quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dos discos riscados, dos riscos discados ...

Natal, 22/10/2008.

Os ensaios sobre a cegueira trouxeram um abismo ... abismei. Estou acostumado a estar à beira do abismo, mas não tinha percebido sua imensa vaguidão, seu incomensurável poder de me fazer sentir eu mesmo sem mim. Foi assim. Por segundos suas palavras disseram-me que eu não devia ser eu se quisesse ser o que eu quero ser de mim ... emmimmei-me. Lembrei-me de que vira todas as coisas e me maravilhara de tudo, mas que tudo sobrara ou fora pouco .. e eu sofrera. Sofrera para ser o eu que sou em mim, e de quem gosto.
No mesmo instante resolvi que emimmesmo estava o que me fazia eu. Refleti ... enquanto ouvia suas palavras de si, reconhecia-me em um si seu e meu. Emmimmesmamo-nos, acho ...
Entrei no carro para ouvir um refrão que tenho ouvido desde que aires esquisitos confiáveis sopraram brisa fria ... and the hardest part is letting go, not taking part ... that IS the hardest part ... mas é preciso. É preciso e preciso, correto, certo ... e eu preciso.
Preciso manter-me como me construí, assim, preciso como sou. Aliás, não preciso. Sou, simplesmente. Já está incrustado em mim ... já sou eu ...
... que bom ...
sorri um sorriso de 120 km por hora ao ver que Janaina brincava de noite na praia ... sofri ao ver que nem todos conseguiam sorrir a 120, e que precisavam dos seus 80 permitidos ... para sofrer seus sofrimentos por vias costeiras ... ponto.
Revesti-me de mim e tornei-me o mim que os outros queriam de mim ... uma pergunta me volta para um mim só meu ... uma afirmação remete-me ao outro mim de mim ... seriedade não combina contigo .... ouvi.
Por um segundo me repercebi: transparente ... imediatamente transplantei-me para o mim dos outros ... brinquei ... esqueci o mim de mim mesmo ... e, ainda assim, eu era eu ... porque sou eus ... tus ... eles ... nós ... eus que confrontam-se para convergirem-se para si ... e dão nós em vários eus.
Pronto. Subi escadas e perguntei por ela ... ela estava lá ... em si. Chamei-a para o nós ... não ecoou ... entendi ... e fui ser eu mesmo em mim ... de novo.
Em casa, mais eus ... eus que pululam na tela do computador, eus que ficam falando bobagens, eus que querem saber do meu pau, eus eus eus ... todos eus que buscam seus eus ... esqueço-os ... e brinco com todos os eus mesmo assim ... porque quero-os seus e meus ... ateus ... proteus ...
Em meio a tantos eus ateus, alguns eus meus ... uma prosa de mim mesmo que eu mesmo não entendia .... mas que entedia ... entediei, então.
... esqueço dos riscos na tela ... disco para o seu eu para ouvir um pouco de eu mesmo na voz de ela mesma, ouvi um eu com sono ... e digo ... bem ... se você não quisesse falar ... não atenderia ... mas eu estava com saudade desse eu aí .... vinte cigarros depois ... aidê ... que bom .... você está você está você de novo comigo ... me lembro do coldplay que aires esquisitos confiáveis me fizeram, sem querer, entender .... misturo tudo para ver você Yellow ... e canto
Look at the stars,
Look how they shine for you,
And everything you do,
Yeah they were all yellow
… e vejo o anagrama …. e adoro poder saber que você Lady, pode lay aqui ... porque estou aqui eu você em mim ... e redescubro que posso me re-sentir sem me ressentir .... e sinto que não doei-me a ti, você roubou-se a mim ... roubamo-nos um do outro para sermos o par que somos agora e que seremos por um tempo até que outro par se torne par de nós e nos departiremos .... porque as pessoas passam pela vida da gente, fazem o que têm de fazer ... e vão embora ... assim ... simples .... já entendemos você e eu isso ... e não nos desesperamos com isso ... esperamos por isso ... porque sabemos que somos eus complexos, conexos, convexos e reconvexos .... somos nexos ... e os pedaços de nós que temos em cada um de nós são de nós mesmos ... assim ... simples como não somos.
Assim, riscamos todososdiscosqueouvi-mos e nos ouvimos a cada risco riscado de nós ... porque nos arriscamos sermos nós mesmos ...
Eu estou eu, você está você, mas não somos mais os mesmos ... mas mesmo assim temo-nos ... sem temer ... ou tremer ... porque não temos tempo para perder com outros eus que não os eus de nós mesmos ...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Não chove lá fora ... e aqui ... bem ... aqui, acontecimentos ...

Natal, 21/10/2008.

Está frio. Frio o ar que respiro, frio o olhar que lanço aos outros, frio o eu que existe em mim. Aqueço o ar que respiro com fumaça de cigarro, encubro o olhar lânguido sobre o mundo com os óculos de sol, esquento o eu que existe frio em mim com abraços dos amigos que verei em meu velório. E espero.
Não busco, como já disse, encontrar nada. Sou Carolina natalense para quem a procura por si só já é o que quer achar ... e acho ... e acho ... e acho ...
Mas não me acham a mim mesmo. Acham pedaços de mim, fagulhas de um eu que esperou um futuro que não veio, que ansiou uma saudade que tornou-se saudade mesmo e não se deu ao luxo de esperar passar a saudade do futuro, porque o futuro chegou e tornou-se hoje.
Não espero. Desespero. E desesperando vou seguindo os desencontros de mim. Na beira do abismo, brisa fria e palavras desconexas, palavras que se desnudam para si mesmas e se tornam signos de si, represadas em sua significação mórbida.
E eu?
Desespero de novo. E desesperando vou desencontrando todos e tudo. Desencontrando vou encontrando o caminho que traço na minha existência plena de mim. Sou todo eu mesmo.
Há tempos deixei de caminhar à beira da praia ... há tempos deixei de ir à praia ... há tempos deixei de encontrar ... há tempos desencontro ... sopraram, neste caminho, aries de esperança ... foram-se e deixaram-se aqui como resquícios de uma vida amortecida pela vontade de viver ...
Não levaram, em sua saída, pedaços de mim ... não tenho mais pedaços para serem levados ... colei-os em mim e de mim não mais se desprendem ... sou pedaços inteiros de eu mesmo ... pedaços colados e cicatrizados como fragmentos de dores exauridas na esperança de viver ... e vivo... ainda que este viver seja visto como vida vadia, vadio a vida que vivo para viver uma percepção de mim ... para entender a mim.
No divã resolvi-me há tempos ... sentei e chorei. Não adiantou. Corri, não adiantou. Parei, não adiantou. Vivo, então, sem paradas, sem correrias, sem sentar, sem chorar ... caminho a passos largos na existência, onde largo meus passos .... meus descompassos ... meus espaços ... meus espasmos.
O tempo urge e urge pensar que a urgência do tempo pode levar o pouco que sobra de alegria ... não ... não permitirei que a vida me roube seu sabor ... meu sabor ... e meu dissabor.
De dissabores refaço-me novo eu-coração que passa a largos passos largados ... Nos pedaços de eu-coração, eu mesmo. E chega ...
Aqui subsisto na felicidade de saber que posso re-sentir sem me ressentir ... de saber que habita em mim a capacidade de querer ao outro tão bem quanto a mim mesmo sem culpas ou abnegações, ou juras, ou promessas e sem querer que o meu querer seja querido como quero ... é meu o querer ... não é seu o querer ... e ao querer o que quero, quero que você queira o que quiser ... porque simplesmente quero, não anseio ... não vilipendio você em respeito a mim ...
Assim também é minha vida em mim ... não me permito vilipendiar o eu-coração porque se o fizer, perderei a mim mesmo, não é a ti que perco quando perco a honestidade librianamente pensada que em mim habita desde os tempos mais remotos ... não ... não perco a ti porque não possuo esse ti ... e jamais quis possuir ...
Sinto-me então gratificado por entender a mim mesmo como um eu completo de mim. E enterneço-me ao pensar que aries esquisitos confiáveis rondam a superfície e lá ficam ... refrescam as têmporas grisalhas e refletem nos óculos que escondem os olhares frios um fragmento de alegria ... e só.
E basta.
Basta que eu me sinta assim .. para entender que não me prostituo nos braços que encontro pelo caminho. Dôo-me ... e vou doando os pedaços de mim para sentir eu mesmo feliz. Para lembrar, mesmo por pequenos momentos, o quanto é bom saber que meu calor é caloroso aos seres que pululam em minha vida ... e ali mesmo reconheço minha capacidade de alegrar, de cuidar, de festejar, de brincar, de sorrir ... e ver-me refletindo em corpos outros tantos com quem divido-me ... até que chegue um momento em que se eternize ... que perdure mais do que dois ou três gozos e vinte cinco afagos ... mais do que oitenta e dois beijos dados no espaço de sete horas ... mais do que o sorriso dado num banho com sabonete de criança ... mais do que na brincadeira entre a água quente ou fria do chuveiro ... mais do que os gritos dos nos intervalos de insanidade do sexo ... mais do que ... mais do que ...
... assim te espero ... sem perder um momento sequer da vida que me resta ... não tenha pressa ... enquanto não há um você, vou vivendo com todos os vocês que você permitiu estarem você em mim ... porque você não está aqui.
Mas eu estou ...
e quando você chegar, seremos apenas eu, você ... e o nosso passado, no passado ... porque também não quero saber o seu presente, o seu agora, porque agora, você ainda não chegou ... e quando chegar ... traga seu passado consigo ... não o negue, não o apague ... porque vou te querer como serás, no futuro ... e você só será você no futuro porque vive, agora, o que recordaremos no nosso futuro, mas não recobraremos o que fomos ... nos apaixonaremos por nós, compostos de cicatrizes passadas ... e de perspectivas futuras, nossas perspectivas ... e seremos, também, passado de nós mesmos um dia ... mas isso será no futuro do futuro ... te espero, sem desespero ... quem quer que seja você, que agora ainda se constrói ...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Já tenho os amigos que quero em meu velório ...

Natal, 15/10/2008.

Na realidade, as palavras líquidas solidificaram-se com a brisa fria que falaram os narizes ... os retrovisores avistaram a alegria do eu-coração deixadas para trás ... à frente, a vida viva friando em mim ... friei... agora é arrancar a última folha do mata-borrão e vislumbrá-lo límpido, vazio de eus parte ilhados ... a ilha solidão volta-se para seu oceano de eus eu-mesmo e em mim solidifico o coração que estava amolecendo pela brisa quente.
Ainda tem brisa, é certo, mas sobrou apenas o sal mar .... o sol mar e o lua mar esvaeceram-se com as pretas palavras sólidas na tela branca na proposta de amizade ...
Sim ... amizade ... mas a brisa quente soprada pela pele das amizades não amolecem o coração, não deste jeito. Decido, então, não morrer coração aos poucos com a esperança de ois de bares e abraços fraternos ... fujo.
E fugir é um respeito a mim ... respeito-me acima de tudo e aos outros, contudo.
Ainda estou no momento de perceber quais coisas serão recolocadas em seus lugares devidos porque as baguncei sob o calor da brisa quente e das palavras líquidas ... enxugo do chão as palavras líquidas, ligo o aquecedor para aquecer a brisa fria que sopra a casa e a alma, a carne e as entranhas de mim ...
Desenlacemos as mãos ... vou, novamente, como Lídia, ter ao rio ... Iemanjá não merece ver-me como estou agora, não! Por certo ela me afagará amanhã, salgarei minha carne em suas águas ... vou ter com Janaina ... vou ter com minha inseparável solidão uma prosa sobre nós dois ... estamos numa relação de interstícios, eu e a solidão ... talvez Odoiá tenha algumas respostas para esta mente perturbada pela brisa fria, pelas palavras sólidas, pela realidade que insiste em bater à porta e deixar o sentimento passar com o coração que bate no mundo.
Bato-me.
E olho pela janela a vida apagada ... o jardim apagado ... levanto-me ... caminho pela casa ... encontro a tomada que dá luz ao jardim ... observo-o pela janela ...
Lá fora, o pequeno coqueiro balança preto no muro branco e desenha a esperança de uma solidão alegre .... As folhas desenham uma boca de dor ... que grita palavras ininteligíveis .... um cisne branco de barro assiste a tudo impassível ...
... eu assisto a tudo impassível ... estou, ainda, inerte ... hirto, por certo, mas inerte ...
Chamo para acompanhar a mim e a solidão uma taça de vinho .... converso com ela palavras secas, vermelhas, quase negras ... na boca, a sensação de solidão é amortecida pelo álcool vermelho das uvas amassadas ...
Olho para o corredor .... quem está lá? A solidão amortecida pelo álcool ... saiu de minhas narinas que não conversam mais brisa quente e apenas murmuram secas vermelhas palavras ...
Penso: solidão .... estou de volta ... venha ter comigo, como temos tido um ao outro nesses últimos tempos ... venha ... estou, de novo, pronto para ti.
E ela vem ... somos simbióticos ... nos entendemos ...
Começamos a conversar, relembramos nossos momentos de separação .... partilhamos nossas palavras secas com a taça e com o cigarro que assistem a tudo sobre a mesa. Ela, bêbada de uvas vermelhas amassadas, ele cochilando no cinzeiro cheio ... e me lembro que os ombos suportam o mundo ... enquanto assistimos, os quatro, a verdade de Drummond bater à porta e gritar que ...
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
... mas me lembro, também, que aqui, em Natal, chove à bessa!
E espero ... espero ... espero ... espero ... espero .....
Consciente de que palavras líquidas inundarão o coração árido para que nele brotem novos coqueiros que balançarão com a força de nova brisa quente ....
... e não estou com pressa, porque já tenho os amigos que quero em meu velório.

