quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Non, Je Ne Regrette Rien


Natal, 09/10/2012
Depois de olhar para os lados e perceber que nada do que você foi, foi contigo embora, me pego a pensar nos momentos em que estivemos a compartilhar sofrimentos e alegrias mútuas, a compartilhar desejos de futuros diferentes juntos e a, aos poucos, perceber que nada do que fazíamos fazíamos para ambos. Tudo o que tínhamos eram pedaços de mim e de ti, juntos, e separados...
Separados pelo tempo de existência ...
Separados pelo medo de desistência ...
Separados pelo medo de insistência ...
e ...
Separados pelo meda da subsistência ...
Nada disso me faz pensar que não estar contigo agora invalida o estar que estivemos sem estar porque estávamos instados de outros quereres intangíveis e de desesperos ininteligíveis aos olhos de quem amava ... e odiava como toda a gente ... e que, como toda a gente, percebia que tudo era igual ... Nada ...
Nada e nada e nada e nada disso me faz sentir que me arrependo. Não! Não há arrependimentos ...
Na minha cabeça, ouço uma música velha que velha meus olhos e faz-me ficar aqui, venhando como tantos outros que envelham com o tempo e deixam que o tempo passe sem que ajam como precisam ... ecoa na mente apenas um
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien
égal!
O que haveria de le bien ou de le mal  qu’on ma fait ???
Tudo resta aqui como lembranças que molham meus olhos vez por outra, de lembranças que intumescem meus poros vez por outra, de lembranças que molham minha boca com saliva a espera de seu beijo vez por outra, de desesperanças que maculam minhas lembranças de alegrias vez por outra ...
Tudo vez por outra demais ... tudo demais vez por outra ... tudo como sempre foi: parco, pouco, pífio ... tudo como sempre tive: migalhas de carinhos recebidos, migalhas de quereres recebidos,  migalhas de desejos desejados, mas muito muito muito muito muito de amores e de palavras de carinho que representam a carência que eu supro no outro com a minha própria.
Non, je ne regrette rien ...
Nem das difíceis noites em que passo em claro a me lembrar do seu corpo a aquecer o travesseiro ao lado …
Nem das noites em que não me lembro de nada ao lado ...
Nem dos lados que as noites ao seu lado me fez revirar, fritando no colchão como alho em óleo quente ... gritando por um pouco de paz ...
Nem de nada ... je ne regrette rien ... porque estou aqui, assim, mais eu, menos você, mais você em mim, mais mim em você ... e continuamos únicos: corpos e mentes solitários que arrancaram pedaços de si para ar ao outro e trouxeram do outro pedaços que não foram arrancados, mas cedidos pelos carinhos trocados em momentos sutis, vis, viris ...
Rien de iren pode ser mais importante do que saber que estive você e que você esteve eu: estivemos. E disso, e de tudo o mais, je ne regrette.

2 comentários:

  1. me misturei em tudo e em cada palavra... as vezes nos faltam palavras p/ desfazer os enleios do que sentimos, só a poesia e a música conseguem tranformar todo esse emaranhado em uma linha como de lã, em um novelo, esperando o próximo "felino" emaranhar tudo novamente,... coisas e mais coisas, tudo atado, nozinho por nozinho...adorei :*

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    1. E, um dia, todos esses nosinhos poderão se transformar em nós. E nós seremos nós ... nósinhos um do outro, entre novelos ... e novelas ...

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Se gostou ... e se não ... me diga ... quero saber o que tocou em você esse tempinho que você passou comigo.