quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E orna-me a fronte esquecida, verde, uma grinalda de ira!

Natal, 10/12/2008.

Não há reconhecimento que dorme ao lado no travesseiro verde, como a grinalda de ira que assola a fronte esquecida deste eu-coração que tenta bater no mudo, mas torna-se mudo a cada falácia de sua tentativa insana de reconhecer-se no outro ...
Agora, separam 300 km e 1 ano e 4 meses o eu-coração de sua cara metade que o conforta com beijos calorosos ... não tem mais beijos, tem outro outro a invadir e trazer consigo uma história de 1 ano e 4 meses ... sim ... a história de um outro que invade a identidade encontrada e triparte a esperança de ter esperança na vida de encontros com outros outros confortantes ... To Só! Assim, com letra maiúscula para intensificar a Solidão de estar, novamente, mudo, em silêncio.
Recosto-me nos travesseiros outrora vestidos de laranja e que, agora, travestem-se de verde sem esperança alguma ... não há mais Eco para chegar e trazer consigo a alegria de um nós adorável ... há nós, apenas. Nós que desato e ato insistentemente ... desatarei-os, agora e buscarei outros eus em outros outros nesta Natal ...
... e sigo sozinho co minha grinalda de ira! Ou não ...
Talvez não ... entendo os outros como são e respeito-os para que este eu-coração, que sou eu mesmo (por isso tanta confusão com o sujeito do discurso, ora eu, primeira pessoa, ora eu-coração, terceira pessoa; mas ambos pessoas), possa re-sentir todas as coisas sem se ressentir de nada ...
Experimento tudo ... e deixo-me alegre enquanto posso, e sinto a brisa bater na porta da frente, empurrando-a com sua força quente, e espero, dormindo espero ...
Não, não espero dormindo .... vou dormindo com todos os outros tu-corações que aparecem na minha frente, ou ao meu lado, ao em qualquer ângulo que meus sensores possam captar ... E acordo triste e feliz, triste por ter de acordar ... e feliz por ter dormido e sentido, mesmo que por razões carnais, as emoções de outros tu-corações a vagar em minha vida vivida sem se atrelar a outras vidas ...
Mas isto é, ainda, um por enquanto ... um por enquanto que espera um para sempre, um por enquanto que se vê iluminado de carícias sentidas para sempre nos intervalos de horas termináveis ... de horas terminais ...
E, ainda assim, espero ... retiroa grinalda de ira, verde, e espero a esperança verde amadurecer e tornar-se fogo laranja no âmago de mim mesmo. E com esta esperança, ainda adolescente no trato do amadurecimento, recrudesço, por instantes, a noção de que sei esperar e de que não tenho pressa ... e de que a vida, por si, é uma peça ... peça cheia de atores e atrizes, de diretores, de camareiras, de platéia ... e eu, ator de mim mesmo nos palcos da vida que tracei para mim, que dirijo e da qual sou minha platéia, sorrio e aplaudo cada ato ... aplaudo cada vez que me ato ... aplaudo cada vez que me desato ...
E vou seguindo, sem lenço e sem documento, à procura de uma grinalda, verde, de hera, para trocar pela minha, verde, de ira ... e me desiro. Sim, desiro, assim, minúsculo para se adequar à sintaxe e à ortografia da vida ...
Pronto, desatei os nós ... e voltei a sorrir para a minha companheira solidão que está sempre à espreita, que estava esbravecida ontem e que, tenho certeza, me acalentará mais à noite ali, ao meu lado, recostada nos travesseiros travestidos de verde que me esperam no quarto de dormir ... e só dormir, por enquanto ...
Creio que ouço, ao longe, um barulhinho, algo ainda inaudível aos outros ouvidos todos que não estes meus, e deste eu-coração que já acaricia o mudo ... e tomo consicência de que toda mudez será castigada ... e esboço um sussurro ... um breve e lânguido exercício das cordas vocais, das cordas vogais ... sim ... não são mais sons surdos consoantes ... estou a emitir e a ouvir grunhidos do eu-coração ... e, ao longe ... ainda insipiente, um Eco ...
Abandono a grinalda de ira ... apanho um boné verde ... dirijo-me ao mar ... olho, observo ... visto-o para cobrir a fronte esquecida ... e me lembro de que, na vida, a sombra do meu chapéu recobre minha fronte esquecida por todos os outros não-eus. Fronte inesquecível para mim mesmo .... porque a protejo ... e só a mostro para outros não-eus especiais, que podem regar abandonar a hera que a reveste e transformá-la em ira ... ira que eu domo ... e recubro com nova muda de hera ... a espera de alguém que não a abandone, mas a regue ... e deixe a água de sua boca invadir suas raízes, sem ir embora, até que o seu verde natural, cultivado por mim, sorria labaredas alaranjadas de travesseiros que confortam ... enquanto linguas conversam palavras úmidas ...
nos travesseiros lado a lado.

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