Saudade do futuro

Natal, 14/10/2008.

Saudade é um sentimento estranho, esquisito, estapafúrdio, esdrúxulo, esqualquercoisa. É saudade e ponto. Definir o que se sente ao sentir saudade é pensar que se está longe aquilo que se quer perto ... é olhar para o passado e querê-lo de volta ... é é é ...
Mas estou sentindo uma saudade minha, uma saudade de um futuro pensado, desejado, almejado, alvejado ... é ... alvejado. É isso.
Não estou com saudade de ouvir os narizes conversando brisa quente, não tenho saudade das palavras líquidas, não tenho saudade dos toques. Não, não tenho. Quero-os, apenas. E me conforto com o meu querê-los. Tenho é saudade do que passei a sonhar quando percebi que os aries sopravam esperança ... quando percebi que a solidão estava sorrindo para mim um adeus de alegria ... quando notei que o coração não estava morto .. e quando percebi que quando vim a ter esperança, eu ainda sabia ter esperança ...
Percebi, também, que os aries sopravam mãos enlaçadas fugitivas do céu ... livres a brincar na água das nuvens antes de cair na terra e perceberem que tocavam a realidade ... realidade que foi real por 4 meses, 3 semanas e 2 dias que duraram a realidade de 113 minutos. Cada um dos quais em que se percebia que
Hoje,
Estar
Livre
Implica
Osmose ... e isso não é uma contradição ... é uma contração ... enlacemos as mãos na realidade então ... na realidade que pode ser raridade, sanidade ... e percorrer a idade.
Nesta cidade, não vamos fazer como Lídia à beira do rio, que vai ter ao mar, e nos deixar ouvir que
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos ...
... simplesmente porque não vamos ter-nos ao rio, teremo-nos ao mar, adiante ... onde tudo é sal e brisa, sol e brisa, lua e brisa e os aries sopram brisas quentes em meio a palavras líquidas.
Não vou, eu, de cá, tergiversar ... não, não vou.
Não tergiverso há tempos, porque aprendi a vida viva vivendo em mim ... e na solidão compartilhada que me acompanha ... apreendi ambas, ambas, vida e solidão, contenho-as em mim, assim, pleonasticamente expressas em um ser solidão-viva, que vive-solidão ... e espera, dormindo espera, com uma grinalda de hera.
E ... se antes era ignorado, hoje, sem saber que intuito tem, rompeu o caminho fadado e, pelo processo divino que faz existir a estrada, trouxe aries de saudade ... saudade de um futuro que bate à porta, com o vento que sabe passar ... e me deixa a sensação de que eu, não, não sei passar, porque, ao passar, passa comigo meu coração que bate no mundo. Passamos juntos, sempre. Carrego-o em mim. Somos um eu-coração. E enquanto existir a união eu-coração, existirá vidavivavivendoemmim, que é mais vida quando, por osmose, sinto aries a soprar brisa quente, devo confessar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Descompassos e lapsos relapsos

Natal, 13/10/2008

Mergulhado no coração batendo no mundo, mundei. E com todas as coisas mundanas esperei que o mundo enxergasse esse coração que nele batia. Ofereceu-me, o mundo, um mundo de coisas para bater. Braços coxas pernas pés mãos bocas. Ocas! Parei então para apreciar todas as coisas mundanas dadas pelo mundo imundo. Imundei. Pisei na areia fofa umedecida pela garoa que presenteou o sábado. Sabadei.
Senti as emoções que são sentidas na carne. E, entre braços coxas pernas pés mãos bocas, carnei. Não me preocupei de mim, ocupei de mim, ocuparam-se de mim.
E eu deixei.
Gostei.
Gozei ... e só.
Carnado, fui ver a vida por um outro prisma. Encontrei amigos que amigaram,
encontrei bêbados que bebaram,
encontrei gentes que gentaram
... gentei também.
Até perceber que havia gente que gentava só comigo. Todas as gentes não eram gentes exceto eu ... e a gente. Gentamos, então.
Antes de tudo, palavras, palavras que procuravam entender o porquê de se querer gentar junto, gentar a dois ... palavras que fizeram a gente se sentir gente. Foi isso.
Getamos, gentamos, gentamos ... as palavras mostraram as almas da gente ... a calma da gente. E sorrimos. As palavras tornaram-se líquidas, trocamos nossas líquidas palavras em embalagens de abraço, enquanto os narizes conversavam brisa quente ...
palavras líquidas se misturavam em nós ... estávamos em nós ... liquefeitos ...
Perdemo-nos no tempo e no tempo perdido nos encontramos almas perfumadas ...
Brisa quente, palavras líquidas e almas perfumadas recobraram a esperança de ver a solidão ser parte ilhada ...
Ilharemo-nos, conosco.
Isso.
Tudo é dito num plural de mim mesmo, sei. Não posso dizer que as ilhas de eus que estão arquipelagando-se em mim mesmo são, também, suas ilhotas se juntando num delta. Não posso ... ainda.
Mas como tudo que é dito aqui é dito em mim, digo-te. Digo-me. Poderei. E se não puder, poderei assim mesmo.
Voltei a sentir a vontade de ter as palavras líquidas na minha boca, voltei a sentir a vontade de sentir o perfume daquela alma perfumada juntando-se a minha, voltei a ter vontade de deixar os narizes conversarem brisa quente.
Estou vivo, em mim.
E vivo, conosco.

domingo, 5 de outubro de 2008

Clarices

Natal, 05/10/2008.

É ... você pode estar pensando que sou pedante. Acertou. Preciso escurecer minha alma límpida com as cores que o mundo quer: rudes. Nada de tons pastéis para sobreviver à escuridão que a vida me obriga a entrar. Simples assim. Sem dor, apenas reconhecimento.
que minha solidão me sirva de companhia
que eu tenha a coragem de me enfrentar
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo
Foi o que disse Clarice, certa, como sempre esteve. Estar pleno de tudo é o que sustenta o meu pleno viver e me enfrentar é a forma que encontrei de enfrentar os outros que me querem em frente. Sigo sem rumo no rumo da subsistência. E sofro pouco, mesmo que o pouco seja demais para mim.
Há tempos a solidão não dói, conforta. Estar só tornou-se uma forma de sentir-me completo, repleto de mim por todos os lados, ilhado em mim mesmo e respirando o ar puro da vida escura. Vivo, pleno. Saber disto é entender e compreender que o nada é tudo, e o tudo é o nada e que eu nado em tudo e em tudo, nada. Que nada!
Em tudo, tudo.
Acordo todas as manhãs para descobrir que estou feliz, que fiz o que quis de minha vida e tornei-me eu em mim, comigo, certo e incerto, mas eu mesmo.
Assim, enfrentei-me e reconheci em mim um porto. Um porto seguro que conforta a si e a outros na vida escura que assola todos os nós de nós mesmos. Somos escuros, obtusos.
Nada é preciso dizer para nós quando sabemos disto. Nada precisamos cobrar de nós mesmos quando descobrimos que nos cobrar é usurpar nossa própria capacidade de sermos o que queremos ser. Basta que os outros o façam. Deixe-os ocuparem-se de mim e ficarem a pensar quem sou eu. Não sou, estou. E isto me basta.
Saber ficar com o nada, como queria Clarice, é saber reconhecer em si o vazio de uma existência plena. É entender que a vida é isso, e é nem pouco nem demais para mim. É vida, apenas.
Voltar atrás e
Irritar-se com a
Dor sentida não
Adianta, atrasa, arrasa...
... não me esqueço mais de mim, não sinto saudade dos anos em que festejavam o dia dos meus anos, não sinto saudade de um eu morto a tapas e pontapés. Não, não sinto.
Não sinto vontade de voltar atrás, de consertar, quero é concertar ... e ouvir o barulho de minha sinfonia tendo o mar como companhia... e ele está logo ali. Perto de mim, em mim. E eu sei disso.
Quando me lembro da tristeza que trouxe-me a solidão, regozijo-me. Não, não estou louco! Regozijo-me por ter tido o prazer de sentir a dor e entender que dela precisava para estar aqui agora, estar assim agora, e não sentir a dor de outrora. Mesmo sabendo que e outrora eu era de aqui, não me sinto regresso ou estrangeiro, me sinto egresso. Egresso de mim.
Assim, como tudo, simples. Ponto.
Redescobri-me em mim, redescobri um eu que eu queria eu. E fico feliz. Recobro pedaços mortos de mim e não oro por eles, não os ignoro também. Apenas recobro. E não cobro. E assim vou seguindo o meu rumo, o rumo do qual extraio forças para a subsistência e no qual subsisto ... e insisto em arrancar os cistos, em extrair de mim os amálgamas e quelomas de um eu ilhado, cercado de outros eus. Aperto cada furúnculo até que jorre apenas o sangue vermelho, sem o pus amarelo. Espero, tranqüilamente, a cicatrização e sigo em frente, não mais inerte, mas hirto e em passos largos e, a cada passo, redescubro-me.
Sou, como Clarice, um coração batendo no mundo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Coaxou ... e foi-se.

Natal, 30/09/2008.

A gestação foi breve, seis dias. O girino em segundos transformou-se num enorme sapo a coaxar pela casa toda. Coaxava na sala, no quarto, na cozinha, no carro, na rua... saia da casa para invadir o coração, a alma e tornar tudo um brejo cheio de lama ... e de coaxos. O som barulhento e sem sentido acabou por arrefecer qualquer sinal de vida deste gestante em recuperação ... recuperação do susto, do sopro na vida ... era o próprio lobo mal a assoprar e assoprar a casa dos três sapinhos coaxantes ... derrubou as palhas, derrubou as madeiras e deixou os tijolos abalados ...
... era o momento de a vida fazer eco e, no eco da vida, a ida .... adeus.
Sinceridade na tela do celular: “Não sei ... mas não senti como pensei .... Não posso negar que estava mais empolgado. Me desculpe. Sejamos amigos”
- Por que isso? (a pergunta veio celularmente)
- Desencantei.
- Estou acostumando-me com decepções ...
- Pense que desta vez foi, pelo menos, com honestidade.
E foi assim ... os coaxos deram trégua ... a solidão sorriu e disse que não tinha me abandonado .. estava lá, à espreita, esperta como sempre.
À noite, justamenteumalindaintransitivaamiganuncaausente com sua solidão própria, se junta a mim, com minha solidão própria. Éramos quatro ... e fomos para a vida solteirar e ver que solteirando estamos inteiros, apesar de solteiros.
Terra, o caminho era de terra .... e o som, de cafuçu. Tudo bem, estávamos os quatro cafuçando a vida mesmo ... cafuçamos solteiros e inteiros .... ninguém conseguiu quietar ou apagar o facho ... cafuçar é ter quase a certeza de que o facho não se apaga .... e a cerveja era sol ... e queríamos lua ao luar, nuas ao luar ... na verdade cafuçar foi quase uma imposição ... fomos no impulso, mas apenas nós quatro tivemos pulso para cafuçar como proposto.
Ficamos ... o dia queria clarear ... e a gente queria que aquela noite fosse o nosso dia. Não foi... mas o dia foi de nós quatro ... de falar da gente ... de gentar ... gentamos os dois (ou melhor, os quatro) e ficamos com a impressão de que tudo estava bem. Separamo-nos. Foram dois pra lá, dois pra cá .... solteirar.
A solidão garlhalou, quase zombou de mim ... ms ela é companheira, brinca de brincar comigo, nos entendemos.
Enrolei-me em seus braços ... sorrimos .... ambos, solidão e eu. Queríamos um terceiro elemento, um facho de luz ... com o qual pudéssemos solteirar. Falei: solidão, vou só ... deixei-a ... e solteirei por um segundo .... ( e olha que estou falando de um segundo mesmo!)
Separei-me da pressa e voltei meus olhos para o certo que é incerto, que faz certo dentro da incerteza da vida ... fui ...
Marcamos no mesmo lugar. Fizemos as mesmas coisas, duplamente.
Saciados, os três: solidão, eu e a incerteza certa, voltamos cada qual para sua vida .... uma vida de cada e de qual ... todos os quais e cadas na vida solteira, vida de solteirices.
Sempre que penso no
Ontem, lembro-me da
Lamúria que é ficar a pensar
Tanto nas coisas
Eternas por um segundo, por um minuto, mas eternas
Internamente e sobre as quais
Raramente se pensa em
Acompanhar para todo o sempre,
Raramente se quer para todo o sempre como companhia.
... não importa. O eterno deve ser eterno, deve ser éter na mente para o sempre de um segundo. Deve ser tudo no nada da vida .. e tem-se de reconhecer que a ida é imprescindível para o movimento cíclico da vida ...
é ... a vida ecoa ... e seu eco retorna apenas a ida, porque o vê, sim a letra vê, se perde no vê do vento – seu irmão gêmeo, ambos fricativos sonoros univitelinos, que se irmanam na distância entre o som que emito e o retorno que tenho, no eco.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

E agora, o que sinto?

