sexta-feira, 30 de abril de 2010

Queria ser ...

Natal, 30/04/2010.
Queria ser livre para amar e poder não amar por ser livre. Queria ter podido experimentar o vazio e nele me deleitar ... queria ser triste e que regozijar da tristeza, na tristeza ... queria ter podido não estar onde estou e fazer o que faço ...
Queria .. queria ... queria ...
Mas deixei de querer o que, na verdade, nem cheguei a querer, pois sempre quis o que estou, onde estou, e passei a ser um querer em mim mesmo, um ser em mim mesmo ... um eu cheio de tantos outros eus que não me desencontro de mim porque estou repleto de muitos mins que me formam e transformam e deformam e reformam ... estou e sou.
Sou o que sempre quis ser e esta constatação me leva a crer na necessidade de se ser o que se quer ser sem que seres outros sejam sérios o suficiente para serem seres como eu que apenas sou ... e vou sendo o que sempre sou ... eu, repleto.
Sou aquele que é pela vida e sabe que tudo não sobrou nem foi pouco, tudo foi a exata medida da necessidade do momento de existir em que me encontrava, em que me desencontrava, em que me reconfrontava com todos os outros não-eus que não quis ... sou Ney certo e errado que divide, o que não tem duas caras e na verdade existe ... sou neys pelos mundos imundos, ou imundo no mundo mudo .. e vou mudando as molduras de gritos silenciosos que insistem em parametizar minhas existências vis e viris na cidade que é sol, e que nunca é só.
Aqui, pensando em tudo o que todos querem que eu seja, sou o que todos não querem deixar de ser, sou apenas um ser que é ...
Nãose questiona, amigo, o ser que é, pois ele apenas é a penas e apenas. É isso.
Simples como ser é estar sendo e se saber ser como ser ... como ser que sempre sente o desejo de continuar a sendo sentido ... e fica ressentido se não sente o sentido de tudo e de todos que se sentem ... de todos os que se sentam e esperam a vida passar a passos largos largados na estrada serena da vida sentida, sem sentido.
Não, assim não sou.
E vou não sendo, então, vou retesando os não-ser que me envolvem com suas serenidades e sorrio de suas amarguras e me amarguro de seus sorrisos falsos e seus olhares de soslaio para uma vida que passa ... para uma vida que embaça ... para uma vida que, neles, somente se esboça viver de vivacidade .. porque não têm sagacidade de perceber a necessidade de se adequar à idade e sentir na cidade a capacidade de se ter felicidade.
Assim, então, sou e vou sendo até que a vida me prove que deixei de ser.
Neste momento, morri. Morri para re-ser, porque não estou preparado para deixar de ser aquilo UE sempre sonhei ser: eu.
E, aqui, amigo, estamos eu e você sendo um parte do outro neste momento em que somos apenas interlocutores de nossas entranhas. Eu entranhado nas minhas, você estranhado nas suas ... mas ambos sendo ...
Esperei tempos para perceber que me entranhava de mim e me estranhava em mim ao ser o que queria poder ser ... agora, contento-me com isso. Agora entranho-me nisso .. agora, bem, agora, não tenho mais tempo de deixar de ser.
De deixar de ter
De drenar o ser para o interior de si mesmo e retesar os gritos silenciosos de meus sorrisos que largamente dou no mundo ... dou para o mundo.
Para o mundo de seres sorrio, não olho de soslaio, não tergiverso. Não.
Faço pequenos versos de mim para conjecturar contigo as necessidade de ambos, eu e você, sermos o que somos, sem nos questionar, sem nos represar em esperanças vis, em desapegos em desassossegos.
Viemos, embora não saibamos ao certo o porquê, todos os momentos de nós ... e não estamos sós, porque temos eus outros ao nosso redor. Assim, vamos, caminhemos, andemos, corramos, soframos ... e sopremos todos os males para o longe ... e deixemos as dores de lado, para abraçarmos as cores da vida ... transparente.

3 comentários:

  1. Pois é, bicho...
    Poucos são os que têm liberdade pra falar o que querem, diz van Dijk,
    e pouquícimos deles são felizes, diz sempre você...
    A veradade é que se pode manipular o mundo inteiro, sabemos... Mas será que é possível manipular a nós mesmos?
    Você respondeu isso com sinceridade neste seu texto... É a vida!

    ResponderExcluir
  2. Eu também queria... Queria tantas coisas infinitas... Mas, que ria a vida de mim se não as tenho. Tenho você. Mesmo que neste exato momento, no exalar do movimento, não tenhamos a mesma felicidade. A mesma feliz cidade de estar. E estando, perceber a necessidade de se adequar à nossa identidade, que não deixa de ser a nossa idade, mas que tem a capaz-cidade de simples-e-mente ser...

    ResponderExcluir
  3. Nossa... Eu nem sei o que dizer. Vou me resumir a minha pequena insignificância e deixar os verdadeiros escritores, como você, ficarem com o trabalho duro.

    Ou iria, se não fosse tão metida.
    No mais, excelente texto.

    ResponderExcluir

Se gostou ... e se não ... me diga ... quero saber o que tocou em você esse tempinho que você passou comigo.