sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Na placenta de água salgada ...

Natal, 24/10/2008.

Estou aqui, de novo, minha metade que se dá para você. Eu sou eu, aqui, posto, escrito, descrito, proscrito ... eu ... mas o eu que aqui está não sou eu para você ... porque para você eu jamais serei o que eu sou para mim, aqui. Aqui, você deve ler a mim e a você, junções de eus dispares que se associam numa significação única: a sua.
Não me encontrarás aqui, porque o que encontras aqui sou eu dito, eu expresso ... e tudo isso é o que é se você colocar a sua parte de você em mim ... neste eu que te desafia a saber quem sou ... jamais saberá. Desista.
E eu também não saberei quem é você. Não me importo. Saberei apenas o que é o meu você, que construo a passos largos largados na areia que adentram o mar ... e recolho das inferências que faço das marcas deixadas na areia por você .... que, também, adentram o mar ...
No mar, pegadas líquidas e salgadas se unem a Janaina para se compreenderem sem querer se compreender ... subsistem na placenta de água com sal que fecunda os eus-fetos os eus e tus fetais que renascem na simbiose do conhecer .... e desconhecer ... e imaginar que conhecem-se ...
Renascem sais. Tais. Vitais ... e para os outros todos, vitrais... porque todos os outros verão caleidocopicamente o que ambos, você e eu, vemos nitidamente ... ou pensamos que vemos nitidamente, mas se pensamos que vemos nitidamente, vemos, não é assim?
Sim ... é assim ... então por que querer saber quem sou eu exatamente se o que serei é apenas o que você consegue enxergar em mim? Não precisa saber quem sou, sou o que queres que eu seja sem sê-lo .... mas sou, porque você assim o quer ...
Eu, por mim, sou eu mesmo.
Você, por você, é você mesmo ... e vamos sendo os eus nossos e os eus intercalados de nós que se fazem em duetos simbióticos, semióticos ... neuróticos ...
Somos, todos, pedaços arrancados dos outros eus que pululam em nossas vidas, somos complexos ... e desconexos do outro porque convexos ....
Não pense que não te entendo. Não pense que não acredito em ti. Essas são as suas dúvidas, não as minhas ... eu estou acreditando naquilo que leio de ti .. e me conforto com isso, me reconforto com isso, me conformo com isso ... não sou seus quereres ou seus deveres ou seus fazeres ... sou eus quereres, eus deveres e eus fazeres sobre os vocês que você me apresenta .. e só.
E isto basta. E não deves agradecer-me por estar contigo sem estar, porque não estou contigo por ti, estou por mim ... e, se isso é difícil de compreender, não compreenda ... não repreenda ... não, não, não ...
Aceite. Mesmo que isto lhe pareça um açoite!
Perceba ... como percebi na vida vivida vividamente em mim ... que as ratificações são desnecessárias quando a percepção do outro é inteira (e do outro). Não confunda os seus poucos momentos de insegurança com a insegurança do outro.
O outro, por si, é apenas um pedaço de outros tantos outros que já se fizeram outros presentes em momentos outros ... deixe-os ... pedaços e outro, porque precisam-se despedaçados ...
Não pense que o outro será outro que não ele mesmo ... não será ... e poderá trazer sofrimento ... que venha o sofrimento ... e prove que seremos sempre outros sofridos, cujos sofrimentos revelam nossos outros eus, os eus dos outros.
Enquanto os nossos eus ... fluidificam-se na água salgada da placenda de Odoiá ... para serem apenas eus de nós mesmos ... somos eus dos outros, e nossos ao mesmo tempo.
... e esperam o tempo que bate na porta da frente e se rói com inveja de nós, porque sabe, o tempo, passar ... e nós, não ... porque quem vem para a beira do mar, nunca mais quer voltar .... nem para buscar os momentos que junto dele não viveu ... porque viveremos todos os momentos que quisermos ... e se não vivermos, é porque não os teremos querido.

Um comentário:

  1. Vc a cada dia me surpreende com suas palavras. Vc é um gênio.

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Se gostou ... e se não ... me diga ... quero saber o que tocou em você esse tempinho que você passou comigo.