Natal, 23/09/2008.

Sinto a realidade, que é sempre mais ou menos do que queremos, mas ainda assim a queremos, real. É isso. Sinto o real, o palpável, o certo ... e o incerto e a incerteza, assim, femininamente indecifrável porque real, leal. Leal às observações da pele, às emoções que emanam de um nãoseioquê de coisas incognoscíveis por si mesmas. Coisas que passam pela cabeça, coisas que coisam as coisas das coisas da gente. Que coisa!
Na idade adulta, quando descobrimos que amamo-nos muito quando meninos e seguimos outras afeições e conservamos no escaninho da alma a recordação de nosso amor antigo e inútil, as coisas são apenas coisas. E as sentimos sem querer entender muito bem o que são, porque indeterminadas pelas sensações que causam, pelas sensações que arrefecem-nas com a brisa e nos deixam sentindo-nos como que invadidos de nós, de nossa realidade e de nossos sonhos infantis esgarçados pelos anos que passamos na vida útil de uma existência inútil.
Apenas estamos ... como se o estar fosse a consolidação de uma eternidade de um dia, o que já basta. Bastaria um minuto, apenas um minuto marcaria ardilosamente retilineamente cada estado loucamente ontológico de um ser adulto que experimentasse esse estar. E estou estando esse estar.
Um estar de definições indefinidas, de desejos escondidos em gestos de carinho e carinhos que gestam desejos ... é isso ... tenho desejos gestantes... fetos de um príncipe-rei ou girinos de um sapo, não sei. Mas gesto-os .... alimento-me dos momentos infinitamente finitos para alimentar não o eu, mas o feto-desejo. E espero, enquanto vejo a solidão acenar, que o feto-girino cresça ... e se transforme para mim. Simples assim.
Que sinto, então? Agora apenas sei.
Amanhã, talvez, sentirei no ventre os chutes do feto-girino crescido,
Depois de amanhã, talvez, ouvirei os gritos de um bebê-anuro,
Depois de depois de amanhã, talvez, seja tempo demais para se discutir agora.
E agora? Sei não ... mas sei que não sei. E isso basta.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Braços sonoros, imagens acústicas e restos de mim.

Natal, 22/09/2008.

O conforto veio em forma de palavras escritas na tela de um celular quebrado. Não importa, quebrado foi o ciclo que se instalara nos interstícios de um eu casado com a solidão. Bastou. Chegou aos olhos, estendeu-se aos lábios e soprou com brisa de mar calmo a alma do eu que parece dar início à separação consensual da solidão. A solidão, então, não fica triste. Recolhe-se ... voltará, por certo, depois ... depois de tudo o que está por vir. Ela, amiga de sempre, entende que seu tempo está acabando .. e não sofre. A solidão não sofre, apenas não deixa sofrer ... tem função utilitária.
Bastou para a manhã um bom dia com beijo, escritos, ambos, beijo e bom dia, em letras celulares. Para a tarde, um boa tarde com beijos, igualmente celulares. Para dar início à noite, letras celulares não seriam suficientes. Palavras, ditas, celularmente deram o tom de uma noite de sorrisos pela metade ... as imagens sonoras não foram, exatamente, imagens de conforto ... desconfortaram, mas deixaram para o amanhã o conforto de ontem, num encontro de pele marcado celularmente. Apagaram-se às 22h30 ... palavras celulares de saudade e lembranças de beijos e cheiros reais deram o tom do conforto ontem sentido na pele, hoje sentidos no celular que confirmam o amanhã de sentir na pele.
Instala-se, na libra, a dualidade geminiana ... no trabalho, brigas, nas brigas, trabalho ... no íntimo, eu singular, eu plural, eu de sis, eu de outros ... outros eus, mas são para amanhã ... eus e outros, amanhãévinteetrês ... são oito dias para o fim do mês ... (na verdade sete, setembro ... mas como o amanhã ainda não é hoje, conta-se-o, portanto, oito mesmo).
Hoje, então sou o eu, apenas. O eu que quer uma amiga justamente uma linda intransitiva amiga nunca ausente ... pelo celular, nos vemos acusticamente, no bar, pessoalmente.
Falamos de trabalho: caralho! Falamos de outras coisas ... caralhos? Também! Mas pouco, porque tínhamos eus para nos preocupar e os falos foram postos de lado ... mas não lado a lado .... de lado, mesmo.
Observo e vejo um olhar perdido. Uma vista que se perde na escuridão de uma indecisão sobre o que é este chega, um momento ... ela tenta tergiversar. Insisto. Quero saber de você ... to aqui, em mim ... ... ... tergiversando ... ... tergiversando ... Reinsisto. Sou incisivo (ou seria invasivo?)
Bem, não quero mais me preocupar com coisas banais, quero sentir a proteção que tenho por direito e ponto. Estou assim. Tiro o foco de meus objetivos para ter foco em mim.
Digoótimo.
Falamos sobre o divã ... isso e aquilo, o momento de se respeitar e deixar os eus em nós nos guiar pelos eusdenósmesmos, assim, juntinho para dar a impressão de que todo o arquipélago que somos é uma ilha ... sonífera ilha, que descansa os olhos, sossega a boca e enche de luz os eusdenósmesmos. Justamenteumalindaintransitivaamiganuncaausente tinha olheiras em torno dos olhos que passaram a ver um mundo antes sentido e agora admitido. Olheiras oriundas de mergulhos em si, mergulhos em outros sis e mergulhos em nada. Mergulhos que se valorizaram apenas por serem mergulhos em mim, no outro e trouxeram a descoberta de que se basta a si. Agora o seu complemento não é complemento, é adjunto adnominal, adverbial, adcorporal, adalmal, adpeleal, adqualquerporra, adporranenhuma, mas ad e junto. Virou intransitiva. Amei!
E amei porque ela está descobrindo que amar é também um verbo intransitivo. Ama-se porque se ama. Ponto. O amado não é complemento, é adjunto. Sorri. (a língua é uma coisa legal, quero ver você descobrir aqui quem é que sorri ... você num acha o sujeito porque tem dois sujeitos aqui na brincadeira, e eu não vou dizer qual dos dois sorri – talvez eu tenha querido dizer que sorriram ambos, e tenha unido no sorri a dúvida para você se matar para descobrir – fiz de propósito)
E o resto? O resto, como os outros, são os restos e só ... porque já conhecemos muitas gentes, gostamos de algumas gentes, mas depois de alguns vocês, os outros são os outros e só... e outros vocês chegarão para provar que os outros que estão no passado serão sempre os outros, o presente é presente, o passado, passado e, enquanto o presente não se torna passado, as gentes do presente relegam à sombra as outras gentes ... até que outras gentes apareçam ... e tornem as gentes de hoje, ontem. E todas as gentes podem, sim, ser amadas e tudo pode acontecer ...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Nos braços de mim mesmo ...

Natal, 22/09/2008.

Nadei, nadei ... e mergulhei em mim. Em mim personificado no outro, no outro que me dava geminianamente o prazer de estar comigo me sentir eu, como uma ilha cercada de mim por todos os lados.
Lados que sempre vi e sempre senti, mas estavam tão inseridos em mim que não os podia enxergar ou sentir ... senti ... e senti ... senti o prazer de me ver a mi mesmo no outro, e o outro em mim ... sem perguntar os porquês de estar em si, ambos em si ... um si plural, e único, e plural ... uns sis de reticências.
E para que servem as reticências nos sis? Para que o tempo possa invadir os meandros de cada si e tornar o si sis no tempo. No tempo que bate à porta e diz cheguei ... e entra sem pedir licença, porque não precisa.
Não precisa porque vai entrar e vai fazer da ilha um continente, um continente cheio de novidades, de progresso, de dor, de sofrimento e não vai se desculpar.
Mas será que o que
Antes se pensava não era apenas
Ranço do passado que,
Como dizem, está à
Espreita de uma
Loucura, de uma janela para quebrar,
Ou de uma porta entreaberta para invadir? E invadir sem pedir nada, sem falar nada, sem questionar nada... simplesmente uma porta ou uma janela para a alma de um ser que, ilhado, se sente irado e faz amizade com a solidão que também não pede nada ... e não dá nada ... e nada, nada com o tempo que entra e levanta as saias do pudor ... entra .. vento, brisa ... e deixa o ser, ilhado, na frisa ... esperando pela brisa que sopre, de novo, a saia para seu lugar e deixe a ilha se ilhar em si, cercada de sis ...
Naqueles braços os sis se tornaram uma ilha de certezas, de incertezas momentâneas de um prazer de camarões. Sim, de camarões ... de camarões que são saboreados sem as cabeças, sem as peles, sem as entranhas .. camarões que nadam, nadam e são surpreendidos, um dia vinteedoisqualquerdesetembro por uma rede de pescadores gêmeos univitelinos ... iguais na superfície e desiguais na litosfera, que reveste o manto e o protege.
E o manto? Bem ... o manto não é de virgemmaria, nem de madalena ... é simplesmente um manto .... um manto que recobre de vulgaridade, de perversão, a pureza de uma alma de esperança na junção ilha-mar. É isso ... junção ... interjeição .... interrogação ... interrelação ... inter ....
É assim ... nos braços de mim mesmo me torno ilha continental, arquipélago de eus que me invadem e me fazem sentir único. Contradição.
Contradição de nãoquererquerer, de querernãoquerer ... e querer assim mesmo ... e se desilhar ... desilhar de eus e seus e teus e ateus e proteus .... não sou mais o primeiro, o proteus, nem é o primeiro gêmeos que surge ... é outro ... e o outro que, como uma ponte, tira a ilha de sua ilhação.... e a conecta com o continente que é ela mesma ...
A ilha se conecta ... e se sente feliz, e sente a brisa, e olha o retrovisor e vê que a história pode se repetir ... e não está nem aí com isso ... desilha-se para se conectar aos vários eus de si, reintegra-se ... nos braços de si mesma.
É, chega, um momento ....
Pare de sentir-se culpado de sentir-se bem ... pare de sentir-se bem de sentir-se culpado ... esqueça .... viva a ilha em si conectada ao universo a sua volta. Retorne, entorne, esborne ...
E sinta-se você, como já sentiu ... e gostou.
Goste de ser gêmeo do outro ... gêmee-se nos gemidos da alma ... acalente-se de si ... e veja que a vida lhe proporciona muitas libras ... libras de alegria, libras moedas de troca de si. Ponha na balança ... e perceba que os pratos estão regulares ... sorria para si ... sinta a brisa que, de tão forte, retorce o retrovisor que mostra não mais a estrada lá atrás, não mais uma sombra na beira do caminho, mas um rosto que sorri .... um olho que brilha ... e uma vida que abre as portas, quebra as janelas, espatifa os vidros da vidraça e diz “mostre os dentes guardados por esses lábios recobertos de neve ... antes que eles apodreçam” ...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Não quero falar disso.

Natal, 16/09/2008.

