segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vou calar minha lembrança com o silêncio de sua não-voz

Natal, 15/12/2008.

Estranho-me ao lembrar de ti e querer ficar a lembrar dos momentos em que te conheci e me reconheci. Calar-me-ei para poder continuar a viver a vida de alma solitária e corpos visitados que me resta.
Sinto-me calmo, é certo, mas me sobressalto nas lembranças de um futuro que não existe e que defino como saudade ... saudade do que não será. Saudade do que anseio e espero, dormindo espero ... e ainda assim, não me desespero.
Sinto-me acalentado pela vontade de ter você, de estar você ... e não estou, como sempre.
Marcas de dores indolores me consomem o coração dominado pelo cérebro que conquistei em batalhas mil ... todas vencidas nesta vida de desesperança ... e revitalização da esperança de não esperar ... de não desesperar. E não desespero, porque espero a vida me trazer as alegrias que sei possuir, as felicidades instantâneas em corpos outros tantos quantos posso encontrar e desencontrar, encontrar e desencontrar e desencontrar sem encontrar o que busco na verdade.
E sigo a buscar encontros e desencontros ... até que o eu-coração se perceba feliz, nos braços e abraços quentes regados a saliva morna de bocas enternecidas pelo sabor de beijos úmidos e furtivos, úmidos e fugidios ... úmidos e vadios.
E assim sinto a vida a viver em mim. Em tardes de praia regadas a cerveja, em tardes de casa regadas a beijos mornos e ternos sem qualquer esperança de serem eternos ... em noites de encontros esquizofrênicos de prazeres carnais naturais ... e banais.
Mas na banalidade desses encontros e desencontros esqueço de me lembrar de ti ... apago-te de minhas entranhas para receber prazeres estranhos, mas ainda assim prazeres. E deles retiro minhas forças para reencontrar minha vontade de esperar o que sei estar, de certa forma, ainda em suas mãos, ainda em sua boca, ainda em seu cheiro que me alimenta a alma a cada abraço ...
Abraço, então, esse sentimento que sei morar em mim, mas que vive em outonos e invernos ... e, poucas vezes, encontra o sol do verão e a beleza da primavera. Sou estações de mim em outros poucos outros ... domino as estações primeiras, as estações que embrutecem a vida primaveril e recobrem de nuvens o sol do verão ... não tenho, ainda, as forças da ventania que trazem alguns seres que passam por mim ... que passam em mim, ainda ...
... e não quero tê-las ... quero é saber que mantenho-me vivo em dupla estação e revigoro-me nas duplas estações trazidas por ventos natalenses que ora sussurram palavras líquidas, ora silenciam a racionalidade em mim intrínseca para fazê-la gemer de irracionais sentimentos que não controlo, que não consolo ... mas que vivo intensamente até que a vida deles me separe e me faça refletir sobre o prazer de sentir, de querer manter-me sentindo ... e não poder.
E não ligo ... ou ligo e finjo que não ligo para poder subsistir a todas as coisas que não posso viver com quem quero ... e não quero viver com quem posso ... nesse eterno emaranhado de desencontros de sentimentos que é a vida ... que cala as lembranças no silêncio oferecido pelos tus da vida ...
... e vivo.
Vivo porque não tenho tempo de esperar, não tenho tempo de desesperar, não tenho tempo de querer tentar ... tento, mesmo sem querer ... e quero, mesmo sem tentar ... porque aprendi que a vida urge, que a vida muge, que a vida, mesmo que aparentemente dura, não me endurece ... me amadurece ... me torna terno e sereno e calmo ... e assim
sigo tranqüilo o caminho de areia que conquistei ... olho o mar ... sinto a maresia ... piso na areia quente e sinto o mar beijar meus pés ... acalentando-os e fazendo-os sais naturais arenosos que sustentam meu ser esperado .... assim entendo que, de tudo o que eu sempre quis, quis ter a mim mesmo ... há tempos encontrei-me inteiro, encontrei-me feliz comigo, encontrei eu eu-coração que bate mudo no mundo, mas não se cala, não se escala ... e não se descola de nada ... se imiscui em si mesmo e sente-se feliz, em noites de gala ... eu e meu eu-coração, ambos vivendo a vida que procuraram para si ... e encontraram num eu completo, num eu que vive .... e assim,
vou me tendo pela vida afora ....

Um comentário:

  1. só passei pra deixar um xero um abraço um beijo e... é só isso mesmo...rs
    Carla

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Se gostou ... e se não ... me diga ... quero saber o que tocou em você esse tempinho que você passou comigo.