gostou ... e se não ... me diga ... quero saber o que tocou em você esse tempinho que você passou comigo.