Vazio. Não, não quero falar disso. Quero é falar do cheio, da vida e da alegria de estar vivo ao lado da vida que passa. Sim, ao lado. À margem. À margem de uma alegria buscada, encontrada e querida por muitos ... tida por poucos .... e sentida por quase ninguém. Sentir a vida. Seria isso possível?
Ao lado da vida, ou no seu curso, há a despedida, a pedida, a medida, a ferida, a ida ... ida. Sim, ida.
Tudo é não ser, tudo é não estar, é não querer, não sentir e sentir. Sentir que tudo o que se quer se pode ter ... e perder.
Perder para a vida, a vencedora dos jogos mortais que vivemos nela, que incutimos nela, que sentimos nela e nela perdemos. Perdemos os amores, as dores, as cores ... até os cabelos perdem as suas cores para dar lugar ao branco, ao vazio. Vazio que reluz na claridade da não-cor. Sim, branco é não cor. É espaço límpido para se poder fazer o que se quer ... e querer o que fazer.
Faço, então, um traçado de branco sobre os poucos negros que restaram na vida que escolhi. Na vida que vivi e vivo, e viverei o branco, o franco, o tranco ... e sobrevivo.
Sobrevivo aos quereres que quis e aos que não quis, ou quis sem o saber.
Sim, há quereres que não sabemos que queremos, apenas os queremos e temos, sem querer tê-los ... e só sabemos disso quando os seus tentáculos, os tentáculos dos quereres que não queríamos, nos tomam pela mão ... e nos arrastam para a beira do abismo. Chegamos a sua beira, puxados pelos tentáculos, e olhamos, soltamo-nos nos tentáculos dos quereres não queridos e dizemos: chega, um momento.
E observamos ... olhamos a paisagem e voltamos nossas cabeças para trás ... vemo-nos como a um amigo que deixamos para trás, no caminho da vida, no percurso da vida, no curso da vida ... e sentimos que o pulso ainda pulsa.
Expulsamos os tentáculos.
Voltamos para a estrada, olhamos para trás, deixamos o abismo lá atrás. Esquecemo-nos dele. Voltamo-nos para nós mesmos e sentimos a brisa nos dizer que chega de chega, um momento.
O momento chegou, aproveitamos. Chega!
Vamos brincar de ser ilha, e ter conosco a certeza de que há mar à volta, para nadar. Nadar na sua acepção mais corriqueira, dar com os braços na água e brincar de ser peixe ... e nadar ... de clássico, costas, livre e borboleta. Borboleamos no mar .. e o sal da água é o tempero de nossa alegria ... e nos tornamos um churrasco gaúcho.
Deixamos nossa cara vermelha de sangue dar lugar ao bronzeado alcançado pela brisa exalada pelas brasas da churrasqueira e somos desejados como espetos na Vento Aragano. E somos brasas avermelhadas que assam as carnes e as carnes que são assadas. Ubíquos, somos ... ubíquos de nós, em nós. Não mais ilha, arquipélago.
Arquipélago de muitos nós, de vários eus que se consubstanciam em um, e um que se divide em vários para suportar cada um dos nós, nas brigas que temos com os nós que carregamos na vida em curso.
E seu curso, que será? Não sei. Ou sei e não quero saber que sei? Provavelmente...
Tudo é provavelmente ... e tudo é o que queremos pensar que queremos ... e a vida nos quer, vivos.
Vivos estamos.
E olhamos à volta e percebemos que o vazio não existe. O vazio é preenchido com o ar ... e o ar nos traz vento aos pulmões, ventos araganos, que podem ser sentidos e desejados, que têm a força de manter nossas forças. Então, onde anda o vazio? Foi ver o mar e se tornou ar, e o mar o assoprou para torná-lo brisa.
A brisa que sinto na minha cara, levanta meus cabelos e mostra-me, na sombra que faço no solo arenoso, que estou em movimento. Chega um momento em que estamos em movimento.
E este momento é agora.

sábado, 13 de setembro de 2008

Chega, um momento.

Natal, 13 de setembro de 2008.

Conversamos, conversamos ... concluímos que chega, um momento ...
É um momento para sentir o nós e o sós e tirar os nós, os nós que ataram o nós. Vivemos uma vida inteira à procura de conceber um nós que fosse realmente nós. Lutamos por juntar a nós outros, outros e outros e outros ... perdemos a noção do sós, porque pretendíamos nós.
Agora estamos sós ... felizes sós ... e tentando entender porque estamos felizes, porque não estamos desesperados por um nós, por uma metade que de ideal só tem a ideologia inserida em nós.
Queremos mais não. Paramos. Agora estamos parados, estacionados à sombra que havia no meio do caminho, esperando .... olhamos pelo pára-brisa e vemos um universo à frente, olhamos no retrovisor e vemos um mundo pequeno lá atrás, um mundo de buscas, de bocados, de emboscadas. Emboscadas que buscamos e encontramos aos bocados ... e deixamos para trás, na esperança de um dia termos esperança.
Deixamos porque a concepção de nós esvaiu-se na junção de dois diferentes que tentavam insistentemente ser iguais ...
Encontramos alguns iguais ... naturais ... artificiais ... e iguais, ainda assim. Não quisemos, estivemos um momento aqui, outro ali, sentido-nos iguais ... e a igualdade cansa. Entristece. ... olhar para a cama ao lado e ver o outro como se vê um espelho é frustrante. Queremos não.
Juntos queremos apenas viver
Uma vida que tenta
Levar a alegria
Impar ao
Âmago de
Nós e
Amamos, amamos, e amamos ... o imperfeito.
E o imperfeito aqui é o imperfeito do indicativo, que
Sabemos estar
Insolentemente nos fazendo
Lembrar que o futuro
Vai virar passado em breve,
Indiscutivelmente, e
Outro futuro estará á espreita.
... agora será esperar que este futuro chegue e que possamos nos deliciar do seu presente, do indicativo ... e o subjuntivo vai ser tão subjetivo que não perceberemos, veremos tudo com a clareza de um dia de sol em que os raios ultravioletas são violetas na janela de nossos olhos, e embelezam a visão que temos de nós mesmos .... complicaremos as coisas para sentirmo-nos vivos e viveremos as complicações para sentirmo-nos descomplicados .... e não estaremos mais estacionados ... parados .... porque estar aqui, estacionado na sombra que havia no meio do caminho nos faz querer por o pé nó acelerador, engatar, resgatar, engatinhar ... levantar, trotar, correr, voar ... e ir sentar contigo à beira do rio, sossegadamente ...
(enlaçaremos as mãos)
Olharemos o horizonte sem a película protetora do pára-brisas, e vestiremos o vento que nos revestirá nossas caras e invadirá as nossas almas .... deleitaremo-nos de nós conosco, num enrosco ... e nossa natureza jamais verá um horizonte fosco.
Não teremos tirado de nós mesmos a nossa natureza, não nos arrependeremos do que fomos outrora porque ainda o seremos ...
E teremos conosco a vida de brisa, junto do mar, onde o ar é mais puro e a brisa sopra esperança, a maresia será nossa alegria, nossa fantasia. A arrebentação lembrará aos ouvidos a calmaria do rio ....
(desenlaçaremos as mãos)
E acordaremos todos os dias com alegria e pena ... e nos lembraremos que antigamente acordávamos sem sensação nenhuma, acordávamos simplesmente.
Saberemos também que a alegria e pena que sentiremos dever-se-ão à consciência de que perderemos o que sonhamos ... e sonharemos com o que perdemos ... e isso não nos entristecerá,
Não, não nos entristecerá ... nos trará a sensação de que saberemos o que fazer conosco sozinhos e teremos nós mesmos como motivo para acordarmos de novo ... e diremos a nós mesmos: - Chega, um momento.

sábado, 6 de setembro de 2008

Mamma mia .... here I go again ...

Natal, 06/09/2008.

Não disse que a solidão me acompanharia para todo o sempre? Pois é .... de novo. É final de semana, é dia de bundar, dia de nadar ... nadei o dia inteiro e, agora, Mamma mia ...
Tem dias em que a solidão fica um pouco chata, sabe. Ela fica muito calada e não quer prosa de jeito nenhum. Pego o celular: Oi .. ce vai aqui ou acolá? Não, tenho não sei o que para fazer. Oi, o que você vai fazer hoje? Ah, vou encontrar uns amigos (e nada de falar vem você também ...)
Então, estou eu, de novo, Here I go again, Mamma mia ... que será que deve-se fazer para romper com o ciclo eu – solidão? (E será que se quer mesmo romper este círculo? Não!)
Talvez este momento de querer nãosolidão seja apenas um momento, passageiro que com o vento se vai ....
E irá ... impávido como Mohamed Alli ... e haverá flores no caminho e cestinha de docinhos para levar para a vovó e muitos lobos bons no caminho, que não vai ter nenhuma pedra .... ninguém merece pedras no meio do caminho ....
Já está quase na hora de dizer que a solidão está a fim de um teteatete, acho que ela está ali, se manifestando: ei, Carteiro, vem pra cá um pouquinho ... e eu vou ....
Vou ter com ela, enlacemos as mãos ...
E sairemos à noite, veremos gente, seremos gente, sentiremos gente e gentaremos .... gentaremos com as gentes que a gente encontrar, gentaremos ... minutos de nãosolidão e de compartilhamento, compartilhamento de solidões na multidão .... O som vai troar, o povo vai dançar, os cheiros vão se misturar e as solidões se misturarão à multidão que espera, dormindo espera ... com uma grinalda de era ...
Multidões são sempre um saco. Tentam dizer para você que você não está só, mas dizem apenas que você está só revolto de gente (nossa, revolto é coisa mais viada que já vi) ... mas é assim mesmo, revolto de gente que não quer gentar, que não quer brincar de ser feliz ou que está pensando que está brincando de ser feliz e não é ...
Não, não é .... não é ...
A vida aqui, nesta Natal, é muito boa. A gente fica à beira da praia, à beira do mar, à beira da vida, à beira da anguústia, à beira a alegria .... e a alegria e o mar estão à nossa volta e dão alento, dizem “Oi, ce ta bem?” A gente diz “sim, tâmu bem ...” e continuamos .... continuamos a escutar esse sotaque lindo, esses porquês (eu adoro o jeito que o povo fala pooorque aqui. É assim: pratique comigo, fale ovo. Agora preste bem atenção no primeiro “o”. substitua o seu u do purque pelo o do ovo. Pronto. Ta falando porque natalense: um orgasmo a cada porque ... Adoro!)
E sabe pOrque adoro? Sei não ... adoro porque adoro escutar, prestar atenção nas nuances dos outros, nos outros das nuances e nas vibrações que esses sons me dão .... é os sons me dão vibração .... e adoro a solidão também ....
É muito melhor do que solidão compartilhada ... sabe, daquelas que você tem alguém contigo e se sente sozinho a cada momento pós coito? É horrível ....
Então, vamu solidar ... e brincar de ver o mar, e ver o ar .. e brindar à vida ....
Vem comigo! Por quê? Porque a gente pode ser solidão juntos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

É daqui? Não!

Natal, 05 de setembro de 2008.

Cansei, sabe ... Vim para cá porque quero você, daqui. Se não é daqui, se não mora aqui, se não vive aqui .. quero não!
Por quê? Porque to cansado de viver o distante. Sabe, distância enche o saco e não dá em nada.
Gosto do flerte, gosto do frege, gosto do do do do, gosto. Ponto. Mas se é para ficar nisso .. queronão ...
Entenda. Tenho minha amiga inseparável solidão. O Augusto (o dos Anjos) errou. Eu não vou errar ... Não quero ingratidão, não quero estar sem estar .... ficar por ficar (bem ... se for legal, posso até pensar ... e se você me achar legal, podemos noisar, pensar juntos ...) mas quero distância de ti não.
Vê ... a gente se olha, sorri, você me persegue, vai pro cantinho e me diz seu nome: Bel.
Simples assim ....
Pergunto: mas esse é um apelido. Responde. Mas é assim que todo mundo me conhece ..
Bem, Bel .. então tá ... basta ...
Você é daqui?
Não. Sou do Pernambuco.
Pronto. Brochei ... E olha que eu não queria fuder contigo .. queria noisá ....
Levanto .. me vou ... encontrar a solidão .... e um teclado que vibra com as dedilhadas que lhe dou. Não penso mais em você. Se foi. Você não é daqui. Pronto. É simples assim ...
Já pensou? Ei ... você vem para cá neste final de semana? Não posso ... tenho de trabalhar ... Não posso .. to cansado ... Não isso e não aquilo. Chega!
Se você não é daqui, este é o resultado.
Então, me pergunto: para quê? E já me respondo: Para nada!
Então, por que querer nadar se o que penso é em noisar? Não, não e não .. me levanto e vou embora ...
Tem uma solidão linda me esperando ... uma companheira que me diz nada não, que me enche o saco não, que me castra não, e que não me faz nadar (ei, não vai confundir com entrar na água e se movimentar ... to falando de outro nadar ... espero que você não me encha o saco com a duplicidade de entendimentos que este novo verbo pode suscitar .. eita! Suscitar é chique!) ...
Minha solidão, amiga, companheira, não me quer nadando, quer-me noisando com ela ... e se a trocar por você, de longe, vou ficar nadando ... nadando em lágrimas, nadando em solidão, nadando em dor, nadando em lembrança, nadando, nadando e .. morrendo na praia ....
Então Tchau.
Beijo procê .... vou me encontrar comigo e com a solidão .. e vamos noisar ...
Sem se acostumar com a lama que nos espera ....
Esperando alguém que olhe, sorria, flerte, e diga.
Sou daqui .. vamu noisá?
Eita ... gostei dessa idéia... Noisá com alguém, num ménage: solidão, eu, o outro .... (e o Lacan se matando para descobrir onde está o significado de tudo isso ...)
Pura catarse ... OU catar-se?
Sei lá ... Pergunte pro Paes .... ele é quem inventou essa de comparar o tio Aristóteles com o tio Freud ...
Eu vou é me acabar, no trio. No trio eu, você e a solidão ... minha companheira inseparável ...
E nem vou escarrar nessa boca que me beija ... vou é viver ... e se morrer, vou voltar para buscar os instantes que não vivi junto do mar ....
E da solidão ... e de você ... e de mim ....
Querosim .... e tu, quesim também? Cê qué, venha!
Se fô daqui ....

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Vi seu perfil. Tá a fim de teclar?

Natal, 27/08/2008.

