sábado, 25 de outubro de 2008

Um olhar de fora, ou de dentro. Que importa?

Natal, 25/10/2008.

Saiu de todas as sacadas, de todas as lógicas ... e foi ser ser-vagem entre mármores e contentamentos ...
E contentou-se consigo e com todos as gentes que gentavam na noite quente e tórrida de amigos que se encontram em velórios de almas vivas e mortes vívidas ... sorriu. Sorriu para sentir as alegrias de abraços de muitas gentes, de gentes que se esqueciam da existência vil para se sentir gente ... quente, somente. E no calor da vida vidaram ... todos vidaram a essência de se sentir descompromissos de todos os outros e de tudo ...
No mármore negro entreolharam-se ... e não se viram.
Ficaram a pensar em outros tantos outros que se olhariam na mesma situação e se entenderiam, selvagens que queriam apenas ser vagem, pequenos fetos-caroços de um pé de feijão impúbere, sentiram-se presos e unidos pela placenta verde da árvore da vida ... não viveram ... pensaram-se enquanto a vida urinava urina mesmo ... e foi só.
Mas não acabou ... não acabou a vida que brotava daqueles momentos de vida vivida vividamente entre músicas de puts puts e puts puts de música sem nexo. Tudo bem. Nada é para ter nexo mesmo ... o som, era apenas som, baladas que embalavam a alegria de se sentir livre de quilombos antigos e de sorrisos falsos e flácidos na cara de gente que não gentava ... mas isso foi antes.
Antes de se saber consciente da vida existente na sua própria existência ... vida de abstinência de si e de outros tantos sis que se apresentavam sis únicos. Sis de parcas palavras e parcas lembranças deixadas para a posteridade ... mas agora não. Porque, após ter idade, a posteridade é o agora ... e o agora se faz suficiente para que a vida seja sentida na sua essência.
E o que é a vida? Não sabe. E você também não sabe ... nem adianta expor sua filosofia de revista Capricho tentando explicar o inexplicável ... admita que não sabe e que somente se sente você em você e ponto. Também não replique, apenas admita. E isso será o suficiente para todos os sis que se pensam ... ou não se pensam, porque penam. Simples assim.
Que importa? Não importa ... porque o que realmente importa é que há porta ... e a porta que há abre-se num leque de tantas outras portas que comportam, mas não se comportam ... porque não precisam ... e desprecisar é estar livre de obrigações imprecisas, quem delas precisa? Ninguém!
Por isso contentou-se ... contentou-se com o nada que é tudo ... e com o tudo que é nada, porque já não questiona nada. Vive apenas, e, em alguns momentos, vive a penas. Mas esses são poucos ... ainda bem.
Sua vida passara de tantas amarras adolescentes para qualquer coisa boa ... à toa, mas boa boa boa boa ... tão boa que o simples fato de não estar se preocupando com o que é boa ou à toa lhe trazia alegria ... lembrou-se, novamente, de quando festejavam os dias de seus anos e de quando era feliz e ninguém estava morto ... e lembrou-se de que também isto era passado para si ... e não sofreu.
Não sofreu porque agora, na sua vida de vagem, grão recoberto de placenta verde da vida, muitos estavam mortos ... muitos tornaram-se corpos putrefatos em túmulos marrons em uma cidadezinha interiorana ... e não ligou. Não ligou porque entendeu que a vida também passa ... como passam os amigos que vêem apenas para fazer o que têm de fazer e vão embora, como passam os amores que vêem e se vão, como um vento que passa a soprar brisas gélidas nas têmporas maduras e grisalhas ... não ligou de novo.
Entendeu que todos são efêmeros, que tudo é efêmero ... e porque efêmeros, esvaem-se. Tudo bem, pensou consigo e sorriu.
Sorriu a alegria de entender quase tudo, ou quase nada, mas entender de qualquer forma. E isso lhe bastou ... e sentiu-se reconfortado com a conclusão inconclusa a que chegou.
Estranho?
Para muitos, sim. Para poucos, sim também ... mas para pouquíssimos, não. Para esses últimos, tudo o que aqui é dito é inteligível ... ou não. Que importa?
A esses a quem o que importa não importa parabeniza porque partilha da mesma sensação, da mesma compreensão de que nada importa, embora tudo importam ...
Importam para dentro de si tudo o que lhes é exterior, decantam ... e entendem ... como entenderam-se na placenta de água salgada ... assim, simplesmente.
Não há, agora, como não há, há tempos, ilhas de si ... há muitos sis ilhados na esperança de tantos outros que espera descompromissadamente porque compromissar-se com algo que não depende dele não é mais de seu feitio. Fora outrora ... quando gentes gentavam vivas ao lado dele ... mas agora, que gentes gentam mortes mórbidas e doloridas no céu e no inferno não liga mais ... por quê?
Não sabe!
E não sabendo vai vivendo a alegria de pensar que vive .... e será que vive? Sim, vive! Se pensa que vive, vive ... e se outros pensam que não vive, são os outros que entendem a não vivência ... ele não ... e segue feliz pensando o que pensa que pensa ...
Não repensa ... e se sente feliz em não repensar ...
Não disse no início que tinha saído de todas as lógicas?
Pois é ... saiu de si para pensar-se ... e chegou a esta conclusão: ser vagem entre contentamentos é isso, entender-se complexo e sentir-se enternecido por isso ... e não entender, e admitir isso.
E isto lhe basta. O eu-coração que bate no mundo deixou de ser Clarices e Carolinas ... porque achou o que procurava ... e estava dentro de si, batendo. E pensou:
“Porra! Como não percebi antes? Estava aqui o tempo todo ... e eu a procurar ... sem desespero ... mas procurando, mesmo assim.”
E escreveu essas palavras que a poucos tocam ... porque ele é para poucos ...
(Este sou eu olhando para mim, de dentro para fora ... ou de fora para dentro ...
Só resta saber se de dentro de mim para fora, se de fora de mim para dentro de mim mesmo, ou se de dentro de ti para mim .... ou de fora de ti para dentro de ti ... ou de nós ...
Que importa?)

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