sábado, 12 de julho de 2008

Trouxeste a chave?

Natal, 10 de julho de 2008.

Trouxeste a chave? A pergunta não é minha. Claro. É do Carlos .... O Carlos tem umas bobagens ... que chave? Para que a chave? Fala, o doido, que é para entender as palavras... ele sabe que existe dicionário? Sei não ... sabe não ... sabes não ...
Prefiro achar que a chave é para eu sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas ... e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos ...
... outro doido....
Ser selvagem para quê? E quem é que quer ser qualquer porra entre esquecimentos ....
Não quero esquecer, não vou esquecer, não esqueço ... amorteço a lembrança com não-lembrança. É isso ... nada de não esquecer ... nãolembrar, estou nãolembrando ... e lembro ...
Lembro do tempo em que festejavam os dias dos meus anos ... entre a família ...
Xiii, menti. Não festejavam dias dos meus anos ... menti de novo .... trouxeram um bolo uma vez ... foi lá na cozinha, um bolo ... Parabéns pra você, nesta data querida ...
Mentira .... que data querida é essa? Ela, a mãe, se morrendo de dor ... as contrações dilacerando, dilatando a alma ... e o cabeção a sair, a gritar .. uneeéééééhhhhhh ... choro de criança .. bah!
“Droga ... mais uma infeliz boca para dar de cumê ...” pensa a mãe ...
Seus olhos azuis se retorcem. Teria ódio??? Não! Raiva ... raiva de ser incompetente e não ter conseguido (de novo!) matar aquela criança que crescia na sua barriga .... que ódio .. não, não era ódio, era raiva ... incompetência .... eita ... ser incompetente para matar deveria ser algo bom ...
Ah, a chave ... a chave era ter conseguido e não ter de passar por tudo isso de novo. Os peitos inchados ... leite .... ao menos isto teria .... era teta de 2 litros cada ... a criança iria ficar chupando, chupando, chupando, pegando na orelha .. é, o idiota só dorme se pegar na orelha .. Inferno ... e cortando o bico dos seios com aquela boca infeliz ... mais uma boca ...
A chave, trouxeste?
Não .. não tem chave ... tem clave ... tem grave, tem trave, tem brave ... é de bravear ...
Passar a vida braveando com tudo, sem medar nada, só bravear ... bravear ....
E o jardim sem nenhuma borboleta ... é ... as borboletas vão-se embora quando o jardim tá seco ... a chave da torneira que derrama a água do Pedro está sumida ... o Pedro nem quer saber, ta bêbado .. pegou a cerveja e nem deu pro coitado do faminto chupador de peito de mãe de olhos azuis ..
Também, a mãe de olhos azuis morreu, coitada! Tinha de morrer ... braveou, medou, morreu ... é ... e o povo que chupou seus peitos também já começa a morrer ... coitados, chupam peito, morrem.
E depois a Cesária fala que é doce morrer no mar ... só se for no mar dela .. o mar que conheço é salgado .... nada de doce ...
Só é doce ver a Janaina brincando de fazer espuma de sabão na beira da praia ... isso é doce ... e morrer também é doce ... doce amargo ... é, doido, tem doce amargo .... não conhece? Espere a sua vez ... vai sentir ... na morte, na sua e na dos seus ... morte que traz paz .... e traz dor ... dor e paz, paz na dor, dor na paz ... paz ... pás ...e a terra por cima .... singelo isso.
Depois cobre tudo de grama, fica tudo verde e seu nome aparece lá, na lápide ... Aqui jaz ... paz ... pás ...
...
...
E, ser selvagem .... na grama ...
(Será que as borboletas são selvagens?)

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