Sim, você viu meu perfil. E daí? Quer teclar? Compre um teclado e fica lá, que nem doido, batendo os dedos nele ... ele vai até gostar .... faz isso. Faz amor com o teclado, namora o teclado, beija o teclado, abraça o teclado e dorme. Você vai poder até roncar que o teclado nem vai ligar ... vai ficar inerte, esperando seus dedos o procurarem para mais umas batidinhas ... Não .... não estou a fim de teclar. Definitivamente, não!
Se eu quisesse teclar, não poria meu nome no site para você ficar que nem idiota me perguntando se eu quero teclar. Bah! Teclar ... já estou teclando, não tá vendo?
Ninguém que coloca um anúncio numa porra de site quer teclar .... quem põe um anuncio quer outra coisa, porque teclar ele já tecla quando coloca o nome no site ... doido ... Percebe, então o que eu quero? Quero você ... é .. você.
Quero que o teclado seja legado ao pano de fundo da vida .. deixe de ter a importância de me satisfazer com os dedos ... é .. os dedos ficam satisfeitos quando tocam o teclado ... dedilham .. mexem .... aparecem coisinhas na tela ...
Quero outras dedilhadas, outras coisinhas aparecendo. Por isso estou lá, esperando você fazer essa pergunta cretina.
Ta bom, ta bom, ta bom .... entendo que você está metaforicamente querendo saber de mim .... mas por qu~e cargas d´água não pergunta de mim .... pergunte assim;
Ei, gostei do seu perfil e quero te conhecer melhor, ta a fim? Pronto. Esqueceu do teclado, ta vendo? É fácil....
E você, tá a fim de teclar? Eu sei que não ... você tem seu teclado para teclar, você tem sua telinha para saber que eu estou lá querendo alguém que queira que eu a queira .... e que me queira ... é uma querência só .... Eu quero, tu queres ele/a quer ...
Quero é o nós queremos .... vê num tô a fim de eu teclar e de você teclar ...
To a fim de noisá .. é noisá ... (é assim, noisá é fazer de um um nós, entende? Nós ... mas para escrever nosá ia ficá horrível, preferi o noisá ... peguei do nóis ... eu, tu, ele, nóis .. viu?)
Então vou responder sua pergunta com uma assertiva. Vai ficar assim nosso diálogo:
- Ei, ta a fim de teclar?
- To a fim de noisár. (viu, com ponto final, seco)
- O quê? [nesse momento fico puto – vê usei o colchete que é chique, parece coisa de peça de teatro .... acho que to meio Brecht ... tem um amigo meu que, se ler isso, me bater na cara até eu sangrar !!!!! – Ei Junior, ce ta legal?)
- Bem, noisá [daí eu explico que porra é essa de noisá pra múmia que não entende – imediatamente me desinteresso]
- Ah. [esse “ah” é lido como um reforço da ignorância da múmia .... acabou, mesmo, o tesão .... mas daí, vô lá vê as fotos do perfil da múmia. Volta o tesão – se é que você me entende ....]
- Na verdade, to, sim a fim de teclar. Tudo bem contigo? Tc de onde? [Esse é o início do papo filosófico a respeito da geografia da Internet, que deixa tudo próximo - dos dedos ... mas é a vida .... as fotos .... huuummmmm....]
- Me passa seu msn. [imediatamente me lembro dos tururum, tururum, tururum .... quase vomito .... mas as fotos ....]
- Meu msn é gatolindodornarrobarrotimeiupontocom (todo mundo se acha lindo no nome do emeiu ... uma criatividade insana ...)
- blá blá blá ...
tururum tururum tururum
E tecla daqui, tecla de lá ... mais tecladas, dedinhos beijando o keyboard, isso, aquilo ....
... O ENCONTRO .....
- Oi .. ce é diferente na foto ... [imediatamente odeio o photoshop – faço cara de inteligente, culto, e que está interessadíssimo nas drogas que vou ouvir ...]
- ble ble ble .. bli bli bli .. blo blo blo [penso: será que essa múmia sabia que já inventaram analista? – faço cara de não sei o quê]
- Tenho de ir. [O uso da preposição de depois do verbo ter dá um ar de chique no úrrtimu!]
Definitivamente, to a fim de noisar ... ms será que dá para noisar com quem só sabe teclar? Aliás, nem sabe teclar ... a gente fala que sabe só para não dar na cara que vê uma porrada de erros que não são de teclagem ...
É, tem erro de teclagem, da pressa, do teclado sem fio, de um monte de coisas, mas tem uns que não tem concerto ... imagine .... um erro e, para arrumar, uma banda, cantando Vivaldi ... tem concerto certo não ...
Então, viu meu perfil? Ele tem photoshop não .. tem eu, a fim de noisá ... e o seu?

sábado, 16 de agosto de 2008

Se separaram ... e foram felizes para sempre.

Natal, 16/08/2008.

Quando você me deixou, meu bem, não me disse para ser feliz ou passar bem ... não me disse para ser infeliz .... apenas se separou. Foi. Eu fiquei .... você não quis que eu saísse. Preferiu sair ... decisões ... Agora, olho nos olhos e não quero ver o que você diz ao sentir que sem você estou tão feliz .... me pego cantando, sem mais nem porquê... ah ... tantas lágrimas rolaram ...
Foi ... fomos ... a vida nos quis assim ...
E assim estou, aqui. Parado ... tarado ... estou. Sou. Assim, desse jeito.
Não quero mais saber se estou com, se estou para, se estou em .... estou .. e vou estando como se estar fosse a eternidade. Estando, no gerúndio, para dar a idéia de que é longo, longitudinal, transversal, intravenoso ... é intravenosar .. é esse o verbo que conjugo.
Intraveno-me e me intrasinto .. intrasentir ....
É sempre um estar interno, intra, dentro, profundo, uterino .... comigo (e com a minha inseparável amiga solidão, que me acompanha, e que me faz companhia ...
Descobri, muitos reais depois, que estou fazendo o que me propus: vivendo. Nada de pensar que o amanhã pertence a uma entidade divina, a um ser cujo dom da ubiqüidade é intrínseco, não ... estou intravenosando me hoje e amanhã ... estravenosarei-me sempre e sempre estarei a minha disposição.
Vivo porque não quero a morte, quero a sorte, o corte, o porte, o norte... e sou eu meu norte. Eu, ponto cardeal de mim mesmo ... e quero ser este ponto cardeal, quero-me intravenosando-me eternamente, continuamente, sensivelmente.
Trabalhei, cansei-me ... dormi ... acordei de sobressalto ... me vi abraçado à solidão ... confortante ... a casa estava vazia de outros, mas cheia de nós. Solidão e eu preenchíamos cada centímetro quadrado desta construção ... e estávamos felizes conosco.
Paz ...
Jaz ..
Aqui ...
Namorei comigo, a solidão assistiu... não fez barulho. Ela sabia que naqueles momentos nem ela poderia me acompanhar ... eu só queria a mim ... e ela, como voyeur da minha encarnação comigo .... intravenosando-me ...
... um cigarro ... (não é vício, nem o café o é, nem um trago o é ... são companheiros meus e da solidão e do Lobão e de todos os eus que moram nesta cidade minha ...)
... uma esperança .... esperança de manter-me comigo, em mim ... intravenosando-me e sentindo o pólen de mim mesmo me molhar ... e umedecer a minha existência comigo mesmo .... nu ...

Faz tempo que a vida
Está me dizendo que os
Louros são para serem colhidos solitariamente,
Intensamente ... em silêncio,
Calado,
Inveteradamente calado ..
Dentro de si mesmo ...
Antes, durante, depois e
Depois de depois,
Eternamente ....

E custei a perceber isso ... custei a me dar conta de que as contas são minhas, que a vida é minha, que a existência é minha ... que eu estou comigo ... nasci comigo e comigo morrerei feliz ... infeliz ... mas comigo ... em mim.
Quero abrir a cortina e ver nos raios do sol os eus que me compõem, os eus que me desconfiguram e reconfiguram-me comigo ...
Quero-me. Não escrevo mais para o inexistente, escrevo para o inexistente que existe em mim e, portanto, não inexiste, existe, insiste .... riste ... e não mais triste .. assim, um eu que é tudo, e que é nada, mas é tudo ... no nada que é ...
Quero abrir as portas, sentir o ar, ver o mar, pestanejar, atentar e me alegrar ... alegrar a alegria intravenosando-me, intrasentindo-me ...
E quero dizer, aqui, para mim (e para você que perde seu tempo dando-me seus olhos na tela) que estou aqui, comigo, e te espero, comigo mesmo ... me faço companhia, venha, seremos três: eu, você e a solidão ... mas não tenha pressa ...
Venha quanto estiverem todos prontos: você, eu ... e a solidão. Daí entravenosaremo-nos de nós ... sós conosco.

sábado, 9 de agosto de 2008

A você, que não existe ...

Natal, 09 de agosto de 2008.

Esta é para você, que tanto procurei e que jamais encontrei ... jamais encontrei porque não te inventaram ainda, não te criaram ainda, não te pensaram ainda ... nem mesmo eu, que te procuro, te pensei. É, entenda você, inexistência, que ainda não existe um você consolidado ... cê tá lá, nas entranhas de qualquer testículo (será que testículo tem entranha? Sei não, mas é metafórico isso ...), ou melhor ... cê ta se inventando ainda ... portanto, se pensa que existe, não existe.
Inexiste para mim, inexiste para esse cara aqui que ta pensando em ti sem saber quem é esse “ti” .. talvez porque não queira, eu, um ti, queira, sim um espelho .... um espelho que acompanhe como acompanha a solidão ... um espelho que busque o que se busca quando se busca ... entende?
É isso, você ainda é a busca!
E uma busca que dura muito tempo e muito quer dizer muito, e pode ser pouco, depende do ponto de vista. Agora é muito tempo .. pode ser horas, dias meses, anos .... a gora é meses ....
Busco-te há meses. Viu? Ficou fique .... Há meses ... e meses podem se transformar em anos, anos em décadas .... mas tem sempre a busca ....
Encontrei outra companhia para minha vida: a busca ... não a busca incessante, ávida ... mas a busca calma .... aquele que se assemelha à espera. Simples assim .. tô na espera .. na espera de que ao inexistente exista, que o inexistente se sinta importante a ponto de se dar ao trabalho de falar “Oi, sou o inexistente” e passar a existir.
É complicado de explicar o que exatamente estou falando aqui ... eu estou, eu mesmo, em mim (viu, o pleonasmo nem sempre é pleonástico .. pode ser enfatizador. É assim que estou utilizando aqui ..) buscando compreender o inexistente que está à espreita .... espreitante .... é .. o espreitante é o que estou à busca ... espreitante inexistente. E busco ... ou melhor, espero ....
Engraçado .. espero lembra esperança ... e esperança é tão forte, tão tão tão que se basta por si .. mas a espera pe algo fraquinho. Assim: vô fazê nada não, vô esperar ....
Mas não estou à espera com ânsia .... nem com ânsia de desejo, de antecipação, nem com ânsia de vômito ....
To aqui, quieto, calmo ... esperando ...
Nem adianta pensar naquela bobagem de quem espera sempre alcança (coisa besta, essa, parece coisa de revista capricho!), quem espera não alcança nada, espera ... se fosse para alcançar, estava alcançando ... Ei, que ce ta fazendo aí fazendo nada? To alcançando ...
Num to alcançando o inexistente espreitante, não .... estou aqui, eu, simples ...
Claro que
Outras coisas
Me fazem ficar
Interessado em ser
Guiado por
Ovnis ....
Mas OVNIS também não existem.... nem são identificados .. e são voadores ... são um nada no meio do nada que é tudo, no meio desta imensidão de solidão amiga e de busca incessante parada ....
To assim ... parado ... e tô cum vontade de não mudar isso ...
Que delícia ... a calma tem dessas coisas, te deixa feliz, consigo. Não é? Se você não conhece esse sentimento, preocupe-se não ... espere, parado .... vai chegar a sua vez ...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Nada de greve ...

Natal, 7 de agosto de 2008.

Não, eu não estava de greve ... não estava de férias .... não estava de nada ... estava comigo. E com a minha inseparável solidão .. ela esteve aqui, me perturbando com seus gritos, com suas lamentações, com suas comiserações ... e eu ... aqui.
A Noiva tinha dado uma trégua, estava calma, não chorava. O Sol, então, dela se aproximava e deixava os dias mais quentes, mais gostosos de se viver ... parei de escrever, então, para curtir minha amiguíssima solidão e minha Noiva (é, posso dizer minha porque a escolhi, moro nela, né? Não precisa ficar, você natalense, com ciúmes, nesta Noiva, todos têm vez) agora, ela ta chorando .. eita ... volto para mim mesmo, então ...
Volto e fico a pensar o que será que está acontecendo aqui dentro. Sei não! Sei que não tô nada ... não tô triste, não tô alegre, não tô ... mas tô ... tô pensando em mim.... e nas coisas que quero para mim. Quero o Carteiro, só ele ... nada de ficar loucamente procurando outros braços para me sentir o Carteiro. Sou ele e não sei se quero dividi-lo agora com qualquer outro ser vivente ... talvez não queira ... e não tenho de querer, tenho? Não...
Visitei bocas ... gostei delas ... boas para se sentir acalentado (vê, acalentado é uma palavra assim, sem emoção .... Ei, como cê tá? Tô acalentado ... Valha!) e nada mais ... Encontrei até algumas que me fizeram pensar em ser mais do que um alento .... deu não ... eram do Ceará .... (Droga! Vê .. agora tem emoção ... porque quando a gente fala “droga!” ou “Merda!” ou “Puta que pariu!” tem emoção .. e a emoção é gradada assim, desse jeito, a primeira, pegando o tranco, a segunda mais intensa e a terceira, bem a terceira, “puta que pariu!” – rs) é isso ... eu tava pegando no tranco ...
To agora em marcha lenta .. primeira ou segunda, sabe? Ando, vejo a paisagem olho uma boca aqui, outra ali ... entro numa, sinto o clima ... viro de lado.... encontro outra .. nem entro ... outras me olham, sorriem .. ignoro .... e vou seguindo ... como se a vida fosse isso: visitar bocas ....
Depois vejo o que faço com o resto ... Ah ... tem o resto .. e o resto é ficar aqui e ali, ensinando isso para alguns aquilo para outros, aprendendo para ensinar ... ensinando para aprender ... Vida de ensinante é assim mesmo ... trampo, trampo, trampo ... em alguns momentos, grampo ... é ... tem grampo aqui e acolá ... grampo em forma de aluno, grampo em forma de chefe ....grampo ....
Mas é só esperar, pegar o grampo, por no cabelo e sair assim como Fita Verde no Cabelo ... descompromissadamente mas muito comprometido ...
Lembrei de uma musica que a Gal gravou .... ficou linda na voz dela (é, sei que ela fica gritando feito louca, ms esquece aqueles graves malditos que só ela tem e escuta) : Socorro eu num tô sentindo nada .... nem medo nem calor ... nem vontade de chorar, nem de rir .... Socorro alguma alma mesmo que penada me empreste suas penas ... Já não sinto amor, nem dor .. (eita dor de cotovelo ...)
Só que tô com dor de cotovelo não ... to simplesmente comigo .. querendo estar comigo e com as poucas amizades que fiz (ou me fizeram) nestes últimos meses ... tá legal assim ... tá bom assim ... tá interessante assim ....
Sabe aquele desespero de encontrar braços e ombros para me recostar? Então .. tem mais não ... e é tão bom ter desespero não que cê nem imagina ... fico agora feliz com o Carteiro, é, eu, o Carteiro ... e espero que os braços e ombros que vão surgindo no caminho, que as bocas que vão surgindo no caminho sejam bons, por si, para si .. e para mim como conseqüência ... inverti a ordem .. e to é feliz com isso ...
Mas to dando muita risada não ...tô na lida ... e num to de greve ... tô fazendo operação tartaruga ...
Ei ... e cê? Tá como???

sábado, 26 de julho de 2008

tudo passa

Natal, 25/07/2008.

Passa .. assim, comumente, frivolamente ... as coisas passam .. a idade passa, a vida passa ... e passa também a crença. É, a crença passa.
Quando somos crianças, acreditamos em Papai Noel, Cegonha, Felicidade, Eternidade ... bobagem, tudo bobagem ... Papai Noel ganha uns 500 reais para se fingir de velho, usar uma barba branca e iludir as crianças a iludirem seus pais que estão iludidos de que Papai Noel existe. A Cegonha .. essa é mais cruel .. já imaginou uma cegonha carregando um bebê? Coisa de doido .. Ela nem conseguiria bater as asas porque todo o seu corpo estaria ao solo com o peso da criança .... Eternidade? Essa acaba muito, muito cedo ... é eterno enquanto dure .. e dura uma eternidade de segundos ... nem chega às horas .... uma eternidade de segundos nem é um minuto porque um minuto é um minuto. Ponto. Portanto uma eternidade de segundos é 59 segundos ... depois disso vira uma eternidade de minutos ... que vira uma eternidade de horas ... Eternidade é uma palavra que só serve para se falar em demora. Assim: Puxa, você demorou uma eternidade! (E nunca isso é um elogio... quem quer eternidade? Bah!)
Ah .. mas podemos querer éter na idade ... é Éter ... para amortecer tudo o que a idade traz. É isso. Eternidade é amortecer as coisas que a idade traz. Fácil, né? (Nem tanto, eu diria)
Cheguei em casa e fiquei pensando ... por que será que a gente pensa que as coisas poderiam ser simples? Porque somos tolos. Nada é simples. Veja, se você está aprendendo a dirigir, tudo é uma complicação .. depois você aprende e pensa .. é tão simples.
Pensou bobagem. Se ponha na situação de que, à noite, dirigindo (você não pensou que era simples) vê um caminhão vindo na sua direção .. descontrolado .. vc na pista certa. Ele, na errada. Simples? Uma ova! Até você decidir que vai frear, que vai mudar de pista, que vai se safar de tudo aquilo que é eternamente evidente à sua frente: o caminhão, tá na eternidade.
Ganhou a eternidade. Ou seja ... esticou as canelas (e nem esticou, não deu tempo ... )
Agora, pense ... quando a gente se apaixona, se apaixona .. eternamente. A paixão é a coisa mais eterna que já inventaram. Você se corta, sofre, diz que ama, chora, ri, brinca, goza ... e pensa que tudo isso é eterno. Terno!
O que te leva a pensar em ternura .. é terno, ternura.. assim .. ternura eterna, eterna ternura .. ternura terna .. morna .. fria ... gelada .. congelante. Pronto. Acabou .. é só isso .. não tem mais jeito ... o gelo congela a ternura ... ternura congelada ..
E você? Nesse momento você tem de voltar para casa. Tenho um amigo, Richard, que disse que amar (ou estar apaixonado) é morar no outro .. e quando você volta para casa (você mesmo) ela está vazia ... (Claro que não vou me lembrar quem ele citou, foi algum doido que escreveu isso e que ele lembrou. Ele sabe .. quer saber quem falou, pergunte para ele, pro Ri. Para mim foi ele quem falou. Então é dele a frase. Pronto. Instituída a apropriação indébita .. não ligo .... para mim foi ele quem falou .. e se você sabe quem é que escreveu, não me diga ... não tom interessado).
E quando você volta para casa, a casa está vazia .... legal essa imagem.
Cheguei à casa. Estava vazia ... (bem, mais ou menos vazia ... a solidão estava me esperando, de braços abertos .. terna ... eterna ) e me senti terno ... calmo ... esperançoso ... Vi papai Noel ... ele estava dentro do computador ... Socorro, um papainoeltecnológico ... cruzes!
Daí veio uma cegonha que trouxe algo de bebê .. bebi ... e me senti eterno.
A vida não é eterna .. o sentimento não é eterno ... a paixão não é eterna .. o sorriso não é eterno .... Porra! Já disse que eternidade não existe.
Então vamos mudar de assunto.
To bem ... to com vontade de brincar, de dar risada, de me sentir terno ... não eterno, terno ... simplesmente bem comigo. Ei .. consegui ... To bem comigo ... To eu ...
Eu, e outros poemas .... poemas que leio na minha mente a todo momento ... poemas que tenho de consultar para me lembrar .. (esses ainda não estão eternamente na minha mente ...)
Peguei um livro que a donadospeitoscomleitedecoco me deu .. vou abrir ... que quem tem pintinhas pelo corpo me fez encontrar num dia ... queria dizer algo, não achei palavras, abri . pronto. Página 710 (vou checar .... é isso mesmo .. é):
Divino o que conheço.
De um lado é o que sou
De outro o quanto esqueço.
Por entre os dois eu vou.
Vê .. a gente esquece .. esquece de ser triste, esquece de ser chato, esquece de sofrer ... e vive .... assim estou agora, vivo .. eu vivo porque quero viver e vou viver mais e mais ...
Mas não vou esquecer que posso ser feliz ... não eternamente, mas feliz, mesmo que tenha que ser com éter na mente ... não importa ...
O que importa é que você está aí, me lendo.. sendo eterno comigo .. sendo terno comigo ...
E neste minuto, somos, ambos, unidos pela eternidade das palavras, que nem são ternas .... nem eternas ... mas duram ...
(outra hora falo dessa história de durar ....)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Somente a solidão será sua companheira inseparável

Natal, 16/07/2008.

Errou, o Augusto. Nada de ingratidão: Solidão.
Fui ver Janaína ... tava calma, ela ... Sentei. Olhei para ela .. tava brincado, a Jana. Fazia um monte de espuma se sabão salgado e jogava na areia ... arteira ... beijava a areia com a sua espuma se sabão salgado. Lindo. Calmo. Assim, simples como tem de ser.
Não tinha ninguém comigo. Não precisava. Estava eu comigo. Eu e a solidão. Brincamos. Eu e ela, a solidão, sorrimos de ver Janaina brincar ... brincamos com ela também... calada ... só brincando com a areia ... e a areia recebendo a espuma .. chupando a espuma (É, a areia chupa a espuma. Ela sabe que Iemanjá ta brincando e gosta disso ... toda tarde, deixa Odoiá brincar mais e mais perto da calçada ... inteligente, a areia ... sente que, ao deixar Janaina ficar brincando em seu território, ta deixando os companheiros da solidão brincarem também .... filantrópico, isso ...)
Peguei um livro. Nem li .. quem é que quer ler se tem Odoiá pra prosear? Só os loucos ... só os solitários que não entendem que a solidão é sua companheira inseparável .... eu não. Entendi. Solidão companheira.
Você deve estar pensando que enlouqueci. Louqueci não! Entendi. Simples.
É bom poder pegar seu carro, sair, olhar, admirar, mirar .. flertar com o vento, os o calção vermelho ... com o calção branco .. com a bundinha de aspirina que fala “oi” sem compromisso ... flertar com a vida. Flertar contigo mesmo. Assim, simples.
Vê, tudo é simples.
O sol já estava indo embora .. quem precisava dele? Ele está de mau humor nesses dias .... férias. Não quer que o povo saiba que ele queima ... queima de inveja da gente que pode ficar assim, fazendo nada .. olhando o mar brincar .. olhando a areia brincar .. e brincar também .. com o mar, com a areia, com a espuma de sabão salgada .... com a brisa ...
Ei ... já tinha dito que viria morar aqui, porque aqui tem brisa. Ponto. Vim. Morei... moro .. morarei ... inveja? Cria coragem .... manda tudo às favas e pega sua mochila de dez real que ce comprô na vinte e cinco e vem embora ....
Lembra? O que você demora, é o que o tempo leva .... cuidado!
Ah .. de volta pra areia ... boa, ela, a areia ... fazia massagem nos meus pés .... brincava com eles ... e a solidão sorrindo e me fazendo feliz .. rir da vida, rir com a vida, rir na vida .. v i d a ...
É assim ... ser feliz na solidão é algo que conforta muito. Quem quer saber de alguém que não quer saber? Quer saber? Ninguém.
Quem quer viver, tem de aprender que a vida é simples, assim, simples. Solidão. Pronto. Ponto. E não estar solidão é estar solidão ... Conhece solidão compartilhada? Conheço! Ruim ...
Solidão compartilhada é pior do que a solidão, porque quando a solidão é compartilhada a sua solidão não é só sua .. é de dois, de três, de mil .. credo! Dividir a companheira solidão é muito ruim. Quero não.
Quero é solidar ... eu e a solidão brincando de ver a Janaina brincar de nos fazer companhia ...
E lembrar do tempo em que a vida era solidão compartilhada .. só pra dá risada dela ... da vida com solidão compartilhada ...
Ei, Augusto, ta vendo? Tem ingratidão não ... e antes que escarrem na sua boca .... pega a sua solidão ... e vai ser selvagem ... vai ver o mar ... vai nadar pelado .... vai brincar de ser feliz ...
E ser feliz ....
Assim ... simples, na companhia da solidão ... que te acompanha para onde quer que você vá ... porque é sua companheira.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Tevejohoje?Claro!

Natal, 14/07/2008.
O claro foi efusivo. CLARO. Gostei ... bom ouvir pela tela umas letras que dizem mais do que as palavras sonoras .. é .. tem letra que diz mais do que o som saído da boca .. claro que não saem com aquele calorzinho do ar da boca .. saem com outro calor .... um calor virtual (chata essa palavra, parece que não é real .. mas o que é real mesmo?) ... e para sentir o carlorzinho que sai da boca de quem fala um claro tão claro, é claro que tem de estar bem perto, c-l-a-r-o!!!
- To xato ..
- Ta não, ta com angústia ...
(ANGÚSTIA: Sabe, essa palavra é muito complicada de se explicar. Angústia .. é estranha .. o Luiz da Silva, - do Graciliano ... conhece não, devia! – sabe muito bem o que é isso ... neuras, cobras no quarto, o quintal, a rede, a solidão ... a solidão da alma .... é essa é a pior ... solidão da alma ... quero não!)
... novela .. beijinhos .. abraço .. calor da boca ... Gelatina.
- Qué de quê?
- De não sei que sabor é não ... (arrisca ... gosto de gente que arrisca ... )
(ARRISCAR: palavra interessante também. As pessoas arriscam .. tudo é arriscado .. mas a-riscado parece que é uma coisa que não vai ser estragada .. tenho um carro a-riscado, legal, né? Porque se está riscado, é assim, sem o a, fica feio.. então arriscar é coisa boa ... arrisca, vai?)
- To com estranheza ...
- Não, ta com estranheza não .. ta só com um jeito de que você não é você por completo agora ... normal .. ninguém tem de ser voceporcompletootempotodo ... tem? Não ... então, pronto!
(PRONTO: é legal perceber para que as pessoas usam pronto por aqui .. tudo é, entãopronto, .. e estar pronto é, também, uma coisa legal .. já pensou .. estou pronto pra viver ... estou pronto para morrer .. credo, será que alguém está pronto para morrer .. ninguém está pronto para morrer .... morrer é nãopronto .. ei, qué morrer? Quero não ... estou nãopronto para morrer .... porque estou pronto para viver. Pronto! Ponto.)
papo .. prosa .. diálogo ... monólogo .. diálogo ... música .. lálálálálá ...
- Ta cum sono? Quer dormir?
- Não ....
- Quer deitar no peito com neve?
- Quero ....
papo ... papo .. papo ... beijo (ei ... num to vendo as pintinhas ... ta escuro .. ei.... acabou o papo .. tem coisa mais legal para fazer .. beijo, beijo .. beijo .. chêro .. ei achei uma pintinha com a língua ...)
(LINGUA: essa é mais complicada : lingua, você fala essa língua? Não. Não estamos falando a mesma língua (metafórico, mas igual) e a língua .. a língua que acha pintinhas no escuro .. que sensação .. na língua .. é ... a sensação na língua deve ser mais legal do que a sensação na pintinha .. mas também tem sensação na pintinha ... tem, né? Comoéqueé?)
- Vamos brincar de ficar ligados pelo elo do ronco ... é o ronco é o elo ... lembra?
... sono ... sono .. ronco ... ronco .. sono .. sono ... (10 horas, 11 horas, 12 horas, 13 horas: Acorda. Traz uma corda, a corda!) .... biscoito.
- É doce sem ser doce ... (definição mais legal ... como é que alguma coisa é doce sem ser doce? Sei não .. cada definição mais definitiva e sem explicação na língua ... é, na língua, na primeira, na segunda, fácil. Para a línguaqueachapintinhasnoescuro é fácil. Tudo claro ... para a outra – essa que você ta lendo - nada faz sentido, burra ... )
- Te levo ...
de volta ... papéis, papéis .. papéis ... (ei, que vontade de por fogo nesses papéis que não me deixam bundar .. é, ospapeisnãodeixammebundar .. são cruéis, os papéis ... e o sol brilha .. a noiva nem tá triste nesses dias .. credo .. os papéis são como uma cadeia .. é .. chave de cadeia ... é assim que são os papéis ... lá fora, o sol, aqui, os papéis ... cruéis ... infiéis ... ilegais ... reais)
Ei .. para de divagar, para de devagar, corre! Os papéis estão fechando a porta ...
Ta bom .. vou roubar os papéis-chave-de-cadeia .. vão ser dominados ....
(Ta dominado, ta tudo dominado – A Tati, acho, se não for ela, é outra louca .. tudo dominado, bah!)
... e o pulso, ainda pulsa ....
Ah! Não to a fim de falar o que é legal ... legal é tão complicado .. e, das veiz, o legal é ser ilegal, ou é ilegal ser legal, sei não ... ce se vira com essa .... e com os papéis .... os seus papéis ... sabe, né?
Sabe não? Arrisque! Esqueça a angústia! E saiba, claro, que não to falando do papel que você usa para escrever a língua. Falei.. Pronto!.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Vinteeumahorassemacharruim

Natal, 13 de julho de 2008.

Só deixei você porque não quero que você tenha nenhum problema com seus amigos. Sabia, né, cute? Pois é ... não queria ... faz tempo que não sinto esse nãoqueria ... Será que isso é bom? .... não sei. Agora não queria mesmo. Queria você aqui. E isso é bom. Bom sentir esse nãoqueriaquevocêfosse...
- Ei .. escuta essa .. “sugar on the floor” .. lindo né?
- É ....
- Cê enjoou da voz da Etta?
- Não ... ela tem uma voz linda...
Não sei se está mentindo .. pode estar .. tudo bem. Mentir para agradar é justo. É certo. Pode....
- Sabe ... morria de medo da loira do banheiro ... e da mulher com olhos de algodão .... Um amigo disse que, se estivesse sentado no muro – sabe .. morava em casa ... sentava no muro ... - e olçhasse bem fixamente para o chão, a mulhercomolhosdealgodão viria me pegar e me levaria para lá, dentro da terra ... morria de medo ... tomava banho de porta aberta ...
- Bobagem ... num tem loira nenhuma e algodão são as nuvens ... é .. as nuvens são de algodão ... tão lá..... algodão .. E se a noiva ficar triste, chora algodão ....
- ei .. seu peito ta cheio de neve ....
- Bobagem .. nUm tem neve no nordeste ... tem brisa ...
- I´ve gotta be going ... don´t wanna to .. but have too …
- Gonna let u there ….
“There´s no need to argue .. anymore …
I gave u all could but u let me so sore ….”
- Lindo isso … tchau …

solidão …

- Oi .. preciso falar com você .... mudei ...
- É legal lá?
- Pensei em voltar para a casa da mãe ... a chefe me odeia ... precisa ver a casa nova ...
- Muito ruim?
- Hã!?!.... Não quero mais falar ... Tá me fazendo mal ...
- Passa em casa .. to de férias ... Cê sabe que não quero seu mal ... nunca quis.
...
Ei, cute ... (5 cervejas e nenhuma blitze depois) ... cadê você ...???
Nenuma mensagem ... cê bebeu? Tomou o vinho que falou? Dormiu?
... ei .. quero dormir de conchinha ... é ... de conchinha ... e roncar ...
As pessoas roncam. Simples. Roncam .. tão cansadas .. respiram .. deixam a alma vagar .. roncam para provar que estão ainda ali .. perto ... longe, mas perto ... o ronco é o elo ...
To cum saudades ...
- Ei .. por que o teclado ta dançando?
(xinco cervejas .... nenhuma blitze ... o carro na garagem ... a tv ligada para ninguém ...)
Ei .. o jardim está apagado ... não tem luz no jardim .. não tem cute ...
Ei, cute ... quero dar um beijo na sua pintinha ... na sua pintinha das costas, na sua pintinha do ombro, na sua pintinha do braço ... cute ... cê tem um monte de pintinha ...
Tinha uma criatura com 4 pintinhas nas costas .... olhei .. não eram as suas ... besteira ... não gostei ...
Não são as pintinhas, são as coisas que você fala .... é seu cheiro ....
- Cê ta com cheiro de sexo ...
- Como é isso?
- Assim... o cheiro que você ta agora ... cheiro de sexo ....
- Não to conseguindo ... por quê?
- Ce ficou brincando muito ontem ... to cansado ..fisicamente cansado .... acho que vou dormir .. e as pernas não vão brincar de pipoca ...
...
“If u´re lost u can look and you will find me .. time after time ..”
Não sei …. Acho que ninguém ta procurando para me encontrar ... “No one will find me” a Cindy que tava certa ....
“ it´s not real if you don´t feel it .. unspoken expectations , ideals we use to play with …”
- Eei .. quero fumar mais não .. to enjoado ... dá pra chegar aqui e brincar de dormir de conchinha?
... vou dormir ... e brincar que o travesseiro é a pérola ... conchinha de travesseiro de perola azul ....
- Ei, Lú, cê ta chegando né?
.... ah .... queria tá em Iracema ... vendo a Jana brincar de fazer bolhas de sabão no Ceará. Ou seria Seara .. é ... uma seara de espuma salgada .. ei cute .. vamos brincar de ilha? (A Hilda vai ficar brava ... deixa ela .. ta enterada em Campinas ... coitada .. nem viu a ilha cercada de espuma da Jana ...)
...trintaeoitomenosdezesseisigualavinteeum ...
dezesseis ... tudo bem ... nem ligo .. tem pintinhas prá brincar ...e espuma na areia ...

sábado, 12 de julho de 2008

Paratempo! Corretempo!

Natal, 12/07/2008.
- Cê tá onde?
- No carro .. se me levantar, mijo .... te ligo.
... tic tac tic tac tic tac tic tac …
- Fiz merda ….
… tic tac tic tac tic tac …
“obrigado por sua sinceridade, se eu já gostava muito de você, agora gosto mais ainda ...”
É assim, ninguém perde por ser verdadeiro, por ser franco, por segurar forte o pau na boca e dizer “chicoteie” ... e pensar consigo “não vou gritar” ... e não gritar.
As razões que nos levam a fazer as coisas que fazemos quando fazemos do jeito que fazemos e fazemos e fazemos não são razões explicáveis pela fazeção da coisa .... são explicáveis por nada que possa se pensar explicante ... são as nossas razões.
Arcar com os quetais de nossos quetais é um ponto importante nos quetais da vida, nos quintais da vida... Errar ... humano. Sim. Humanerrar.... e errar e errar e errar e errar e rar rar rar ... ar ar ar ... arfar. Ufar...
É ufar. Ufar é o verbo que usamos depois que fazemos o que temos de fazer mesmo que não queiramos, mesmo fazer .... é preciso fazer. Fiz. Ufa! ... Ufei.
Enfrentei de frente o que tinha de enfrentar ... fragilizei-me, fui frágil, fiz, fiz ...e agora. Consertar? N~]ao dá ... Uma fez feito. Ta feito. Vira um defeito. Assim, simples. Se foi feito, fica o defeito. Não interessa se foi bem feito ou mal feito. O fato é que foi feito. Não tem jeito. Abre o peito .... ponto ... Ufa.
Que será que faz com que as pessoas, as coisas e as palavras sejam como são? Que será que faz com que ficar por aí ufando e ufando seja algo tão difícil para todos os outros que não querem ufar?
... Sei lá ... Ufei. Doeu ... mas ufei. Fiz. Disse que fiz. E daí? Bem .... daí que agora é preciso desfazer? Não .. tem que carregar consigo o defeito de ter feito ....
- Bem feito! Diz alguém que não sabe ufar. Foi idiota: Bem feito.
Sim, bem feito mesmo.
Ei, sabe .. tem um travesseiro lá no catre que gosto de recostar minha cabeça nele todas as noites. É, eu o catre, o travesseiro. O corpo no catre, o catre no chão, o travesseiro sobre o catre e embaixo da minha cabeça que recosta no travesseiro recostado no catre recostado no chão.
E lá, acima da cabeça recostada no travesseiro recostado no catre recostado no chão não tem culpa.
Culpa. Guilty!
Sim Não vai abrir nenhum buraco no chão .. não tem culpapesada (ou seria pesadaculpa?).
A culpa é assim. Parece uma broca de furar parede de concreto ... começa parecendo um motorzinho de dentista (que já é desagradável) acaba parecendo uma britateira (insuportável).
Dê um tiro na culpa. Mata ela! Shot the guilt!
There´s nothing to be guiltuy of
Our love, will climb any mountain
Near or far,
We are …. É a Barbra Estráizand (assim, com d mudo para ficar mais chique, porque a gente não pronuncia o i no final da palavra ... cê sabe, né? Fica assim parece que você assoprou o beiço inferior – chique o ingreis ...)
Ah, por que eu lembrei da Barbra? Ah .. Para ficar mais chique .. não para lembrar que não há o que se culpar ... fez merda. Beleza ... esfrega a merda na parece. Não esfrega o sangue na parede.... O sangue vai causar mais impacto .. ..
E depois? Num sei ...
... tic tac tic tac tic tac ...
- Posso te pedir um favor?
- Pida!
Ei ... ce consegue entender que as coisas não são assim tão fáceis ... o tempo (É aquele que bate na porta da frente e tem inveja de mim porque sabe passar e eu não sei) é o único que pode dizer o que está certo e o que está errado. O tempo traz rugas ... e traz outras coisas também: pelanca ...
- Pede, vai?
- Dá para parar ou adiantar o tempo?
- Não.
Simples assim .... não pára. páratempo! páratempo! corretempo! corretempo!
Não, ele responde. Calmamente. No seu próprio tempo.

Donadastetascomleitedecoco

São Paulo, um dia qualquer de 2005.
- O que você está fazendo?
- Não interessa.
- Para quê essa tela? “Deve ser para aquele idiota”, pensa.
E erra .... lojas, tintas, lojas, tintas, pincéis, tintas, pincéis, ....
- Tem laranja? Me dá uma ...
... passos ... sol .... passos .. sol .. suor ... gente.
- Para que tudo isso?
- Para você pintar sua vida .... Ta aí, em branco. Pinta sua vida.
“Filho da puta!”, pensa. E erra. Quem chupa peitos de mãe de olhos azuis não é filho da puta. Porra, ta morta, ela ... nem tem vida para pintar ... Tem sim .. pode pintar uma tela preta com olhos azuis ... e tetas cheias de leite, ah .. só uma teta, arrancou uma ... e enterrou antes .... sórdido isso .... Pinta uma cicatriz também ... um queloma ... uma teta queloma ...
...
- Que tela é essa?
- Não interesa ... é minha ... “se perguntar de novo, solto uma barata bem na sua perna .. procê gritar feito louco pela casa” , pensa. Não precisa. Silêncio. Discovery Channel ...Vicky .... menta no ar .....
...
Casa nova ... um lugar para a tela ... uma cela para a tela .... a tela na cela .. que coisa. E a vida a ser pintada ... a pintora, na sela ... domando os leões que sempre cavalgou... ei, pega o pincel, pinta, tem tinta, sinta .. já passou dos trinta ...
tinta, trinta.... a tela, a cela, a sela ... aroma de macela ... (não é má cela, é macela, isso, a erva ..)
tenta ... não é de menta (este pedaço é daqui, é de menta ... que ridículo .. só para rimar (nada haver com Vicky) ... mas tem brisa aqui ... tem frisa .. tem lisa .. é .. tem cara lisa ... afagada pela brisa ...
... No dia que fui mais feliz, vi um avião se espelhar no seu olhar ... mulher sem razão, ouve seu homem, ouve seu coração ... batendo travado ... trava uma briga com os pincéis e pinta, tem tinta ... já falei ...
Ei, e as tetas .... vão crescer .. tem um cabeção a crescer a crescer a crescer a nascer, a viver, a saber a sofrer, a viver sofrer viver, e viver para não sofrer ...
E as tetas vão estourar ... tem leite ... e tem queloma .. ei cabeção, vô cuidá docê .. e não fique aí se rebolando todo na minha barriga não, que tenho que trabalhar para esquecer os quelomas ....
ah .... o avião .... se espelhando ....
Brás tiziul .... no Brás ill, sim ... ill .... illness que se cura com brisa ... e vendo o mar, não da frisa, mas das cadeiras da frente, de frente, rente, sente,
olha ... cura com brisa ... brisa que Janaina sopra ... sem bafo de nada porque ela não quer ser pega na blitze do álcool ... Lei seca até pára Janaína ... coitada .. até a champagne foi esquecida. Nos barquinhos que recebe, coca-cola zero .. nem água de coco ... ela tá louca de ódio .... Tem um Buchanas lá, mas só gosta de tomar com água de coco...
- Com cocacolazeroeunumtomo!, fala.
Daí, assopra com cheiro de Listerine ... é Jana é é assim, toda surpresa. Odoiá ...

Louca de pedra
Uma deusa de luz
Carente, claro!
Intimista,
Antagônica,
Nada tradicional ....
Adorada ... por todos ....

Ah ... ei cabeção, cê qué água de coco? Vô compra procê ... vai tomá leite com gosto de água de coco ... leite de coco na teta ... chique você ... e vai ter até brisa procê aqui ...
E procê donadastetascomleitedecoco tem o leite de coco, o coco, o xêro, o ombro, a brisa, a sodade -como diz a Cesária (analfabeta, ela, dialetal)-, o ombro, o amigo, o colega, o camarada, o irmão, o sermão ... o montão ... um mundão .... um refrão ...
E nada de chuva on your wedding day .... tem holliday ….
Xiii, não teve wedding day … mas teve tudo o que se pode ter (e todo mundo tem) depois do wedding day … mother in law, brother in law, tudo in-law … law ….
E a law, agora, é ser feliz … e ver o avião se espelhar no seu olhar ... porque quando um homem tem uma mangueira no quintal, ele não é goiaba ... (Foi a Vanessa, é aquela que é da Mata, e é Neguinha, mas não é de Oxossi, que falou) ...
E esperar a teta crescer, o cabeção nascer (com cara de joelho, claro!) ... e ser mãe, entre árvores e esquecimentos ... fora de todas as lógicas
... mãe, só ...
e feliz ... e sem ter que matar baratas ... papai não tem medo de barata, cabeção ... e você também não terá ... senão, salpico cacos de vidro no chão que engatinhaste, curumim que cresceu bebendo leite de coco na teta.
To brincando, filhodamãequetemtetacomleitedecoco, se tiver, mato procê ... o pai mata procê, a mãe mata procê ... Bê mata procê ....viu, curumim ... tem gente pra caralho pra protegê suncê ...
Dezessete, né? Ta chegando o avião para espelhar no meu olhar ... até sumir ... subir ... fruir ... usufruir ... Cansei, ta ficanu xato!
Ei, donadastetascomleitedecoco,
Trouxeste a chave da cela da tela?

Trouxeste a chave?

Natal, 10 de julho de 2008.

Trouxeste a chave? A pergunta não é minha. Claro. É do Carlos .... O Carlos tem umas bobagens ... que chave? Para que a chave? Fala, o doido, que é para entender as palavras... ele sabe que existe dicionário? Sei não ... sabe não ... sabes não ...
Prefiro achar que a chave é para eu sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas ... e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos ...
... outro doido....
Ser selvagem para quê? E quem é que quer ser qualquer porra entre esquecimentos ....
Não quero esquecer, não vou esquecer, não esqueço ... amorteço a lembrança com não-lembrança. É isso ... nada de não esquecer ... nãolembrar, estou nãolembrando ... e lembro ...
Lembro do tempo em que festejavam os dias dos meus anos ... entre a família ...
Xiii, menti. Não festejavam dias dos meus anos ... menti de novo .... trouxeram um bolo uma vez ... foi lá na cozinha, um bolo ... Parabéns pra você, nesta data querida ...
Mentira .... que data querida é essa? Ela, a mãe, se morrendo de dor ... as contrações dilacerando, dilatando a alma ... e o cabeção a sair, a gritar .. uneeéééééhhhhhh ... choro de criança .. bah!
“Droga ... mais uma infeliz boca para dar de cumê ...” pensa a mãe ...
Seus olhos azuis se retorcem. Teria ódio??? Não! Raiva ... raiva de ser incompetente e não ter conseguido (de novo!) matar aquela criança que crescia na sua barriga .... que ódio .. não, não era ódio, era raiva ... incompetência .... eita ... ser incompetente para matar deveria ser algo bom ...
Ah, a chave ... a chave era ter conseguido e não ter de passar por tudo isso de novo. Os peitos inchados ... leite .... ao menos isto teria .... era teta de 2 litros cada ... a criança iria ficar chupando, chupando, chupando, pegando na orelha .. é, o idiota só dorme se pegar na orelha .. Inferno ... e cortando o bico dos seios com aquela boca infeliz ... mais uma boca ...
A chave, trouxeste?
Não .. não tem chave ... tem clave ... tem grave, tem trave, tem brave ... é de bravear ...
Passar a vida braveando com tudo, sem medar nada, só bravear ... bravear ....
E o jardim sem nenhuma borboleta ... é ... as borboletas vão-se embora quando o jardim tá seco ... a chave da torneira que derrama a água do Pedro está sumida ... o Pedro nem quer saber, ta bêbado .. pegou a cerveja e nem deu pro coitado do faminto chupador de peito de mãe de olhos azuis ..
Também, a mãe de olhos azuis morreu, coitada! Tinha de morrer ... braveou, medou, morreu ... é ... e o povo que chupou seus peitos também já começa a morrer ... coitados, chupam peito, morrem.
E depois a Cesária fala que é doce morrer no mar ... só se for no mar dela .. o mar que conheço é salgado .... nada de doce ...
Só é doce ver a Janaina brincando de fazer espuma de sabão na beira da praia ... isso é doce ... e morrer também é doce ... doce amargo ... é, doido, tem doce amargo .... não conhece? Espere a sua vez ... vai sentir ... na morte, na sua e na dos seus ... morte que traz paz .... e traz dor ... dor e paz, paz na dor, dor na paz ... paz ... pás ...e a terra por cima .... singelo isso.
Depois cobre tudo de grama, fica tudo verde e seu nome aparece lá, na lápide ... Aqui jaz ... paz ... pás ...
...
...
E, ser selvagem .... na grama ...
(Será que as borboletas são selvagens?)

To medando ... ou não (como diria Caetano)

Natal, 9 de julho de 2008.
Cheguei em casa. Tô cansado. Tô bem .. é .... faz tempo que estar bem, como agora, não figurava na minha
cabeça oca e esbranquiçada pelas dores de viver ...
É, isso, mesmo, viver dá dores .. dá horrores, tremores, frisson ... mas sempre quis viver.
Ser grande é isso, saber que se quer viver e que se pode viver ... e viver não significa se despir .... ou se despindo
se vive, sei lá ....
Tem muitos jeitos de se despir ... o mais moderno, na net .... as pessoas despem-se na net .... despem-se de seu
caráter social para assumir seu outro (e melhor) caráter um caráter sem máscaras.
Encontro ...
- Oi ....
-Tava com medo de você ....
Desencontro ....
Roupas jogadas, almas despidas ... prazer.
É ... quem é você? Talvez você seja a chave da minha nudez ... e tô preocupado não ...
- Acabou o medo ....
É assim .. o medo se esvai quando dá lugar a outras coisas, coisas mais e menos importantes do que medar .
é, inventei de novo MEDAR .... eu medo, Tu medas, ele meda, nos medamos .... porra! você já entendeu.
Verbalizei o substantivo. Não gostou? Foda-se! Não entendeu que o verbalizar não é sinônimo de falar, se mate ...
É, se mate ... e quem sabe o mundo ganha mais alguma coisa ... a terra precisa de um certo adubo ...
Bem ... tô desnudo ..
E tô meio que sentindo uma vontade de me desnudar de novo ...
ei?!? Cadê minha chave? e foda-se quem dirigiu e escreveu "Toda nudez será castigada".
Não tô medando agora.

Escolhendo .. encolhendo ..

Natal, 08/07/2008.
É assim .... sempre temos de escolher o que faremos de nossas vidas, temos de saber
que queremos isto ou aquilo. Querer é poder, não! Tantas outras coisas estão no interstício
entre o querer e o poder ... o importante é saber. Sim. Saber. Saber que fazer o que queremos
é desgostar o que querem que façamos .... e fazer o que querem que façamos é desgostar o
que queremos ....
Não podemos esquecer de viver, de sentir, de querer .... de querer poder .... de saber que queremos
poder. E podemos.
Podemos sair pelas ruas, subir nos palanques, gritar, bradar, berrar, viscerar. É, viscerar.
Inventei, e daí .... eu posso inventar palavras e viscerá-las ao mundo.
Faço isso, viscero.
E ous outros, os outros não são os outros e só ... os outros visceram-me.
E eu ... aqui .... como uma nuvem que espera o tempo certo de derrramar.
É, vou me derramar. Me derramar na sua vida de tal forma que qualquer sol que queira
aparecer para me evaporar de ti será tapado por suas mãos que me afagarão .... que me
visitarão .... que me serão nossa. É .. sua mão será nossa.
Minha e sua ... nua.

Retrospectiva

São Paulo, 24/07/2004 (em retrospectiva)
- Oi ... está procurando alguma coisa?
- Ahh (pigarro na garganta) ... bemm ... não.
- Legal aqui, é?
- É ...
(...)
[no carro] ... pro amigo:
- Ei, você não quer esperar lá fora? Tá atrapalhando ...
[abaixa o ziper] ... gosta?
[pegação]
2005 ... 2006 ... 2007 ....
Natal, 02 de dezembro de 2007.
Oi ...
Tô aqui, pensando, pensando, pensando ... sofrendo. Todo o tempo que se passa a sofrer é um tempo bom.
Sofre-se porque se escolhe fazer as coisas, escolhe-se perder, escolhe-se ganhar, escolhe-se, encolhe-se ....
É a vida, encolher-se ... enconlher-se para viver, encolher-se para sofrer, encolher-se ... e esse se, aqui, é um nós,
um todo, um universo, um seiláoquê de coisas ....
Escolhi ... encolhi ... tô aqui ....
Você, não sei, tá por aí, no mundo, na vida, na lágrima ... aí ... por aí.
A vida passa, e passa tudo. É, passa, como com um ferro de engomar ... tudo fica liso.
A cara fica lisa (não de rugas, essas não são passáveis) ficamos lisos, frisos ... é ...
não ficamos lisos, ficamos frisos .... frisos ... frios ...fios ... fi ....
Tô, querendo saber de mim ... saber o que está em mim ...
Não sei... não quero mais saber.
Ei .. alguém tem um cerveja?

Não escrevo para você.

Natal, Um dia qualquer de 2008.

Ah ... hoje não estou com vontade de escrever para você,
quero escrever para mim. É isso mesmo. Preciso falar comigo.
E eu nem sei que sou para para escrever para mim mesmo, será que estou
enlouquecendo? Estou! E daí ... todo mundo é louco de uma certa forma e euvou ser louco para mim ....
Eu, moço, está me ouvindo? Está me lendo? É assim mesmo estamelendo, sem interrogação,
sem espaços, sem nada, simples, melendo ... eita, cortei o começo .... e daí ...
estou escrevendo para mim mesmo e posso cortar o que eu quiser. Eu mesmo vou ler e vou
colocar os pedacinhos que faltam nas palavras .... é isso mesmo: vou colocar os pedacinhos que
faltam .. em mim.
Falta e moção, vou lá, ponho um pedicinho de emoção ... e depois? Muita emoção, corto: moção.
Pronto. Tá ficando completo quando ira o e ... para que emoção se se pode ter apenas moção?
Porra ... tá chovendo .... vou tirar as gotas que caem do céu e vou ter um sol para olhar ...
ei, Pedrão, desliga a torneira!!!!!!